Docetaxel foi aprovado pelo U.S. Food and Drug Administration há alguns anos. Algumas pesquisas publicadas desde 2004 demonstraram ganhos de dois a cinco meses adicionais sobre o que se esperaria que o paciente vivesse sem o tratamento . A dosagem e a intensidade ótimas podem variar de paciente para paciente.
A sobrevida não é o único benefício do taxotere. Outro benefício importante é a redução na dor, que pode ser intensa, resultante da metástase para os ossos. Porém, os efeitos colaterais também são pesados: mais da metade tinha fadiga. Outros comuns foram nausea, perda de cabelo e redução do bone marrow. 1/3 experimentaram diarréias. Há medidas e remédios que reduzem alguns desses efeitos indesejados.
Não há dúvida a respeito da baixa na qualidade da vida - seja com seja sem químio, taxotere, a qualidade é menor. Quase todos experimentam essa baixa. É escolher entre viver uns meses a mais com essas consequências, mas com menos dores, ou viver menos sem essas conseqüências, porém com mais dores.
Essas são decisões muito difíceis e um grande problema é quem deve tomá-las. Passei mais de três décadas numa cultura onde o paciente toma as decisões, informado pelo médico sobre as opções. É considerado um direito. Há uma preocupação com o que é chamado de patient empowerment, que implica em respeitar decisões tomadas por pacientes cuja capacidade emocional e psicológica não tenha sido afetada. Há culturas nas que os médicos decidem tudo pelo paciente. São tecno-autoritárias. Há outras nas que muitos familiares se adjudicam o direito de decidir, em conluio com os médicos, o que será feito e onde o paciente às vezes é mantido na ignorância a respeito de sua doença.
No Brasil há características sócio-demográficas que influenciam essas decisões. Passamos em pouco tempo de país essencialmente rural a rbano; houve uma grande ampliação da educação, sendo comum uma distância cognitiva entre as gerações. Pais e mães que estudaram menos do que filhos e filhas. Isso gera um suposto, de maior qualificação para decidir, que frequentemente é falso. Há áreas da medicina nas que a
velocidade do progresso e da inovação é alta e mesmo médicos que não estudam, não participam em congressos etc. ficam desatualizados. Nessas áreas a diferença de conhecimentos entre as gerações pode ser irrelevante.
Esses são momentos difíceis, dolorosos. Enfrento um deles: neste preciso momento minha mãe está em coma há duas semanas. As áreas "nobres" do cérebro não respondem ao eletro. Sou filho único e devo decidir por ela. É um fardo muito pesado.
No que concerne a continuidade ou não do tratamento químico, não há decisão óbvia e clara, que se imponha. Há ganhos e perdas. No meu sistema de valores, a responsabilidade das decisões cabe, em princípio, ao paciente, informado e amado por todos. É o paciente que deve optar se quer viver um pouco mais com menos dor, mas mais náuseas,fadiga etc, ou vice-versa. Do meu canto, o que nós leitores podemos fazer é orar por êle
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