As estatinas e o condicionamento físico
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As estatinas e o condicionamento físico



As estatinas, fármacos que reduzem o colesterol, são das drogas mais prescritas em todo o Mundo. Isto mesmo com as evidências crescentes de que podem não ser adequadas para toda a gente, se é que o são para alguém. São conhecidos os seus efeitos degenerativos no sistema nervoso e músculo, por exemplo. E se as estatinas influenciam negativamente o sistema músculo-esquelético, qual o seu impacto a nível do condicionamente físico? Uma equipa da Universidade de Missouri tratou de responder a esta questão num artigo publicado recentemente no Journal of the American College of Cardiology.


O condicionamente físico, ou fitness, é um indicador de longevidade e saúde. A actividade física é importante para a saúde metabólica e até reabilitação cardíaca. O que acontece se uma pessoa iniciar um programa de exercício enquanto toma estatinas? Nada de bom como devem imaginar... Segundo os resultados deste estudo, as estatinas bloqueiam a capacidade do exercício em melhorar o condicionamento cardiorespiratório.

Uma amostra de indivíduos obesos e sedentários foi submetida a um programa de exercício, dividida em dois braços experimentais: um grupo tomou 40 mg de simvastatina e o outro placebo. O grupo controlo melhorou a sua capacidade cardiorespiratória em cerca de 10%, comparativamente aos 1,5% do grupo com estatinas. Além disso, o número de mitocondrias no músculo diminui 4,5% neste último, contra os 13% de aumento verificado nos indivíduos que não tomaram estatinas, esta sim uma resposta normal ao programa de exercício.

Esta redução no número de mitocondrias é um parâmetro interessante que devemos olhar com atenção. O exercício físico, particularmente o "cardio", está normalmente associado a um aumento na biogénese mitocondrial que deriva da activação da AMPK e PGC1-alfa. Com estatinas observamos não apenas uma inibição deste processo, mas dados sugestivos de falência e degeneração mitocondrial. As estatinas inibem a via biossintética da Coenzima Q10, um composto muito importante na fisiologia e integridade das mitocondrias, o que pode explicar estes resultados. Pena que poucos médicos estejam alerta para esta questão, uma vez que a administração de CoQ10 com as estatinas pode resolver facilmente sintomas comuns de dor músculo-esquelética. 

Apesar de contarmos já com uns 20 anos de experiência com as estatinas como fármaco, é ainda pouco tempo para conhecermos a fundo todas as suas implicações a longo prazo. As evidências de que a sua utilização pode ter um preço elevado são crescentes e deve-mo-nos questionar se de facto vale a pena. Qual dos males o maior. Que este e outros estudos façam alguns médicos menos informados pensar duas vezes antes de passar a receita. Felizmente alguns já vão estando alerta para a questão.

Artigos relacionados:
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Referência:
Catherine R. Mikus, Leryn J. Boyle, Sarah J. Borengasser, et alSimvastatin impairs exercise training adaptationsJournal of the American College of Cardiology, 2013; DOI:10.1016/j.jacc.2013.02.074





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