A depressão é um manto escuro que envolve a pessoa, como uma espécie de teia silenciosa, formada por pensamentos ameaçadores de fracasso, derrotismo e diversos riscos. Trata-se de um mundo de horror que perturba de dia e assombra durante a noite. Esse processo fragmenta a alma, provocando a perder de contato consigo mesmo e com as forças que orientam o curso da vida.
A pessoa não se dá conta de que está à mercê de forças emocionais poderosas, produzidas por ela mesma. Essas forças arrastam para um ambiente interior, que se encontra desabitado da alma e dominado por emoções ruins, levando-a ao isolamento do mundo exterior e entregando-se aos sentimentos de desesperança, de medo, angústias e outros estados emocionais, que tornam os seus dias e noites um pesadelo. A entrada para esse mundo de horror é alargada pelas obsessões mentais e a saída é estreita. É necessário muita força de vontade e motivação, para romper essa barreira e voltar a interagir com a realidade.
O deprimido precisa muito de si para acionar a disposição e atravessar a estreita fenda de interação entre os mundos interno e externo. Esses componentes motivacionais são os mesmos necessários para a pessoa permanecer envolvida com o meio e ligada aos movimentos existenciais. Trata-se das forças de vida que acendem a vontade, a esperança e a positividade.
A chama de vida pode ser comparada com uma vela; ela precisa de ar (oxigênio) no ambiente para permanecer acesa. Basta uma corrente de vento para apagá-la. Analogamente, a pessoa deprimida precisa encontrar motivos para interagir com o meio, focalizando as condições promissoras para a sua existência, como se a chama da vontade fosse alimentada pelo ar do ambiente que a mantém acesa. Deve-se evitar as tormentas existenciais, que são como vendavais, apagando a sensível chama da disposição para agir. Essas turbulências levam ao desespero e ao recolhimento dentro de si, caindo novamente na depressão.
O deprimido não precisa de cobranças ou de obrigações do cotidiano, mas sim de condições apropriadas para despertar a sua luz da vida, tais como sugestões, convites, apresentações de possibilidades. Esses componentes exteriores são como a parafina da vela, necessária para manter a chama acesa. Não significa que as primeiras opções tenham adesão por parte do deprimido, mas elas vão compondo um campo de possibilidades, que ele se mova para fora de sua bolha comprimida pelas emoções negativas, e venha para a vida.
Tirar alguém da depressão é o mesmo que esculpir um ser para a vida. Cada movimento em sua direção deve ser suave como a mão de um artesão, valorizando sempre os componentes internos do Ser; tal qual a escultura possui a riqueza do material do qual ela é feita. Qualquer ajuda exterior ou de alguém é bem-vinda, mas o que o deprimido realmente precisa é dele mesmo.
Ele deve acionar as forças interiores, sua ignição da vontade é que o coloca para fora do seu marasmo existencial. Manter-se envolvido com as situações exteriores e resgatar o seu encantamento com os acontecimentos exteriores. Esses componentes interiores equivalem a parafina da vela e ao ar do ambiente que mantem a chama bem acesa. A manutenção desse estado deve ser baseada na condição interna de satisfação pelo dever cumprido, pela autoadmiração e auto apreço. Esses componentes positivos do Ser estão sufocados no deprimido. Ele privilegia as tormentas psíquicas e não manifesta os seus sentimentos positivos, tampouco esses atributos internos.
Para que a pessoa consiga fazer esse movimento interno que a tire da depressão, precisa de ajuda terapêutica e à vezes, até medicamentosa. Numa depressão leve, ela própria, com incentivo das pessoas em volta, pode superar esse quadro, porém, se ela não apresentar melhora, é fundamental procurar ajuda, antes de se tornar uma depressão profunda.
Valcapelli