O leite trava o cancro da mama?
Saúde

O leite trava o cancro da mama?



Já vai longe o dia em que escrevi o último artigo aqui no site, mas um acontecimento recente acordou o meu bichinho adormecido de blogger. Há coisa de uma semana foi divulgada uma notícia nos media acerca dos potenciais benefícios do leite na prevenção e tratamento do cancro mamário. Não é segredo para ninguém a minha posição relativamente ao leite de vaca… um rotundo NÃO. Mas nem sequer é sobre isso que vos venho falar. É assustadora a falta de cultura científica que algumas pessoas manifestam ou, pior ainda, a desonestidade que leva a extrapolar conclusões abusivas de um bom estudo conduzido por investigadores da Universidade do Minho.


Eu tomei conhecimento na notícia pelo jornal Público, que passo a citar:

Proteína do leite pode ser decisiva para travar cancro da mama 
Travar ou mesmo prevenir o aparecimento das células malignas responsáveis por alguns tipos de cancro da mama pode passar por um gesto tão simples como beber leite. A conclusão faz parte de um estudo conduzido pelo Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho, que acaba de ser publicado no Journal of Dairy Science. 
 A investigação, que foi conduzida por Lígia Rodrigues, permitiu descobrir que uma proteína do leite, a lactoferrina, é capaz de reduzir para metade a viabilidade das células cancerosas e em dois terços a sua proliferação. A equipa do estudo defende, por isso, que tanto o leite como os seus derivados sejam enriquecidos com esta proteína como forma de prevenir o cancro da mama ou de evitar que este se alastre no organismo.

Em Portugal, surgem todos os anos 4500 novos casos de cancro da mama e registam-se 1500 mortes. Apenas 1% dos casos são em homens, mas em geral os tumores são agressivos e não são detectados de forma precoce por desconhecimento dos doentes.

“Esta investigação é de particular relevância para a indústria alimentar. O consumo de leite e derivados, ou mesmo produtos enriquecidos com lactoferrina, pode no futuro constituir uma forma natural de prevenir o cancro de mama ou de melhorar o tratamento dos pacientes”, explica Lígia Rodrigues. A investigadora sublinha que esta proteína já tinha revelado um papel potencialmente importante noutros tipos de cancro, pelo que o futuro passará por perceber as doses ideais que devem ser incluídas na dieta humana.

A lactoferrina – uma glicoproteína – está presente no soro do leite e é capaz de se ligar ao ferro, pelo que pode ser encontrada em vários fluidos corporais, como sangue, lágrimas, saliva ou sémen. Esta proteína consegue inibir a proliferação celular e tem também propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, o que dificulta que as células malignas se reproduzam e se alastrem a outros órgãos sob a forma de metástases.

Apesar de a comunidade científica, em geral, reconhecer que a alimentação é um ponto chave na prevenção e tratamento de muitas doenças, a verdade é que ainda se sabe pouco sobre muitas substâncias que integram os alimentos.

Neste estudo em particular, a equipa olhou apenas para os efeitos da lactoferrina do leite bovino em duas linhas celulares de cancro de mama (HS578T e T47D), uma das quais não tem receptor de estrogéneos, tendo por isso um pior prognóstico perante os tratamentos que existem actualmente. “As células sem este receptor correspondem em geral a tipos de tumores mais agressivos, cuja terapêutica existente não é muito eficiente”, refere o estudo, pelo que uma resposta à lactoferrina “seria um relevante avanço científico”.

Já em Janeiro, uma equipa internacional de investigadores coordenada por uma portuguesa identificou compostos antioxidantes com maior capacidade de prevenção de cancros da mama e da pele presentes em produtos da dieta mediterrânica, conseguindo determinar as dosagens benéficas e danosas. Os compostos antioxidantes com efeito preventivo estudados estavam presentes em produtos como o azeite, vinho tinto, frutos frescos (nomeadamente os vermelhos), legumes e cereais, entre outros, segundo disse na altura Maria Paula Marques, da Universidade de Coimbra (UC), que coordena a equipa de investigadores.


Não me surpreende que estas notícias sejam escritas de forma sensacionalista dando ideia de que o leite de vaca pode ajudar a combater o cancro da mama. Afinal… é isso que vende. Mas assusta-me que alguns profissionais de saúde tenham pegado neste trabalho para justificarem as suas crenças.

Em primeiro lugar, convém sublinhar que se trata de um estudo feito em cultura de células… in vitro. Apesar da plausibilidade biológica que dele decorre, não é possível extrapolar para um organismo vivo como o Homem.

A quantidade de lactoferrina no leite de vaca é mínima. Ela está presente no soro de leite, que representa apenas 20% da proteína láctea bovina em peso seco. Mesmo dessa whey, menos de 1% é lactoferrina! Como diria um bom amigo meu, eu posso encontrar um bocado de alface no meio da me… fezes, mas quanta me… fezes tenho de comer para fazer uma salada?

Outro aspecto relevante prende-se com a exposição à proteina. Uma coisa é banhar células cancerosas em lactoferrina. Outra bem diferente é ingerir lactoferrina e esperar que o mesmo aconteça com células presentes no tecido mamário em concentrações equivalentes. Isto tudo claro admitindo que a lactoferrina não é digerida e que é absorvida intacta no intestino… assustador.

Não me vou alongar mais no comentário. Queria apenas expressar o meu repúdio pela má informação que muitas vezes é transmitida às pessoas. E o pior é que os profissionais de saúde a compram! Tive até uma pequena picardia no facebook com um nutricionista bem conhecido da nossa praça. Ele apagou um comentário inocente meu acerca das lacunas do estudo que usou para defender a sua posição… Ficou aborrecido. Não pretendo alimentar animosidades com pessoas que, até motivos em contrário e apesar da diferença de opinião, têm o meu respeito. Gostava apenas que passassem informação de qualidade, rigor e isenção.



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