Chocolate: cacau ou açúcar?
Saúde

Chocolate: cacau ou açúcar?


Mundialmente consumido e apreciado, o chocolate se apresenta nas prateleiras sob diferentes tipos e formas para o consumidor. Feito a partir do cacau e seus derivados, outros ingredientes também o compõem, como o açúcar, presente em quantidades até muito maiores que a própria matéria-prima. Afinal, quanto de cacau realmente consumimos quando comemos uma barra de chocolate?

Por Ana Carolina Silveira e Carolina Miranda

APRESENTAÇÃO DO PRODUTO 
 Observando os corredores de mercados e grandes lojas de conveniência, percebemos a diversidade de sabores e tipos de chocolates vendidos no Brasil: chocolates ao leite, meio amargo, amargo, contendo pedaços de frutas e sementes, com flocos crocantes, “diets” e “lights” são alguns exemplos cotidianos, e que podem ser encontrados sob diversos tamanhos e formas – desde os pequenos bombons até os grandes ovos vendidos para a Páscoa.
Em diversas situações, associa-se o chocolate à imagem de um produto saudável, uma vez que a produção de chocolate tem como base o cacau, que é reconhecido pelo seu conteúdo de fitoquímicos que possuem efeito estimulante semelhante ao da cafeína (Hammerstone et al, 2009, apud Richter e Lannes, 2007), além dele aumentar a produção de serotonina. Além disso, pesquisas têm demonstrado que o cacau in natura, alguns produtos de cacau e o chocolate são altamente ricos em flavonóides, que são antioxidantes (Freedman et al, 2001, apud Richter e Lannes, 2007). No entanto, a maioria dos fabricantes não fornece no rótulo o percentual de massa de cacau, ou seus derivados, contido por grama de chocolate.
Paralelamente a isso, tem-se o açúcar como um ingrediente que representa, muitas vezes, uma porcentagem significativa da composição do produto, enquanto que existe um baixo percentual de cacau nos chocolates comercializados atualmente, pondo à prova se o que compramos é mesmo chocolate. Dessa forma, diante da falta de informação com relação às descrições dos rótulos, e a discrepância observada entre os teores dos ingredientes, principalmente o cacau, não é garantido ao consumidor que o mesmo esteja comprando um produto feito principalmente à base de cacau.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E FUNDAMENTOS BROMATOLÓGICOS E/OU TOXICOLÓGICOS
 A composição precisa do chocolate varia em todo o mundo devido à diferença de gostos e legislação, que se preocupa com as porcentagens de cacau e sólidos do leite adicionais, quantidade e tipos de gorduras vegetais permitidas (Richter e Lannes, 2007). Além de ingredientes derivados do cacau, podem ser inseridos na mistura outros ingredientes cujas aplicações podem ser tanto para otimizar o processo industrial de produção, como também aumentar a aceitação do consumidor quanto ao paladar, aspecto e conservação do produto final. Açúcares, leite em pó, leite condensado, sorbitol, gorduras, aromatizantes, edulcorantes e enzimas são alguns exemplos de substâncias comumente presentes.

ANÁLISE FRENTE À LEGISLAÇÃO PERTINENTE 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), através da Resolução RDC nº 264/2005, define que chocolate é o produto obtido a partir da mistura de derivados de cacau (Theobroma cacao L.), massa (ou pasta ou liquor) de cacau, cacau em pó e ou manteiga de cacau. Define-se massa de cacau como o produto obtido das amêndoas do cacau, e manteiga de cacau e cacau em pó como sendo os produtos obtidos da massa de amêndoas de cacau.
Segundo essa definição descrita pela resolução, é estabelecido ainda que o chocolate deve conter, no mínimo, 25% (g/100 g) de sólidos totais de cacau (ANVISA, 2005). Anteriormente, o teor mínimo aceitável era de 32% (CNNPA, 1978).

DISCUSSÃO
 Tomando como exemplo a barra de chocolate ao leite “Classic”, da Nestléâ: não há nenhuma porcentagem de cacau declarada na embalagem. O rótulo declara que tem 15g de açúcar em 25g de chocolate (porção).

Informações nutricionais
Rótulo do chocolate ao leite Nestlè Classic. Fonte: Nestlè

Aplicando uma regra de três simples, observamos que em 170g (massa total da barra), tem-se 102g de açúcar, o que equivale a 60% da barra inteira de chocolate. Esse porcentual de açúcar chega a um valor de 75% no chocolate da marca Hershey’sâ.

Rótulo do chocolate Hershey's ao leite. Fonte: The Hershey's Company

Segundo o próprio site da Nestléâ, os ingredientes desse produto constam de: açúcar, cacau, leite em pó integral, gordura vegetal, lactose, gordura anidra de leite, emulsificantes lecitina de soja e ricinoleato de glicerila e aromatizante. Baseando-se na legislação com relação ao teor mínimo de cacau (25%), teoricamente sobrariam 15%, que corresponderiam aos demais ingredientes, além do açúcar e cacau. Como não há exposição pelo fabricante da contribuição, em gramas, do cacau no produto, não podemos afirmar se o mesmo de fato contém mínimos 25% de cacau.
Em 2013, foi conduzida uma pesquisa pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) com as oito marcas de chocolates mais vendidas no Brasil — Arcorâ, Brasil Cacauâ, Cacau Showâ, Garotoâ, Hershey'sâ, Kopenhagenâ, Lactaâ e Nestléâ. Concluiu-se que a maioria não informa no rótulo a quantidade de cacau do produto. De acordo com o levantamento, entre os chocolates ao leite, apenas os da Cacau Showâ têm o percentual estampado na embalagem. O mesmo ocorre com chocolates meio amargo e amargo: de oito chocolates meio amargo, apenas três têm a informação no rótulo; e dentre as marcas de chocolate amargo, dois não têm o dado. Segundo afirma uma pesquisadora do Idec: "Seria muito importante que o teor de cacau viesse impresso no rótulo. Fica a sensação de que essa informação é uma estratégia de marketing, usada apenas quando isso é conveniente aos fabricantes."

CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
 A conclusão a que chegamos é que os consumidores de fato não sabem o que estão consumindo, já que a maioria dos fabricantes não expõe nos rótulos dos produtos o teor de cacau. Esta é uma informação básica, essencial e útil para quem está preocupado com o sabor e com a qualidade do chocolate. Assim, o questionamento por parte do consumidor quanto ao teor de cacau não é uma coisa absurda, tendo em vista que o produto em questão é feito de cacau. E vale lembrar: o Código de Defesa do Consumidor prevê que é direito básico do consumidor “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição (...)” (Brasil, 1990). Com o seu direito lesado, o consumidor compra o chocolate achando que está aproveitando os benefícios do cacau, quando na verdade está adquirindo para si apenas uma forma diferente e mais gostosa de comer açúcar, enganando o seu próprio paladar.
Segundo o Idec, ainda não existe nenhuma lei que obrigue as empresas a colocarem esse dado na embalagem, mas, para o Instituto, seria razoável que essa iniciativa partisse dos próprios fabricantes. A sugestão que fica, portanto, é de que sejam feitas mudanças na legislação vigente para tornar obrigatório o ato de expor essa informação, de forma a trazer para o consumidor mais clareza e guiá-lo na escolha do produto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




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