Pregestimil® Premium: uma fórmula infantil com mil e uma utilidades?
Saúde

Pregestimil® Premium: uma fórmula infantil com mil e uma utilidades?









Pregestimil® Premium é uma formula infantil indicada para lactentes com dificuldade na absorção de gorduras e que também sejam sensíveis à proteínas intactas do leite. Para tal, sua fórmula contêm triglicerídeos de cadeia média e caseína hidrolisada e por isso pode ser considerada hipoalergênica, apesar de conter leite e soja. Não contém glúten e nem lactose e portanto também pode ser usada por lactentes com intolerância a lactose ou com doença celíaca. No entanto, será que este produto que abrange tantas necessidades especiais deve ser usado quando essas disfunções ocorrem separadamente?


Descrição do Produto

As fórmulas infantis são produtos na forma líquida ou em pó indicados para a substituição completa ou parcial da alimentação por leite materno. Esses produtos têm como público-alvo os lactentes e crianças de primeira infância, que são bastante vulneráveis e, por isso, há regulamentação específica para a fabricação, rotulagem e comercialização desses produtos.
O seu uso é recomendado quando ocorre alergia ou intolerância ao leite materno, ou qualquer outra intercorrência que leve ao descontinuamento da amamentação pela mãe. A necessidade de fazer a restrição de determinado nutriente, como a lactose, é exemplo de um dos casos em que se faz necessário o uso das fórmulas infantis.
No entanto, há uma vasta diversidade destes produtos no mercado, muitos deles se propondo “apenas” à mimetizar o leite materno. Algumas marcas proporcionam, inclusive, uma linha completa de produtos para cada faixa etária, com uma composição que irá atender às necessidades diárias de cada ingrediente acordo com a fase de crescimento da criança.
O Pregestimil® Premium é uma fórmula infantil indicada para lactentes com dificuldade na absorção de gorduras e sensíveis à proteínas intactas do leite, devendo ser usado, portanto, apenas nestes casos específicos. Os ingredientes foram selecionados visando facilitar a digestão e a absorção dos nutrientes da fórmula. Deve ser usado até, no máximo, um ano de idade, conforme indicado no rótulo.


Fundamentos Bromatológicos

As fórmulas infantis se propõem a mimetizar o leite materno, no entanto, a maioria dos produtos disponíveis não contém ingredientes semelhantes à composição original. A principal fonte de carboidrato do leite materno é lactose, mas há diversos outros açúcares como a galactose e a frutose.  A fonte proteica predominante é a lactoalbumina, também com a presença de outras proteínas em menor quantidade. Ainda conta com lipídeos, vitaminas, sais minerais e outros nutrientes em um balanço essencial para permitir boa biodisponibilidade e garantir que o lactente receba todos os nutrientes em quantidade necessária para seu desenvolvimento.
Já o leite de vaca tem como principal fonte proteica a caseína, que representa 80% das proteínas totais. As proteínas do soro estão presentes em cerca de 20%, e são a lactoalbumina e a lactoblobulina. Em pequena quantidade também há a presença de outras proteínas como a albumina,  peptonas e imunoglobulinas. Não só a composição mas também  a quantidade dos nutrientes é bastante diferente entre o leite materno e o de vaca, que tem três vezes mais proteínas e três vezes mais cálcio. O balanço entre os nutrientes do leite da vaca, de forma geral, é diferente e isso impossibilita que uma alimentação à base de leite de vaca seja adequada para um lactente.
Muitas das fórmulas infantis contém leite de vaca ou o usam como fonte para obtenção dos ingredientes. Alguns exemplos de como podemos encontrar isso no rótulo são: leite de vaca integral, leite desnatado, leite desmineralizado, proteína do leite da vaca, concentrado proteico de soro e proteína hidrolisada do soro do leite.  Resumindo, a principal fonte de proteína geralmente é a caseína. Já a fonte de carboidrato mais comum é algum tipo de amido. Alguns dos componentes que podem ser citados como fonte de carboidratos são: amido de milho, amido modificado, amido pré-gelatinisado, xarope de milho, maltodextrina, sacarose e lactose.
O Pregestimil® Premium tem como ingredientes principais os sólidos de xarope de milho, amido de milho modificado, caseína hidrolisada, triglicerídeos de cadeia média, óleo vegetal de soja, de milho e de cártamo, mistura de ácido araquidônico e ácido docosahaxaenóico. O produto não contém glúten, nem lactose.
A caseína é a principal responsável pela Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) e o seu uso na forma hidrolisada diminui a chance de uma resposta alérgica à formula infantil, visto que a probabilidade de algum dos epítopos (a porção que é reconhecida pelos anticorpos) estar integro é pequena. A proteína hidrolisada facilita a absorção, visto que a etapa de hidrólise que acontece no trato gastro-intestinal foi previamente realizada e que a proteína não é mais capaz de coagular quando seu ponto isoelétrico é atingido.
Os triglicerídeos de cadeia media sofrem hidrólise mais rápida e completa facilitando a absorção. No entanto, há a adição de dois ácidos graxos de cadeia longa específicos pois são essenciais no desenvolvimento do lactente, o DHA (ácido docosahaxaenóico) e o ARA (ácido araquidônico). O DHA é um ácido graxo ômega 3 contido no leite materno e em óleos de peixe. É importante para o desenvolvimento do recém nato pois compõe importantes tecidos do organismo. O ARA é um ácido graxo envolvido em muitas vias metabólicas e também é um dos constituintes das membranas plasmáticas.
A fórmula é considerada hipoalergênica também pelo fato de ser livre de glúten e lactose. O glúten é composto por gliadina e glutenina, duas proteínas presentes no trigo e não deve ser ingerido por pessoas com doença celíaca. É muito comum que se tenha dificuldade na absorção de alimentos que o contenham. A lactose normalmente seria o carboidrato de escolha para que a fórmula fosse o mais semelhante ao leite materno, no entanto, é muito comum que ocorram casos de intolerância ou alergia. A intolerância se caracteriza como a dificuldade do organismo em digerir a lactose por haver baixa presença de lactase e a alergia se caracteriza como uma reação imune à esse açúcar. Na fórmula em vez de lactose há amido, prevenindo esses efeitos adversos em lactentes susceptíveis.


Legislação


A portaria Nº 977 de 1998 define fórmulas infantis para lactentes da seguinte maneira: “Considera-se Fórmula Infantis para Lactentes o produto em forma líquida ou em pó, destinado a alimentação de lactentes, sob prescrição, em substituição total ou parcial do leite humano, para satisfação das necessidades nutricionais deste grupo etário. Excetuam-se as fórmulas destinadas a satisfazer necessidades dietoterápicas específicas.” No entanto, não é necessário prescrição médica para a compra deste tipo de produto, apesar de só ser encontrado em farmácias e, em teoria, ser sempre indicado por um médico. A definição exclui produtos para dietas especiais, mas muitas fórmulas infantis são desenvolvidas com esse objetivo, como é o caso do Pregestimil® Premium, que é indicado para lactentes com dificuldade na absorção intestinal. Apesar da definição, a portaria regulamenta os produtos para necessidades nutricionais especiais, exigindo que no rótulo não mencione o tipo de patologia para a qual é usada, mas sim as características da dieta. O produto em questão está de acordo com essa especificação. Já a RDC 222 de 2002 define mais especificamente como “fórmula infantil para necessidades dietoterápicas específicas”.
Um grave erro da portaria  977 de 1998 é usar o termo “lactante” em vez de “lactente” diversas vezes ao longo do texto quando se refere ao bebê, apesar de fazer a definição correta no início: “Lactente é a criança de zero a doze meses de idade incompletos”.


Análise

Os componentes, quando analisados de forma independente, podem não parecer os mais adequados para a alimentação de um lactente já que não são os mesmos do leite materno. Há a caseína hidrolisada quando o ideal seria a lactoalbumina, e amido em vez de lactose. Porém o Pregestimil® Premium tem como objetivo facilitar a digestão e por consequência a absorção de nutrientes por lactentes com essa dificuldade, por exemplo os que tem a Síndrome da Má Absorção. Considerando essa indicação o conjunto de nutrientes se torna interessante e apropriado. A caseína hidrolisada é mais facilmente absorvida por já ser clivada em peptídeos menores e não fazer um coágulo quando seu ponto isoelétrico é atingido, como acontece com a caseína intacta. Os ácidos graxos de cadeia média facilitam a absorção por terem cadeia menor. A adição de DHA e ARA garante que o lactente não seja privado dos ácidos graxos mais importantes para seu desenvolvimento. A ausência de lactose facilita a digestão por lactentes que têm intolerância e evita o aparecimento de alergia à esse açúcar. A ausência do glúten também contribui para que a fórmula seja hipoalergênica e de fácil digestão.
Uma observação interessante é que o rótulo do Pregestimil® Premium se difere do rótulo das demais fórmulas infantis na prateleira da farmácia. Não há imagens coloridas, divertidas ou que remetam ao mundo infantil. O seu rótulo parece tentar se assemelhar ao de um medicamento. Há advertência de que o produto só deve ser usado conforme recomendado pelo pediatra. As informações quanto aos ingredientes e modo de preparo se apresentam em uma linguagem técnica, que pode inclusive dificultar o entendimento pelo público consumidor em geral. Como é procurado por mães cujos filhos possuem uma enfermidade, isso pode ser uma forma de a empresa mostrar a seriedade do produto e gerar confiança na sua capacidade de atender às necessidades especiais do lactente em questão.


Conclusão

Os ingredientes desta fórmula, a princípio, podem parecem inapropriados por não serem semelhantes aos do leite materno ou por um excesso de restrições simultâneas. Mas quando analisados conjuntamente se aliam no propósito de facilitar a digestão, uma vez que o Pregestimil® Premium é indicado para lactentes com dificuldade na absorção de nutrientes e que também possam ser sensíveis à caseína intacta. O produto não se propõe a mil e uma utilidades, mas sim a atender uma necessidade em especial. Deve-se considerar que a dificuldade em absorver nutrientes é muitas vezes uma condição passageira e deve ser avaliada de forma a substituir a fórmula infantil assim que possível, considerando que as necessidades nutricionais também vão mudar de acordo com a idade da criança.


Referências Bibliográficas


Ministério da Saúde.  Portaria nº 977, de 05 de Dezembro de 1998. Regulamento Técnico para Fórmulas Infantis para Lactentes e de Seguimento. Diário Oficial da União, Brasília, republicada em 15 de abril de 1999.
Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC no 222, 05/agosto/1992. Regulamento Técnico para Promoção Comercial de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância.
Ministério da Saúde. Lei 11.265 de 03 de Janeiro de 2006. Regulamenta a comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e também a de produtos de puericultura correlatos.
Solé, Dirceu, et al. "Guia prático de diagnóstico e tratamento da Alergia às Proteínas do Leite de Vaca mediada pela imunoglobulina E." Rev. bras. alerg. imunopatol.–Vol 35.6 (2012).
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Stan, Codex. "Stan 72-1981." Standard for Infant Formula and Formulas for Special Medical Purposes Intended for Infants. Revised (2007).
Carvalho, L.E. et al “Identidade e Legislação de Alimentos Infantis”. In Carvalho, M.C. e Tamez, R.N. Amamentação: bases científicas 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
Carvalho, L.E. et al “Fórmula Infantil: ingredientes, mimetizações, signos e mercado”. In Carvalho, M.C. e Tamez, R.N. Amamentação: bases científicas 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

Autores: Laura Alves Gomes Sampaio
Leandro Gouveia Carneiro  
(Faculdade de Farmácia - UFRJ)



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