Agora, a felicidade é objeto de estudos sérios. É um tema que circula em todas as classes e centros, quase todos têm opinião sobre suas causas e consequências, mas até pouco tempo não era estudada cientificamente.
Agora é.
Entre os determinantes da felicidade, em sociedades orientadas para ao consumo, o salário aparece em primeiro lugar, mas a relação não é linear. Na Universidade de Princeton analisaram surveys e concluíram que ganhar 75 mil dólares por ano faz as pessoas felizes nos Estados Unidos. Porém, a partir deste nível, a relação é fraca: mais salario não significa mais felicidade. É um resultado ainda mais estranho por que a avaliação da própria vida responde a mais salario, mas a avaliação da própria felicidade não.
O caráter cultural dessa relação é intuitivo: em países pobres, a linha de corte, se houve uma, deve ser mais baixa.
E a jornada de trabalho? Simon Luechinger, um economista suíço, constatou que 33 horas semanais de trabalho é o que os trabalhadores querem e o que traz mais satisfação e felicidade. A partir dai as pessoas reclamam... na Suíça! Suponho sem poder provar por falta de dados que em países onde as jornadas são significativamente maiores, um corte de um ou duas horas semanais trará muita satisfação e felicidade. Estou sublinhando o caráter relativo da relação jornada/felicidade.
Nos países desenvolvidos, muitos dirigem ou vão de trem ou metro até o trabalho. Uma vez mais, economistas suíços entram em cena: descobriram que até 20 minutos de casa ao trabalho são aceitáveis. A partir dai, os trabalhadores chiam. Em megacidades como São Paulo e Rio de Janeiro, vinte minutos parecem um presente de Deus. O orçamento temporário de parte da população fica significativamente comprometido pelos problemas no tráfico e pela falta de transporte barato e adequado.
E os filhos? Alguma relação com a felicidade? Mikko Myrskylä e Rachel Margolis concluíram, com base em dados quantitativos, que ter um filho ou filha é uma fonte significativa de felicidade; um segundo ou uma segunda agrega mais felicidade, mas menos que o/a primeiro/a; a partir d@ terceir@ não há aumento da felicidade e, em um subconjunto, há diminuição.
Esses dados objetivam convencer os leitores de que a felicidade e suas correlatas podem ser estudadas objetivamente. Minhas ponderações foram no sentido de alertar para a sobre generalização. As regularidades empíricas que mencionamos não valem em todo tempo e lugar, e as variáveis mais significativas na determinação da felicidade também variam no tempo e no espaço e com a população estudada: não creio que sejam as mesmas para jovens e idosos.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ