Saúde
‘Detergentes naturais’ contra poluição por petróleo
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Região do mangue de Gargaú |
Quanto tempo a natureza leva para consumir volumes de petróleo derramado em manguezais, importantes berçários da vida marinha, e que mecanismos ela usa para isto? A tese de doutorado da bióloga Rita Maria Costa Wetler Tonini, aprovada em dezembro de 2011 na UENF, ajuda a responder. Ela analisou o comportamento de bactérias que se alimentam do carbono presente nas moléculas de petróleo (chamadas petrófilas) e que existem naturalmente nos manguezais.
O estudo coletou amostras de sedimento de dois manguezais e inseriu 2% de petróleo em cada amostra para observar o comportamento das bactérias degradadoras. A tese teve a orientação do professor Carlos Eduardo de Rezende e a coorientação da professora Adriana Daudt Grativol, ambos do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF.
Detergentes naturais - Estudando duas amostras do mangue de Gargaú, na foz do Paraíba do Sul, e outras duas do mangue da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a bióloga constatou o aumento no número de bactérias produtoras de 'detergentes naturais' - chamados biossurfactantes - produzidos pelas próprias bactérias presentes no sedimento. As amostras, contaminadas com petróleo, foram submetidas à contagem de bactérias degradadoras (aquelas que consomem átomos de carbono das moléculas de petróleo) durante certos períodos de tempo: primeiro a cada sete dias, até completar quatro semanas; depois, quando já não era possível perceber visualmente o poluente, do 150º ao 178º dia, sempre uma vez por semana.
- No meu trabalho, o petróleo deixou de ser visualizado em cinco meses, mas a degradação ocorre mais rapidamente em laboratório do que no ambiente natural, porque eu forneci nutrientes e oxigênio, que aumentam o metabolismo das bactérias. Em condições naturais existem relatos de que a recuperação ocorre aproximadamente cinco anos depois do derramamento em um manguezal, mas isto varia muito. Depende do tipo de ambiente e também da quantidade de petróleo derramada – explica.
Rita WetlerTonini também avaliou a diversidade de espécies de bactérias presentes nas amostras antes e depois da contaminação. A análise foi feita nos prazos de sete, 14, 21, 28, 60, 90, 120 e 150 dias após a inserção do óleo. Os resultados demonstraram que antes da incubação com petróleo as amostras de Gargaú apresentaram maior diversidade bacteriana do que as da Baía de Guanabara (Gargaú ainda não foi atingido por derrames, ao contrário da Baía). Após sete dias de experimento, três das quatro amostras apresentaram redução da diversidade de espécies de bactérias, enquanto uma mostrou aumento.
No final da incubação, as amostras voltaram a apresentar índices de diversidade próximos dos iniciais. Porém muitas das espécies presentes eram diferentes daquelas encontradas antes do contato com o petróleo. Ao longo do experimento, todas as amostras apresentaram mudanças sucessivas nas espécies de bactéria, indicando que o poluente causou a morte de algumas espécies e estimulou o crescimento de outras. Além disso, os resultados sugerem que seja necessário um trabalho em conjunto por parte das bactérias para que a degradação ocorra.
- Os fatores ambientais são determinantes para o crescimento bacteriano na presença de petróleo - afirma a pesquisadora.
Rafaella Dutra / Gustavo Smiderle
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