Aditivos no leite Parmalat produzido no Brasil
Saúde

Aditivos no leite Parmalat produzido no Brasil


O leite do tipo longa vida é um dos alimentos mais consumidos pela sociedade. Ele passa por tratamentos após ser coletado até chegar à prateleira e ser pronto para ser usado pelo consumidor. É necessário prestar atenção nos componentes que são algumas vezes acrescentados com o intuito de manter o leite consumível por um tempo maior. Essas substâncias citrato de sódio, tripolifosfato de sódio e fosfato trissódico são apenas encontradas no leite Parmalat produzido no Brasil. Por que o leite da marca Parmalat, quando produzido nos Estados Unidos, não apresenta estes componentes? Será que esses aditivos são realmente necessários? Será que o consumidor sabe o tipo de leite que ele está comprando? Este assunto foi trabalhado na aula sobre Preservação de Alimentos na nossa disciplina Bromatologia na FF/UFRJ, e eu estando nos EUA, no programa Ciência sem Fronteiras, aproveitei a oportunidade para verificar isso.
2. Apresentação do "Produto" - descrição, imagens, questionamento:
O leite do tipo longa vida da empresa Parmalat é produzido em vários países, inclusive no Brasil e nos Estados Unidos. Em ambos os países o leite é processado por uma técnica chamada Ultra High Temperature (UHT), a qual promove uma vida de prateleira maior. 
Tal efeito é obtido ao aquecer o leite até 138°C por apenas 2 segundos, pois nesse processo é eliminado todas as bactérias presentes no alimento e ainda é possível evitar perdas de vitaminas e nutrientes. Após tratamento, o leite é envasado nas embalagens tetrapark que são previamente esterilizadas e protegem o leite da presença de luz e ar, assim mantendo sabor e a temperatura por um tempo maior. 
Até essa parte de processamento e embalagem do leite, ambos países realizam de forma semelhante, entretanto todos os leites americanos mostram a classificação em que o leite comercializado se encontra, enquanto que no Brasil isso não ocorre. Esses tipos são A, B e C, os quais se diferem em quantidade de bactéria e tempo de meia vida.

Outra diferença é que os leites americanos não apresentam aditivos: citrato de sódio, tripolifosfato de sódio e fosfato trissódico. Todos possuem a função de controlar a acidez do produto e estabiliza-lo. As empresas americanas alegam que como o leite é tipo A e ainda é ultra pasteurizado, não é necessário nenhum tipo de conservante ou aditivo. 
Baseado nisso, então se é questionado qual é o motivo real desses aditivos estarem no produto. Como o tipo de leite não é demonstrado no rótulo, isso levanta a dúvida se o leite consumido do Brasil é de boa qualidade e o porque necessita de aditivos. 
3. Revisão Bibliográfica e Fundamentos Bromatológicos e/ou Toxicológicos:
Os tipos de leite encontrado no Brasil e nos Estados Unidos são:
Leite tipo A
A legislação brasileira só permite produção do leite tipo A em forma integral, onde o teor de gordura é mantido (5,6%), logo não existe leite do tipo A desnatado ou semi desnatado, cujo teor de gordura é de menos 0,5% e 0,2% respectivamente. Possui alta qualidade microbiológica e pode ser consumido somente se resfriado e armazenado de maneiras corretas até 7 dias após pasteurização. Ele não pode ser transportado cru, logo tem que ser pasteurizado e embalado na própria fazenda. Já a legislação americana admite que apenas o leite do tipo A é usado para vendas e consumo. Tendo que passar por uma série de testes e inspeções, como por exemplo, a fazenda que o produz é inspecionada a cada 6 meses e a contagem de bactérias no leite tipo A não pode exceder 750.000 células por mL. O leite deve ser resfriado ao ser colocado em toneis e ser resfriado até 7°C até 2 horas após extração. 
Leite tipo B
No Brasil este tipo de leite apresenta pequenas diferenças quando comparado com o leite tipo A. Como, por exemplo, a contagem de microorganismos se encontra em níveis mais elevados no momento da pasteurização, já que há um menor controle de higiene e refrigeração. O leite tipo B, também só é encontrado na forma integral. Nos Estados Unidos o leite tipo B é apenas usado para consumo indireto, como processamento de queijo. Possui uma contagem de bactérias maior e é resfriado ao ser colocado em toneis com água gelada. Há também a diferença nos testes de qualidade e de inspeção, no caso a fazenda que produz leite tipo B é inspecionada a cada 2 anos e é permitido que o leite tenha 300.000 bactérias por ml. 
Leite tipo C
Encontrado apenas no Brasil, e pode ser consumido na forma integral, semi-desnatado e desnatado. Ele é um leite que tem a mesma origem que o leite do tipo B, porém a diferença principal é que após ordenha o leite deve ser transportado até um estabelecimento industrial até às 10h do dia de sua obtenção, onde será processado. Tal fato aumenta o número de bactérias presentes no leite, ao ponto que pode modificar o sabor e aumentar acidez do alimento, diminuindo sua vida de prateleira. 
Esse nível elevado de bactéria é encontrado apenas antes da pasteurização, após sofrer o processamento por UHT, elas são mortas. Porém a alteração do sabor e da acidez já foi feita pelas células antes de serem mortas, então para atingir os padrões de qualidade indicados pela lei, é necessário acrescentar aditivos. 
Um aditivo muito utilizado é o citrato sódico, que tem a função controlar a acidez do leite e preservar o sabor. Já o tripolifosfato de sódio também possui habilidade de fazer um tampão que controla acidez. Enquanto que o fosfato trissódico é usado como antimicrobiano e controlador de acidez. 
Assim é necessário o uso de aditivos nesse tipo de leite, com o intuito de nivelar os níveis de acidez conforme dita a legislação e aumentar a vida de prateleira do produto. Porém esses reguladores de acidez podem causar efeitos adversos como, por exemplo, o citrato sódico e fosfato trissódico pode causar diarreia por aumentar a osmolaridade do bolo fecal. 
4.Analise frente à Legislação Pertinente (adequações à Lei; violações da Lei; críticas à Lei; sugestões para a Lei): 
A Instrução Normativa número 51, de 18/09/2002, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, contém os regulamentos técnicos de produção, identidade e qualidade dos diferentes tipos de leites, descritas a seguir: 
- Rolutagem: a seguinte denominação do produto deve constar na sua rotulagem, de acordo com o seu teor de gordura. Leite Pasteurizado tipo C ou A ou B Integral; Leite Pasteurizado tipo C Semidesnatado; Leite Pasteurizado tipo C Desnatado. 
- Aditivos e Coadjuvantes de Tecnologia/Elaboração: Não é permitida a utilização. Ao observar os rótulos do leite longa vida Parmalat, é possível ver que a empresa não segue o que está previsto em lei, pois não informa o tipo de leite que está vendido ao consumidor. 
A Portaria SVS/MS 540 de 27/10/97, define que: 
- aditivo alimentar é todo e qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos sem propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante a fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte ou manipulação de um alimento. 
É proibido o uso de aditivos quando: 
- houver evidências ou suspeita de que o mesmo não é seguro para o consumo pelo homem; 
- se interferir sensível e desfavoravelmente no valor nutritivo do alimento; 
- servir para encobrir falhar no processamento e ou nas técnicas de manipulação; 
- encobrir alteração ou adulteração da matéria prima ou do produto já elaborado; 
- quando não estiver autorizado por legislação específica. 
Como é possível perceber, existe a presença de aditivos em um alimento que a própria legislação aponta a proibição do uso desses produtos no leite. E o uso deles está sendo para encobrir uma falha da técnica de manipulação, que é a de processar o leite apenas no dia seguinte até às 10h da manhã, o que permite a proliferação de bactérias que alteram acidez do leite. 
5. Discussão:
É possível observar que há um choque sobre o que é dito na legislação e o que é realizado na prática pela empresa Parmalat e outras também responsáveis pela comercialização de leite. Visto que é necessário informar o tipo de leite que é vendido (tipo, A, B ou C) e também é necessário utilizar aditivos para “consertar” uma falha técnica que é o excesso de acidez que o leite tipo C possui. Sendo que estes estabilizantes quando em excesso podem causar mal estar ao consumidor.
Outro ponto que é importante considerar é as diferenças encontradas no leite americano e no leite brasileiro. Apesar de ambos passarem por processos semelhantes de esterilização e pasteurização, o leite americano ainda consegue ser vendido sem a presença de aditivos, pois o único tipo de leite que é comercializado para consumo direto é o leite tipo A. 
No Brasil, a legislação nesse caso deveria se basear nos americanos, e apenas vender leite tipo A que é muito mais higiênico e não necessita adição de estabilizantes de acidez. Na realidade o Brasil deveria vender o leite tipo A na forma de desnatado e semi-desnatado, pois na sua legislação informa que é possível realizar esse procedimento. Entretanto, não é o realizado por uma questão provavelmente financeira das empresas.
6. Conclusão e Recomendações: 
É possível concluir que o consumidor não sabe o tipo de leite que está bebendo. Ele também está menos ciente ainda das funções que os estabilizantes possuem e o mal que podem causar se consumidos em excesso. Por isso é necessário que a legislação seja cumprida e que no rótulo desses produtos estejam presente tais informações. 
É recomendado que as empresas fabricantes de leite passem a comercializar apenas o tipo A de leite, uma vez que eles possuem melhor qualidade e não necessitam de aditivos. Também é sugerido que a legislação seja atualizada e deixe de ser contraditória, assim se tornando mais eficiente e evitando que o consumidor pague por um produto de baixa qualidade. 
7. Bibliografia:
http://www.nutritotal.com.br/perguntas/?acao=bu&categoria=1&id=548
http://cienciadoleite.com.br/?action=1&a=48&type=1
http://www.leitebrasil.org.br/legislacao.htm
http://www.anvisa.gov.br/faqdinamica/index.asp?Secao=Usuario&usersecoes=28&userassunto=40 http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=experts-organic-milk-lasts-longer http://www.milk.co.uk/page.aspx?intPageID=43 http://www.ablv.org.br/5-Releases-Tipos-de-Leite-Longa-Vida.aspx



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