Há décadas que o padrão dos medicamentos usados para controlar a coagulação é a warfarina. A warfarina tem vários genéricos, inclusive um popular chamado Marevan. Não é caro. Quando um medicamento ou tratamento funciona bem e é usado por muito tempo, ele se transforma em padrão, em Inglês chamado até de padrão-ouro, gold standard. O Marevan tinha a virtude de ser relativamente barato e o grande problema de ter dezenas de interações, inclusive com alimentos. Por essas razões, medicamentos novos, candidatos a serem vendidos, teriam que superar a warfarina em alguma coisa.
O anticoagulante baseado no apixaban, desenvolvido pela Eliquis, provou ser eficiente. O medicamento foi pensado para um tipo de doenças cardiovasculares, as fibrilações atriais não valvulares. Nesse tipo de paciente reduz o risco de derrame e de embolias sistêmicas que, frequentemente são fatais ou incapacitantes.
A aprovação pela exigentíssima FDA nos Estados Unidos foi precedida por aprovações de órgãos semelhantes na Europa, no Canadá e no Japão.
A aprovação não é fácil. Mais de 18 mil pacientes participaram de uma pesquisa Fase III na que ficou demonstrado que os que tomavam apixaban tinham menos derrames do que os que tomavam warfarina. Porém, o medicamento apixaban não demonstrou ser superior a outro, baseado na enoxaparina (vendido nos Estados Unidos como Lovenox).
Há uma preocupação com as hemorragias: não sabem (ou ainda não sabem) como tratar as provocadas pelo apixaban. Pacientes com válvulas (próteses) no coração não devem usar esse medicamento.
Creio que esse medicamento vai rachar o grupo de pacientes no meio: a warfarina tem dezenas de interações, que se traduzem num “não pode isso, não pode aquilo”. Lista grande, mas é barata e muito bem conhecida. O apixaban tem menos interações, mas é mais caro e os pacientes devem acompanhar bem as perigosas hemorragias. Fale com seu cardiólogo.
GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ