Saúde
FIBROMIALGIA
Reconhecida como doença apenas em 1990, a fibromialgia ataca principalmente mulheres acima de 40 anos (há apenas 1 homem para cada 9 portadoras da síndrome nessa faixa etária). Os principais sintomas são dores generalizadas pelo corpo, fadiga crônica, sono não-restaurador, formigamento nas mãos e nos pés, enxaqueca e problemas intestinais. Uma vez que ainda não existe exame laboratorial que comprove a doença, o diagnóstico tem de ser feito a partir dos sintomas relatados pelo paciente e de um exame clínico que mede a sensibilidade à dor em 18 pontos espalhados pelo corpo. “Para um paciente ser diagnosticado como fibromiálgico, ele precisa se queixar de dor difusa há mais de três meses, ter distúrbios no sono e apresentar sensibilidade em pelo menos 11 dos 18 pontos do exame clínico”, explica Jamil Natour, reumatologista da Unifesp. Como os sintomas da fibromialgia são parecidos com os de outras patologias (de tendinite e gota a lúpus, hipotireodismo e até esclerose múltipla) e como nem todos os médicos conhecem a síndrome, os pacientes podem sofrer anos até obter o diagnóstico.
Sintomas mais comuns
1. Dor generalizada pelo corpo por, pelo menos, três meses.
2. Sono inquieto, superficial e não-restaurador (o paciente já acorda cansado).
3. Cansaço, perda de energia e diminuição da resistência a exercícios físicos.
4. Cólon irritado (diarréia alternada com prisões de ventre) e outras disfunções intestinais.
5. Formigamento e dormência nos braços, pernas, rosto e, sobretudo, nas mãos e nos pés.
6. Depressão de ansiedade crônicas.
7. Cefaléia
8. Sensação de inchaço nas articulações.
9. Rigidez muscular.
10. Desconforto diante de mudanças
Tipos de Tratamento
1. Uso de antidepressivos tricíclicos para aumentar a vida útil da serotonina. A dosagem é menor do que para pacientes com depressão e tem efeito analgésico e de relaxante muscular.
2. Uso de analgésico leve para interromper o ciclo da dor. Indicado em casos de crises agudas, tem efeito temporário.
3. Exercícios físicos de baixo impacto (sobretudo caminhadas ou natação) para aumentar a produção da endorfina e melhorar a oxigenação muscular.
4. Alongamento para aliviar a sensação de dor provocada pela contração muscular excessiva, comum em pacientes com fibromialgia.
5. Acupuntura para melhorar a qualidade do sono, estimular a produção de serotonina e endorfina e combater a depressão e a ansiedade.
6. Redução das situações de estresse procurando fazer pequenas pausas de descanso ao longo do dia para evitar a fadiga.
7. Técnicas de relaxamento: ioga, meditação, massagem e hidroterapia (a água também ameniza a dor).
Fatores de Risco
1. Falta de condicionamento físico: o sedentarismo é apontado como o principal fator de risco. “Pouquíssimos atletas desenvolvem fibromialgia”, diz Jamil Natour, reumatologista da Unifesp.
2. Mudanças hormonais como incidência de fibromialgia são maiores em mulheres que estão entrando na menopausa: os pesquisadores suspeitam que as mudanças hormonais estejam entre os fatores que desencadeiam a doença.
3. Estresse e traumas emocionais: um acidente de carro pode estimular o aparecimento da doença.
4. Doenças infecciosas: há vários relatos de pacientes que desenvolveram fibromialgia depois de serem acometidos por doenças infecciosas.
5. Hereditariedade: filhos de fibromialgicos têm mais chances de desenvolver a doença, mas os pesquisadores não sabem se o fator de risco é o estilo de vida da família ou a genética.
Sem cura
Embora ainda não tenha sido descoberta cura para a fibromialgia, há casos em que os sintomas retrocedem quase totalmente. A prática de alongamento e de exercícios físicos de baixa intensidade, aliada ao uso de analgésicos e de antidepressivos tricíclicos, tem sido a forma de tratamento mais bem-sucedida. Acupuntura, hidroterapia e outras técnicas que combatem a ansiedade e depressão também são usadas, sobretudo em pacientes que não respondem bem ao tratamento convencional.
“Como ainda não sabemos com precisão o que causa a fibromialgia, fica difícil pesquisar como curá-la”, explica Natour. O que os cientistas sabem de concreto é que os fibromiálgicos tem menos serotonina (neuro-transmissor que regula a sensação de dor) do que as pessoas normais e que apresentam um distúrbio que encurta a fase de sono profundo e impede que o corpo descanse, provocando fadiga e hipersensibilidade. “Falta descobrir por que isso ocorre”, diz o acupunturista Hong Jin Pai, do Centro da Dor do Hospital das Clínicas.
Pesquisadores da Universidade do Texas (EUA) descobriram no ano passado que os portadores de fibromialgia tem de duas a três vezes menos substância P (também envolvida no controle da dor) do que o normal. A descoberta vai ajudar a diagnosticar com mais precisão a doença. “Eles desenvolveram um kit que permite testar o nível de substância P para saber se a pessoa tem fibromialgia. Mas o exame ainda não chegou ao Brasil”, diz a fisiatria Helena Kaziyama, do HC. Já foi comprovado que mulheres na fase da menopausa, pessoas submetidas a estresse físico ou emocional e sedentários estão mais sujeitos a desenvolver a doença. Vícios de postura e até acidentes de carro também foram relacionados à doença.
Fibromialgia é confundida com LER
No começo de 99, o reumatologista Jamil Natour, da Unifesp, pôde observar na prática como a fibromialgia é ainda desconhecida. A pedido de uma metalúrgica de Guarulhos (SP), o médico e sua equipe investigaram se os funcionários diagnosticados com LER (Lesão por Esforço Repetitivo) tinham de fato lesões ou inflamações nos músculos e tendões. Entre os 40 metalúrgicos com LER pesquisados 60% tinham, na verdade, fibromialgia. “Isso mostra como os médicos do trabalho ainda não conhecem a doença. Como esses metalúrgicos, muitos trabalhadores que têm fibromialgia recebem o diagnóstico errado e continuam sofrendo porque não são tratados adequadamente”, diz Natour. Enquanto os exercícios repetitivos, a má postura e o uso da força são as principais causas da LER, ainda não se sabe a origem da fibromialgia. A única semelhança entre as duas doenças é a dor. “Mas, na LER, a dor é localizada e, na fibromialgia, difusa”, diz a reumatologista Rita Beltrami. Tendinite (inflamação nos tendões), tenossinovite (inflamação de bainha de tendão) e a lombalgia (dores nas costas) são as lesões mais comuns em casos de LER.
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