Saúde
Candidíase
Cândida albicans ou monília é um fungo que vive no solo, nos vegetais e em animais, principalmente no aparelho digestivo de aves e do homem, sem causar danos. Determinadas condições propiciam a sua multiplicação, tornando-o agressivo.
O meio ideal para o crescimento deste parasita é o ácido, quente e úmido, tanto em superfícies quanto em líquidos, sendo, portanto, comum encontrá-lo no ser humano, vivendo em simbiose com nossa flora bacteriana de proteção, como um saprófita.
Homens, mulheres e crianças possuem o fungo em seu corpo. Quanto menores as defesas da pessoa, maior a possibilidade de uma infecção oportunista. Sendo assim, qualquer fator que diminua a imunidade pode levar a uma infecção fúngica (micose), denominada, neste caso, candidíase ou monilíase.
As regiões do corpo onde o fungo é encontrado e estão suscetíveis são:
-Pele, principalmente em dobras
-Mucosas genital e perianal (em ambos os sexos)
-No trato digestório: boca (popularmente chamado de sapinho), estômago e intestinos
-Bexiga e uretra
-Trato respiratório: fossas nasais, faringe laringe, traquéia, pulmão
Dentre estas áreas, a candidíase é mais frequente na genitália (ambos os sexos) e pele. Até um bebê pode adquiri-la.
No homem apresenta-se sob a forma de balanopostite (inflamação da glande e prepúcio). Balanite é inflamação da glande; postite é a inflamação do prepúcio.
A mulher é a maior vítima do fungo. Mais que a metade da população feminina apresenta mais de 2 episódios de candidíase ao ano. A prevalência em mulheres é 20 vezes maior que nos homens.
Existem várias espécies de cândida. Em todo o mundo prevalece como agente etiológico a cândida albicans (ou cândida sp), seguida por c. glabrata e c. parapsilosis, sendo que ainda existem a c. tropicallis, c. pseudotropicallis, c. stellatoidea, c. krusei e c. quilwermond.
Os países quentes dão condições perfeitas para a existência do fungo. No verão os casos triplicam. Nos países frios a incidência também é grande entre aqueles com precários hábitos higiênicos. Sendo assim, é um fungo que não elege faixa social. Certamente pessoas de baixa condição sócio-econômica são alvo desta contaminação, não exatamente por falta de higiene, mas por dificuldade de acesso a informações, à conscientização, ao atendimento médico, aquisição das medicações e à desnutrição.
Como é a candidíase?
Os sintomas e sinais apresentados em ambos os sexos são iguais, a despeito de faixa etária, porém alguns vão apresentar graus variáveis da micose. Neste artigo é ressaltada a candidíase vaginal e vulvar, mas nas outras áreas do corpo, a descrição vale para ambos os sexos.
E se tiver odor desagradável?
A mulher pode apresentar infecção por cândida associada a outras doenças. O fungo, neste caso, “aproveita” o ambiente já agredido para se instalar também.
Apenas como exemplo, comparando-se as características de alguns microorganismos, também comuns à mulher, sabe-se que secreções com odor fétido sugerem contaminação por cocos ou gardnerella vaginalis (vaginose bacteriana) ou, ainda, por trichomonas vaginalis (trichomoníase). Quando a infecção primária é por cândida, também podemos perceber odor, se houver fermentação, mas geralmente na candidíase vaginal o corrimento não tem cheiro intenso.
Fatores predisponentes para se adquirir candidíase:
- Hormônios:
Os estrogênios produzidos pelos ovários, na fase procriativa da mulher, ou os utilizados em anticoncepcionais e terapia hormonal para a menopausa, levam ao aumento do glicogênio no meio vaginal. Quanto maior o nível de estrogênio e do glicogênio, maior a tendência a candidíase.
Os bacilos de Doederlein (também chamados lactobacilos) fazem parte da flora vaginal e intestinal de proteção e transformam este glicogênio em ácido lático. Por isso a vagina tem PH baixo, ácido, o que protege esta cavidade contra bactérias do meio externo. O desequilíbrio desta flora predispõe à colpite micótica.
Na menopausa e na infância a frequência de candidíase é menor, mas como a micose tem vários fatores desencadeantes, não é incomum pessoas mais idosas e crianças a terem. A assadura do bebê, quando não causada pela urina contida na fralda em contato com a pele (dermatite amoniacal), tem como causa a candidíase.
- Uso de antibióticos
Os antibióticos são medicamentos que matam bactérias. Cândida albicans é fungo e não morre com antibiótico. Mas os antibióticos usados para combater alguma infecção bacteriana podem destruir as bactérias que protegem nosso corpo. Assim sendo, os fungos que nos habitam, uma vez que não são combatidos pelos microorganimos de proteção, passam a se multiplicar.
Após terapia antibiótica são frequentes casos de candidíase em intestino (geralmente causando diarréias) e em genitais, principalmente na vagina.
- Diabetes
Em diabéticos, quando a taxa de glicose está alta na corrente sanguínea, há o aumento da acidez no organismo. A candidíase de repetição no diabético sugere que o mesmo não esteja compensado de sua patologia, quando estão acontecendo frequentes episódios de hiperglicemia.
- Uso de corticóides
A ação dos corticoesteróides é necessária em várias doenças, tais como nas doenças autoimunes (como o lupus), doenças reumáticas, asma etc. Mas a corticoterapia tem efeito imunossupressor, ou seja, age inibindo a liberação de enzimas de certas células que habitualmente combateriam os fungos. Com isso, criam-se condições para o seu supercrescimento.
Um outro efeito colateral dos corticóides, com uso de longa duração, é o aumento da glicose no sangue (glicemia), que é fator predisponente a candidíase.
- Gravidez
Os estrogênios e os corticoesteróides naturais de nosso organismo estão aumentados durante a gravidez, da mesma forma que o glicogênio, fatores anteriormente assinalados como facilitadores ao aparecimento da doença.
A inflamação da vulva e da vagina por fungos é a queixa ginecológica mais comum na gestante. Os recursos terapêuticos para se combater o fungo durante gravidez ficam restritos, por haver contraindicação de certas medicações. Com isso, a ocorrência de candidíase se torna mais frequente.
- Anticoncepcionais
Os anticoncepcionais hormonais predispõem a mulher a candidíase da mesma forma que os fatores da gravidez. Quando a mulher apresenta recorrência desta infecção, é indicado o uso das doses mais baixas, ou mesmo a substituição por outros métodos contraceptivos.
- Transmissão sexual
Já foi dito que qualquer ser humano pode apresentar a infecção, mas a mulher está mais propensa a adquiri-la. Durante o ato sexual o parceiro (ou a parceira), contaminado(a) pelo fungo, pode ser transmissor(a) da doença. Da mesma forma que nos genitais, a contaminação pode vir
por via anal ou oral.
O preservativo só protege parcialmente o homem ou a mulher, uma vez que a área infectada pode estar fora de onde a borracha cobre: entre as pernas, entre as nádegas, no púbis, bolsa escrotal, vulva.
Mesmo que os sinais de candidíase sejam na mulher, é conveniente fazer o tratamento conjugal por profilaxia. Homens assintomáticos podem ser portadores do fungo e os transmitir à mulher ou, ao contrário, a mulher pode apresentar candidíase sem apresentar queixas e contaminar o parceiro.
- Imunodeficiência
A morbidade e mortalidade da candidíase estão diretamente relacionadas ao estado imunológico do(a) paciente. Torna-se difícil o tratamento quando a pessoa tem alguma doença crônica ou consuntiva concomitante, como é o caso da SIDA (AIDS), do câncer, na quimioterapia, quadros de carência nutricional, nos pacientes acamados por período prolongado ou internados em CTI.
A infecção sistêmica, acarretada pela disseminação do fungo através da corrente sanguínea, é o quadro mais grave. Há situações onde se faz necessário lançar mão de medicamentos antimicóticos, rotineiramente administrados, principalmente quando o doente já foi acometido pelo fungo.
- Hábitos nocivos
Duchas vaginais: A vagina tem sua flora bacteriana de proteção e não deve ser modificada com duchas vaginais, que muitas vezes são utilizadas com a intenção de higienizar esta cavidade. Toda vez que os lactobacilos são carreados ou destruídos, imediatamente o local é povoado por fungos e bactérias estranhas.
Desodorantes íntimos: sprays aromatizantes, perfumes e desodorantes íntimos podem retirar o manto gorduroso de proteção da pele e mucosas, além de mudar, para mais ou menos, o PH local. Deve-se usar apenas sabonetes neutros.
Vestimentas inadequadas: Para se manter a região perineal o mais protegida possível dos fungos, é importante que se use roupas que facilitem a transpiração, principalmente no clima quente.
Higiene pessoal: Tomar banho ainda é uma recomendação, que, a princípio, parece óbvia, mas muitas pessoas não gostam de tomar banho ou não sabem tomar banho.
Ao acordarmos, após uma noite de sono, estamos sujos, mesmo que não pareça. Estamos também sujos após um dia de trabalho. Deve-se, pelo menos, lavar a região genital e ânus, principalmente após a evacuação, uma vez que é do intestino que vem rica fonte de fungos.
O uso do papel higiniênico após a evacuação deve ser passado na direção dos genitais para o ânus, mas o mais importante é lavar-se a seguir.
Também é indicado tomar banho de corpo inteiro, além da escovação dos dentes e língua, previamente ao contato sexual e após o mesmo.
As calcinhas, cuecas, shorts e calças compridas devem ser trocados diariamente ou, até, mais de uma vez ao dia, ainda mais se a pessoa estiver com micose. Nossas roupas não precisam ser lavadas com água fervente, apenas sabão em pó ou detergentes, e secas de preferência ao sol. Roupas mal lavadas e que são secas em lugares úmidos, como o banheiro, mantêm o fungo no tecido.
Não se deve compartilhar roupas íntimas e toalhas com ninguém. Isso também vale para escovas de dente.
Banheiras e bidês, se não perfeitamente limpos, são povoados por microrganismos os mais variados, inclusive a cândida. A água das piscinas, quando bem tratada com cloro, que tem forte poder germicida, não oferece risco, porém não se pode dizer o mesmo fora dela.
Uma ressalva é que o cloro altera o PH da pele e mucosas, facilitando a autocontaminação pelo fungo, acrescido do uso de roupas de banho com tecido sintético, que mantêm umidade e calor no corpo. São alertas importantes para quem pratica natação ou é usuário de piscinas em clubes. A água do mar não carreia o fungo, mas é na areia que mora o perigo. Felizmente em nossa sociedade não são habituais os banhos comunitários em ofurôs ou banheiras.
Por falar em banheira, ninguém consegue se limpar tomando banho em uma, prática comum em países frios. É um raciocínio lógico, pois todos os nossos germes retirados do corpo estarão sobrenadando à nossa volta. Deve-se tomar banho de chuveiro antes.
Alimentação: Quanto mais saudável e rica for sua alimentação, melhor vai ser a imunidade do ser humano. Isso não significa que precisamos comer muito, mas comer com qualidade: carnes magras, verduras, frutas, legumes etc.
Quanto mais rica em açúcar e carboidratos for a dieta, maior o risco de crescimento de fungos no intestino, que, como já foi abordado, é habitat da cândida e por onde se pode adquiri-la para outras áreas do corpo.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico clínico da candídíase, na maioria das vezes, é fácil, pois os sinais e sintomas são muito característicos, mas ela pode ser confundida com outras doenças, principalmente em quadros graves ou exacerbados.
Toda vez que a mulher apresentar os sintomas, deve ser examinada. A cada semestre, deve ser realizada a colpocitologia, que é o exame de Papanicolau ou preventivo.
A pesquisa do fungo através de culturas especificas fica direcionada aos casos clínicos de difícil esclarecimento, para o diagnóstico diferencial com outras patologias.
Nos casos comuns temos variadas opções terapêuticas, que incluem cremes, pomadas, loções e medicação por via oral. O tempo de tratamento, a apresentação a ser usada e o esquema terapêutico devem estar de acordo com a conduta médica.
O paciente não deve se automedicar, ainda mais se está apresentando reincidências da micose. É necessário investigar os fatores causadores do problema.
As vacinas atuais não são específicas para a candidíase, mas, sim, imunomoduladores, que ajudam a combater a doença, aumentando a defesa celular contra o fungo.
Agradecemos à Dra Leila Marinho, especialista em ginecologia e obstetrícia, autora deste texto. Visite o site da Dra Leila
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