Saúde
Alimentação da nutriz
Os benefícios da amamentação, tanto para o bebê quanto para a mulher, já estão cientificamente comprovados. A adequada composição nutricional do leite materno torna este alimento ideal para o crescimento, desenvolvimento e sobrevivência do bebê e diminui o índice de mortalidade infantil. Os benefícios para a mulher que amamenta incluem retorno ao peso pré-gestacional mais precocemente e o menor sangramento uterino pós-parto (consequentemente, menos anemia), devido à involução uterina mais rápida provocada pela maior liberação de ocitocina, que é estimulada pela sucção precoce do bebê. Alguns estudos investigam ainda a comprovação da diminuição de risco de câncer, principalmente de mama.
Porém, o sucesso na amamentação depende também de outros fatores, tais como: aspectos psicossociais e culturais, esclarecimento, envolvimento, motivação e acompanhamento de profissionais de saúde preparados para lidar com as possíveis dificuldades desse período.
Muitas mulheres, ao darem à luz, sentem-se pressionadas a eliminarem os quilos ganhos durante a gestação imediatamente após o parto. O dilema da perda do peso adquirido durante a gravidez faz com que as mulheres sejam influenciadas pelas opiniões veiculadas na mídia, por pessoas que as cercam, por crenças e mitos culturais, e acabam se arriscando em dietas da moda, muitas vezes restritivas, sem acompanhamento nutricional. Por falta de conhecimento ou negligência, acabam se prejudicando e, principalmente, prejudicando o desenvolvimento adequado do bebê.
A Revista Boa Forma do mês de novembro de 2010 teve como matéria de capa a perda ponderal de 10Kg em dois meses da apresentadora Adriane Galisteu após o nascimento do filho. Segundo a reportagem, ela tem amamentado o bebê de três meses e buscou ajuda de um grupo especializado para enfrentar as dificuldades que teve com a amamentação, sem interrompê-la, como fazem muitas mulheres. A ingestão de água relatada está dentro da faixa recomendável.
Como mulher da mídia e preocupada com o corpo, a apresentadora buscou retornar a atividade física, fazer massagem e controlar a alimentação (diminuição do consumo de carne vermelha, doces e frituras). Porém, algumas questões importantes chamaram bastante a atenção, sendo o motivo da discussão deste texto. Apesar de relatar que tem conhecimento da necessidade de comer de três em três horas e não pular os lanches, ela afirma que nunca conseguiu cumprir essa recomendação.
Em um quadro na página da revista tem um modelo de cardápio realizado. Adriane realiza três refeições diariamente (desjejum, almoço e jantar), compostas de fruta, café, torrada ou bolo simples (sem recheio ou cobertura), salada, mix de legumes cozidos, carne branca grelhada e sopa. Apesar da reportagem não informar a quantidade ingerida de cada alimento, percebe-se uma baixa ingestão alimentar.
Fazendo um cálculo estimado em porções médias, nota-se que a ingestão energética diária da apresentadora pode estar em torno de 700 Kcal e as quantidades de ingestão de carboidratos, fibras, cálcio e vitaminas B1 e B2 podem estar abaixo dos valores de referência preconizados para uma nutriz saudável.
As necessidades nutricionais durante a lactação são maiores do que na gestação, pois é a fase do período reprodutivo de maior demanda energética, onde o lactente dobra seu peso quatro meses após o nascimento. O aumento do gasto energético está relacionado ao custo adicional necessário para a síntese e secreção do leite materno. Durante o período de amamentação, a nutriz tem suas necessidades energéticas aumentadas em cerca de 500 Kcal/dia para os primeiros 6 meses de lactação e de 400 kcal/dia nos meses subsequentes.
Esse valor adicional pode variar em função do estado materno pré-gestacional (baixo peso, peso adequado, sobrepeso ou obesa) e do ganho de peso durante a gestação e deve ser avaliado e prescrito pelo profissional nutricionista. Algumas fórmulas utilizadas para calcular a necessidade energética de uma pessoa saudável estimam que uma mulher com o peso, altura, idade e atividade física da apresentadora deve consumir em torno de 2000 Kcal/dia. Ou seja, uma lactante com este perfil deveria ingerir em média 2500 Kcal/dia.
A restrição energética não é recomendada durante a gravidez, nem no caso de mulheres obesas. Durante a lactação, algumas pesquisas indicam que o consumo deve ser no mínimo de 1800 Kcal/dia e advertem sobre o risco da prática de dietas com valor energético inferior a 1500 Kcal.
Os nutrientes mais críticos, em caso de baixa ingestão alimentar, são as vitaminas A, B1, B2, B6 e B12, uma vez que o consumo ou estoques maternos baixos afetam mais adversamente o bebê. Além disso, as reservas desses nutrientes no bebê são frequentemente baixas e rapidamente depletadas, tornando-as dependente do conteúdo do leite materno. O efeito da baixa ingestão de cálcio é a longo prazo na densidade óssea materna e não altera a concentração de cálcio no leite materno.
No pós-parto, quando o organismo da mulher está preparado para lactar, nem sempre ela consome a quantidade necessária de calorias para produzir o leite materno. Se estiver amamentando, o organismo irá retirar a reserva acumulada durante a gestação e da alimentação atual da mulher para fabricar o leite materno. A baixa ingestão alimentar pode gerar deficiências nutricionais na mãe e no bebê, provocar crescimento e desenvolvimento deficitário do bebê, com consequente desenvolvimento de doenças em ambos.
São vários os fatores associados com a variação da perda de peso no pós-parto, como os fatores dietéticos, ganho de peso gestacional, estado nutricional pré-gestacional, atividade física, tempo de lactação, idade materna, paridade, renda e escolaridade. Se a nutriz para de amamentar precocemente, conserva as calorias que seriam usadas para fabricar leite materno e conserva o peso ganho na gestação, demorando mais tempo para voltar ao peso pré-gestacional.
Mulheres eutróficas (com peso adequado), que ganham peso nas quantidades recomendadas, usualmente retornam aos seus pesos pré-gestacionais sem requerer nenhuma intervenção.
É esperado que as mulheres lactantes em amamentação exclusiva percam de 0,6 Kg a 0,8 Kg/ mês para os quatro a seis primeiros meses de lactação. Essa perda pode chegar a 500 g por semana e não interferir no crescimento do bebê. Valores superiores entre 2,0 kg a 3,0 kg/mês são considerados excessivos para as mulheres com peso dentro da faixa considerada saudável. Essa perda pode ser influenciada pela quantidade de ingestão calórica e pela prática ou não de atividade física.
A amamentação é um período prazeroso e benéfico para a mulher e para o bebê e não é o momento mais indicado para a prática de dietas alimentares restritivas, visando à perda de peso. As informações contidas na reportagem podem influenciar negativamente as leitoras, levando-as a seguir dieta alimentar semelhante. Recomenda-se que tanto gestantes como nutrizes sejam acompanhadas pelo profissional nutricionista, evitando se expor a riscos. Com acompanhamento nutricional adequado, a nutriz poderá seguir um plano alimentar individualizado e voltado para este momento da sua vida, que proporcionará eliminação gradativa do peso adquirido na gestação sem prejudicar a quantidade e qualidade nutricional do leite produzido.
Dentre as orientações gerais para uma nutriz, destacamos:
- Fazer uma alimentação fracionada em 6 vezes/dia, para garantir níveis glicêmicos constantes e nutrientes;
- Ingerir de 3 a 4 litros de água/dia;
- Aumentar a ingestão de verduras, legumes e frutas;
- Consumir alimentos fonte de ferro (carne e vegetais folhosos verde-escuro), alimentos fonte de cálcio (sardinha, salmão, brócolis, couve, semente de gergelim, amêndoa), e fonte de ácido fólico (peixes, brócolis, tomate, acelga, couve, rúcula);
- Consumir cereais integrais;
- Não consumir bebidas alcoólicas, nem fumar;
- Evitar o consumo de alimentos estimulantes, como café e alguns tipos de chá;
- Não consumir adoçantes
*Texto elaborado pela Dra Carolina de Morais Luiz Pereira, aluna bolsista do curso de Pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional pela VP Consultoria Nutricional/ Divisão Ensino e Pesquisa.
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