"Eu ouvi uma história dinamarquesa. Lembre-se dela, deixe que ela se torne parte da sua consciência.
Essa história conta sobre uma aranha que vivia lá no alto, nos caibros do telhado de um velho celeiro.
Um dia ela desceu por um longo fio até uma viga mais baixa, onde descobriu que as moscas eram mais abundantes e mais fáceis de capturar.
Ela então, decidiu que passaria a viver nessa viga mais baixa e teceu ali uma confortável teia.
Mas um dia, ela reparou por acaso no longo fio que vinha de cima, mergulhado na escuridão lá em cima e disse: ' Eu não preciso mais desse fio. Ele só está atrapalhando'. Ela então, cortou o fio, e ao fazer isso, destruiu toda a sua teia, que era sustentada por esse fio.
Essa é também a história do ser humano.
Um fio liga você ao supremo, ao mais elevado - chame-o de Tao, existência, divindade. Você pode ter esquecido completamente que desceu por este fio.
Você veio do Todo e tem de voltar para lá. Tudo volta para a fonte original: tem de voltar.
Então, você pode até sentir o que esta aranha sentiu, que o fio que o liga ao plano mais elevado só está atrapalhando. Muitas vezes é por causa dele que você não pode fazer algumas coisas: ele sempre acaba ficando no meio do caminho.
Você não pode ser tão violento quanto gostaria; não pode ser tão agressivo quando gostaria; não pode odiar tanto quanto gostaria - o fio está sempre no caminho.
Às vezes você pode se sentir como essa aranha - com vontade de cortá-lo, de parti-lo como ela fez, para desobstruir o seu caminho. Foi isso que disse Nietzsche: 'Deus está morto'. Nietzsche partiu o fio. Mas em seguida enlouqueceu.
No momento em que ele disse: Deus está morto, ele enlouqueceu, porque rompeu a ligação com a fonte original de toda a vida.
Quando faz isso, a pessoa passa a ter fome de algo vital, essencial. Ela acaba perdendo alguma coisa e se esquece completamente que ela era a própria base da sua vida.
A aranha cortou o fio, e com isso, destruiu a própria teia, que era sustentada por esse fio."
Osho em O Cipreste no Jardim