Saúde
Construção social do gênero: dimensões do envelhecimento de homens e mulheres
A maneira como homens e mulheres envelhecem é determinada predominantemente pelos construtos sociais, além da influência biológica (principalmente hormonal). O impacto da construção social durante todo o curso de vida é cumulativo e de importância singular no processo de envelhecimento dos indivíduos.
Por exemplo, diz o médico e gerontólogo Alexandre Kalache, “durante a infância, os meninos são presenteados com bolas e as meninas com bonecas, em franca alusão ao papel de cada um na sociedade”. Se as meninas cuidam de bonecas, futuramente cuidarão de pessoas. Por sua natureza biológica, a mulher consulta o médico ginecologista ao longo da vida, enquanto o homem não busca cuidado médico por iniciativa própria. Outra mensagem vem do mote “homem não chora”, como se homens não sentissem dor, não devessem se queixar, “portanto, não mostrar vulnerabilidade ou preocupar-se com promoção da saúde para diagnóstico precoce de doenças preveníveis”, afirmou Kalache durante o II Fórum Internacional de Longevidade realizado no Rio de Janeiro, nos dias 16 e 17 de outubro de 2014, com o tema “Envelhecimento e Gênero”.
O Fórum foi realizado sob a liderança de Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (International Longevity Centre Brazil - ILC-BR), em parceria com a Bradesco Seguros, Universidade Corporativa do Seguro (UniverSeg), Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe), Fórum Mundial Demográfico sobre Envelhecimento (World Demographic Forum on Ageing - WDA) e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
Painel sobre política, trabalho, finanças e seguridade social, começando da esquerda: Carolyn Bennet (Parlamento do Canadá); Shauna Olney (Organização Internacional do Trabalho); Ana Amélia Camarano (IPEA); Dalmer Hoskins (HelpAge International); Mara Luquet (jornalismo especializado em finanças, CBN/GloboNews); Alexandre Kalache (coordenador).
Mulheres e homens vivenciam o envelhecimento de formas diferentes
A estrutura do evento ofereceu um quadro geral das diferenças de gênero no mundo, a partir da perspectiva acadêmica, em amplo leque de temas, como a maior vulnerabilidade das mulheres diante da pobreza, dependência e incapacidade – características que podem ser relacionadas aos contextos culturais e formatos de Estado.
No Fórum a apresentação do grau de feminilidade ou masculinidade investigado em pesquisas multicêntricas, foi além de uma exposição teórica e agitou o público participante com um exercício que apura o quanto de feminino, masculino ou andrógino cada um carrega em si. Conjuntamente, a platéia descobriu e interagiu sobre as composições de homens e mulheres por elementos mistos que constituem preditores de saúde e bem estar, segundo os resultados da pesquisa.
A formação de um panorama global sobre gênero e envelhecimento nos sete continentes, foi proporcionada por representantes de organizações dedicadas a análises desses territórios. As perspectivas regionais tiveram coordenação do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e relatos sobre o Brasil (UNICAMP), América do Norte (Sociedade Americana de Gerontologia), Europa (Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa - UNECE), Australásia (Instituto de Pesquisas Médicas e de Saúde da Austrália do Sul), África (Mulheres & Legislação no Sul da África – Moçambique), Oriente Médio (Universidade de Oxford, Reino Unido) e Ásia (Conselho de Serviço Social de Hong Kong).
Política, trabalho, finanças, seguridade social, direitos de homens e mulheres em processo de envelhecimento, foram temas abordados em painéis conduzidos por representantes do Parlamento Canadense, Organização Internacional do Trabalho, HelpAge International, Rádio CBN/GloboNews.
A consolidação do debate incluiu discussão em grupos sobre as principais questões para a prática e as políticas e foi reportado em sessão plenária.
Central no Fórum, o documento resultante do trabalho desenvolvido pelos experts e discutido pelo público participante, a Carta sobre Gênero e Envelhecimento (Gender and Aging Charter) está recebendo ajustes, revisão final e tradução (elaborado originalmente em inglês) para posterior compartilhamento. Várias instituições parceiras e profissionais filiados a movimentos sociais assumiram o compromisso de disseminar para seus interlocutores. Quando a versão final estiver concluída, o ILC publicará em seu site e informará por mala direta e mídias digitais.
O fechamento do Fórum, na Conversa de Sofá, se inspirou no espírito otimista do octogenário Zuenir Ventura, jornalista e escritor, colunista do jornal O Globo, que recebeu o Prêmio Jabuti em 1995, na categoria reportagem, pelo livro Cidade Partida. Mas, foi o livro sobre a passagem do tempo que mais ocupou a conversa no sofá entre Zuenir e Alexandre Kalache. O livro organizado por Arthur Dapieve, “Conversa Sobre o Tempo”, traz diálogos de Zuenir Ventura com Luiz Fernando Veríssimo, ao mesmo tempo profundos e divertidos. Zuenir é o oitavo postulante da cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras, em sucessão ao romancista João Ubaldo Ribeiro, de quem era amigo próximo. Seu livro “1968: o Ano que Não Terminou” foi roteirizado para a minissérie Anos Rebeldes, produzida pela Rede Globo.
Nos dois dias de realização, o evento reuniu, entre experts e público, pesquisadores, executivos, mídia e outros interessados nacionais e internacionais na sede da Bradesco Seguros para debates sobre as questões interdisciplinares de gênero e envelhecimento. Os experts internacionais eram originários de organizações internacionais (UNFPA; OECD; UNECE; WHO; ILO; ILC-Argentina; HelpAge International); da academia (University of Surrey, UK; University of Montreal; University of Oxford; Wellness Institute, Adelaide); de associações e setores governamentais (American Gerontological Society; Canadian Parliament; Federal Social Security Department; Instituto Vital Brazil; Congresso Brasileiro; Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia); e instituições brasileiras (IPEA; CBN/Globo; Folha de São Paulo; Fundação Oswaldo Cruz; Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade de Campinas; Universidade de São Paulo).
O primeiro Fórum, em 2013, aconteceu no ano passado a partir de uma edição brasileira do Fórum Mundial de Demografia e Envelhecimento (WDA Forum), patrocinado pela Bradesco Seguros e organizado pelo ILC-BR conjuntamente com a Universidade Corporativa do Seguro (UniverSeg), o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe) e parceiros da academia, governo, organizações da sociedade civil e Nações Unidas.
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