Saúde
A serotonina, os BCAAs e a hipótese da fadiga central
Em desportos de longa duração dá-se por vezes um tipo de cansaço que nada tem a ver com o esgotamento das reservas energéticas - a fadiga central. Lembro-me que na minha primeira experiência como formador quando falei do papel dos BCAAs (aminoácidos de cadeia ramificada) neste processo. Um assunto que suscitou bastante interesse por parte da assistência. Um estudo agora publicado reaviva esta hipótese e demonstra o importante papel da serotonina no cansaço. Mas o que é a fadiga central?
Há mais de 80 anos que se reconhece este fenómeno entre os atletas. Trata-se de um cansaço que, ao invés de afectar os músculos, se desenvolver a nível do sistema nervoso e nos obriga a parar o exercício. Uma espécie de mecanismo de defesa quando o corpo percepciona um esforço demasiado exigente. Um interruptor que desliga quando começa começa a tornar-se perigoso. A serotonina parece ser o principal gatilho do processo, incapacitando os neurónios motores de transmitir mensagens aos músculos para contrair. E paramos...
A serotonina é produzida no cérebro a partir do triptofano. Este aminoácido circula no sangue ligado à albumina, algo que o distingue dos seus pares. Durante um exercício prolongado a intensidade moderada, a concentração de ácidos gordos livres em circulação aumenta devido à lipólise que se verifica no tecido adiposo. Estes ácidos gordos competem com o triptofano pela albumina, levando a que este se "separe" e aumente a sua concentração livre no sangue. Este triptofano livre passa a barreira hematoencefálica e é utilizado pelo cérebro para produzir serotonina, levando eventualmente à fadiga central.
E onde entram os BCAAs aqui afinal? Os BCAAs competem com o triptofano pelo transportador na barreira hemetoencefálica. Logo, aumentando a concentração de BCAAs no sangue através de suplementação é teoricamente possível diminuir o fluxo de triptofano para o cérebro. Digo teoricamente porque, apesar de alguns relatos da eficácia desta estratégia, os poucos estudos que existem nem revelam um grande benefício na performance.
Na verdade, as melhores bebidas de reposição para durante as provas de endurance (e pré) já contêm BCAAs. Lembro-me por exemplo do Pre-Workout Endurance da Gold Nutrition. Alega-se, e bem, que o músculo utiliza estes aminoácidos para gerar energia e que a suplementação tem um efeito anti-catabólico. Na verdade, a ingestão de glicose pouca consideravelmente os aminoácidos musculares, embora uma pequena percentagem da energia continue a derivar dos BCAAs, percentagem esta que diminui com a intensidade do esforço. Mas, se a hipótese da fadiga central for mais do que uma mera hipótese, o efeito ergogénico dos BCAAs poderá ir para além da sua função energética.
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