Saúde
Envelhecimento e Atenção Primária à Saúde no Reino Unido – paralelos com o Brasil
O Médico de Família pode ser visto como um “condutor de orquestra”, segundo o médico britânico Patrick Hutt, que mostrou como seu país aposta em um sistema público, ancorado na Atenção Primária à Saúde e atento ao envelhecimento populacional.
A Inglaterra é um país envelhecido e foi o primeiro a desenvolver um “Sistema Nacional de Saúde” (The National Health Service – NHS), universal e articulado pela Atenção Primária. Com esse pioneirismo, suas práticas e políticas nessa área são experiências de relevância para o Brasil.
O Seminário “Atenção Primária à Saúde - mais necessária que nunca face ao envelhecimento populacional - a experiência britânica” foi realizado no dia 3 de setembro, terça-feira, de 09:30 às 12:00, no âmbito da parceria do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil) e do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE).
A exposição do médico britânico Dr. Patrick Hutt teve mediação do médico e gerontólogo, Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR, e debate com os convidados, o Superintendente de Atenção Primária, José Carlos Prado Jr., da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC), e a Professora Diana Maul de Carvalho, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
À esquerda, o Superintendentde Atenção Primária, José Carlos Prado Jr., da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC), com o convidado, médico britânico Patrick Hutt ao microfone.
Um mundo em processo de mudança
Ao discorrer sobre a Atenção Primária à Saúde como modelo “mais necessário que nunca”, Patrick Hutt tinha como ponto de partida o Relatório de 2008, da Organização Mundial da Saúde (OMS), “2008 – WHO: Primary Care Now More Than Ever”, que recomendava a renovação do nível primário de atenção para que oferecesse melhores respostas aos desafios da Saúde em um mundo em transformação.
Um desses desafios é o rápido processo de envelhecimento populacional – fenômeno global expresso nos indicadores demográficos de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Diante do “aumento das comorbidades que acompanham a pessoa idosa, as equipes de Saúde da Família levam em consideração as especificidades dos idosos”, diz Patrick Hutt.
Em sua apresentação, o Dr. Hutt propôs uma possível síntese da experiência britânica no campo da Saúde: “o NHS foi criado em 1948; desde o início a equipe de saúde da família é a ‘porta de entrada’ do Sistema; consolidou a prática generalista (General Practice); e vem se modernizando ao longo dos últimos 30 anos.”
A importância do papel do General Practitioner pode ser observada nos antecedentes do modelo e no destaque atribuído pela típica cultura britânica da “Realeza”, que estabeleceu em 1952 o Colégio de Médicos de Família (College of GPs); ampliou nos anos 60 o treinamento de GPs e em 1972 tornou o Colégio uma instituição Real (Royal College of GPs). Posteriormente foi criado um Departamento Acadêmico de Atenção Primária e, em 2008, foi determinada a obrigatoriedade de exame de seleção para todos os Médicos de Família.
Patrick Hutt frisou que há críticas ao NHS e insatisfações inerentes a um sistema que não é perfeito, sujeito a limitações de orçamento. “O sistema precisa fortalecer a Atenção Secundária – o cuidado intermediário; superar o déficit de financiamento e sua concentração em despesas hospitalares; assim como intensificar o treinamento das equipes”.
Ao final a exposição, Patrick Hutt anunciou que a próxima Conferência de Saúde Rural, da Organização Mundial de Médicos de Família (World Organization of National Colleges, Academies and Academic Associations of General Practitioners/Family Physicians - WONCA), será no Brasil, em Gramado, no período de 21-25 de maio de 2014.
Em debate
Entre os pontos abordados pela Professora Diana Maul: “o atendimento da Atenção Primária mais voltado à população de baixa renda; a contenção de custos e a forma como as pressões sociais determinam as práticas de saúde, tendo como exemplo a diminuição do parto normal e a adoção do parto cesáreo como padrão para os nascimentos”.
O Superintendente de Atenção Primária, José Carlos Prado Jr., ressaltou que a apresentação de Patrick Hutt mostra que “os países desenvolvidos não discutem mais o modelo de atenção”, fato que pôde constatar em visita técnica ao Canadá, onde a Atenção Primária à Saúde não mais está em discussão – ela funciona.
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