A ciência nossa de cada dia
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A ciência nossa de cada dia



Fúlvia D'Alessandri*

“Isso vai servir para quê?” Esta é a pergunta que nove em cada dez jornalistas costumam fazer toda vez que são escalados para entrevistar um cientista. Pode parecer natural que seja assim, mas essa pergunta, na realidade, esconde muito do que o chamado público “leigo” — como se convencionou chamar todos aqueles que não estão inseridos no mundo científico — pensa sobre a ciência.

Reproduzida pelos jornalistas, a visão de senso comum da ciência diz que todo conhecimento produzido pelo método científico é bom por si mesmo, redundando, num futuro próximo, em soluções para todos os problemas que afligem a humanidade.

Tal pensamento acaba determinando o que, dentre tudo aquilo que a Ciência produz, pode virar notícia ou não. Normalmente, a ciência que ganha as páginas dos jornais e, vez ou outra, as telas da TV, é a ciência das grandes descobertas, dos feitos e resultados mirabolantes (quase mágicos), fruto da “genialidade” de seres voltados unicamente para o bem estar da humanidade — os cientistas. E assim, sem perceber, somos todos sugados por esta onda exacerbadamente otimista e preocupantemente idealizada do fazer científico.

Como principais canais de divulgação da ciência, os veículos de comunicação não podem se eximir da responsabilidade de mostrar ao público uma ciência mais próxima da realidade.

Para que isso aconteça, é preciso que a cobertura da ciência não se limite aos seus resultados. Da mesma forma que acontece nas outras áreas do jornalismo (econômico, político, esportivo etc), é necessário que o lado vivo, dinâmico, humano da ciência também tenha seu espaço. Afinal, estamos falando de uma prática social, que, como tal, não está imune às influências existentes em todo ambiente social. A idéia de uma ciência “neutra”, portanto, está fora da realidade.

Em suma, antes de se maravilhar com as descobertas da ciência, é preciso que o público entenda, primeiro, como ela funciona. Só assim será possível imaginar um novo cenário, em que a ciência deixe de ser uma preocupação unicamente dos cientistas e dos políticos (responsáveis pelos investimentos públicos destinados ao setor) e passe a importar a todos os cidadãos.

Só uma população devidamente informada se sentirá capaz de interferir nas decisões políticas que determinam os caminhos seguidos pela ciência em seu país.

* Jornalista da UENF
(Artigo publicado em 03/01/08 no Jornal da Ciência)



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