Saúde
Ginkgo biloba: o que é e para que serve
Hoje escrevo-vos sobre um tema diferente do habitual, mas ainda assim relacionado com o espírito do blog – saúde (caso ainda não tenham reparado, embora alguns devam achar que vos quero matar). Existem inúmeros suplementos alimentares à base de plantas com alegada acção terapêutica, e uma das mais estudadas é a Ginkgo biloba. Os seus efeitos a nível do sistema circulatório são reconhecidos, sendo indicada para o tratamento de doenças vasculares com algum sucesso. Os potenciais efeitos a nível cognitivo derivam essencialmente do melhoramento da irrigação cerebral, embora possa também ter uma acção a nível dos neurotransmissores. Aproximando-se o frio, e as crises vasculares tão comuns, não há melhor altura para falar um pouco desta planta milenar e dos suplementos que existem no mercado.
A Ginkgo biloba é uma árvore de origem Oriental, provavelmente uma das mais antigas ainda entre nós. Considerada um “fóssil vivo”, já existia na Era dos dinossauros há mais de 200 milhões de anos. A sua resistência é notória, o que ficou bem patente na explosão atómica de Hiroshima. Apenas a Ginkgo biloba brotou semanas após o ataque, resistindo à forte radiação que ainda contaminava o terreno. Há milhares de anos que é usada como fitoterapêutico, com efeitos a nível da circulação e função cognitiva, algo que a medicina convencional veio a descobrir milénios mais tarde.
O que faz da Ginkgo biloba tão especial? Trata-se de uma planta muito rica em flavonoides (glicosídeos) e terpenoides (terpeno-lactonas), compostos com acção biológica no organismo. Os flavonoides são potentes anti-oxidantes, que conferem a elevada resistência da planta às agressões ambientais. No nosso organismo conferem igualmente um efeito anti-oxidante protector em casos de desequilíbrio oxidativo. Além disso, a Ginkgo biloba tem uma acção anti-inflamatória que se deve à inbição do factor de agregação plaquetária (PAF) e estimulação de prostaciclinas no endotélio.
Mas são as doenças vasculares que mais parecem beneficiar do tratamento com extracto de Ginkgo biloba. Tal como o nome indica, para além de pró-inflamatório o PAF é também pró-trombótico/agregante, aumentando a viscosidade do sangue e risco de trombo. Os compostos bioactivos da Ginkgo biloba contrariam esta acção, melhorando substancialmente a circulação periférica. Além disso, sabe-se que estimula o factor de relaxamento endotelial (EDRF) [link], a via do óxido nítrico [link] e a prostaciclina, reguladores hemodinâmicos que promovem vasodilação e aumento do fluxo sanguíneo. Tudo isto contribui para uma perfusão sanguínea mais eficiente dos tecidos, em especial extremidades e cérebro, regiões muito afectadas pelos problemas microvasculares.
Podemos dividir o sistema vascular em duas partes: macrovascular e microvascular. O sistema macrovascular é constituído pelas grandes artérias e veias que asseguram o fluxo de sangue entre os órgãos e o coração. A microvasculatura são os pequenos capilares que irrigam os órgãos e tecidos, fornecendo-lhes nutrientes e oxigénio, e removendo CO2 e os produtos do catabolismo celular. Este sistema microvascular é um dos primeiros a sofrer com um estilo de vida de risco e com o envelhecimento. Em consequência, a capacidade de irrigar os tecidos periféricos reduz, originando doenças e sintomas de insuficiência vascular como a claudicação intermitente, frieiras, zumbido no ouvido (fluxo inadequado de sangue para o ouvido interno), acrocianose, diminuição da capacidade cognitiva (irrigação insuficiente do cérebro), extremidades frias, edema inferior, etc.
A Ginkgo biloba parece ter uma acção bastante positiva a nível da função hemodinâmica e hemóstase (coagulação, viscosidade e trombogénese) [link]. Ao promover uma irrigação eficiente dos tecidos, grande parte dos sintomas da insuficiência vascular observam melhorias significativas. Uma das patologias com mais evidência dos benefícios da Ginko é a claudicação intermitente. Quando o sistema vascular não é capaz de assegurar um fluxo adequado de sangue aos membros inferiores durante o esforço, e uma remoção dos metabolitos gerados pelo sistema venoso (lactato e CO2), dá-se uma sensação de dor, cansaço e cãibras. O aumento da acidez afecta os terminais nervosos, compromete o movimento e induz dor. O fluxo sanguíneo inadequado pode ainda gerar alterações morfológicas nos membros, como perda de pêlos, unhas quebradiças, atrofia muscular, pela seca, escamações, ulcerações e edema.
Um órgão muito afectado pela insuficiência vascular é o cérebro, que não recebe um aporte suficiente de sangue. Nesta situação podem ocorrer alterações neurológicas que se manifestam como perda de memória, senilidade, depressão, vertigens, confusão, e declínio da função cognitiva. Os efeitos atribuídos ao Ginkgo biloba na função cerebral devem-se precisamente a uma melhoria da microcirculação. Mas para além disso, sabe-se que os compostos presentes na Ginkgo têm um efeito neuroprotector, inibindo a diminuição dos receptores colinérgicos e adrenérgicos que se manifesta quando envelhecemos. Há indícios de que se verifica uma elevação nos níveis de serotonina, noradrenalina e acetilcolina.
O extracto de Ginkgo biloba é muito bem tolerado, e são raros os relatos de efeitos secundários. O seu efeito anti-agregante pode interferir potencialmente com a terapêutica farmacológica convencional, em particular com a varfarina. A varfarina é uma droga com uma margem terapêutica muito reduzida, e que interage com vários alimentos, suplementos, e medicamentos. O Ginkgo biloba deve ser evitado em conjunto com varfarina, embora, na verdade, num ensaio clínico que testou essa associação não se verificaram efeitos secundários de relevo [link]. Um outro estudo indicia que o extracto de Ginkgo biloba possa induzir a CYP3A [link], aumentando a metabolização de certas drogas como o midazolam, e em consequência reduzindo o seu efeito terapêutico. Outras enzimas da família dos citocromos P450 podem ser afectadas numa extensão modesta, mas, de um modo geral, o Ginkgo biloba é muito bem tolerado e seguro, desde que utilizado na posologia indicada. Não devem ser consumidas partes inteiras da planta uma vez que contém substâncias tóxicas, eliminadas nos extractos purificados.
A dose indicada varia de acordo com a patologia, e pode situar-se entre os 120 mg e os 600 mg. No tratamento da Síndrome de Raynaud, por exemplo, 120 mg 3 vezes ao dia parece ter eficácia terapêutica. Na claudicação intermitente a dose efectiva ronda os 120-240 mg, embora sejam comuns doses mais altas. É indicado começar sempre com uma dose baixa, 120 mg por dia, e aumentar de acordo com a tolerância e resposta terapêutica de forma a evitar possíveis efeitos secundários e desconforto gastrointestinal.
Como acontece com todos os suplementos alimentares, nem todo o Ginkgo biloba é igual. A qualidade farmacológica de várias marcas presentes no mercado já foi testada [link], verificando-se que nem todas atingem os mesmos níveis de certos compostos comparativamente ao extracto original e com mais evidência disponível, produzido pela companhia alemã Schwabe. Willmar Schwabe foi o cientista Alemão que obteve pela primeira vez um extrato puro e padronizado das folhas de Ginkgo biloba O processo de obtenção do extracto é delicado e nem sempre é possível assegurar a qualidade e presença de um nível padronizado de terpenoides e flavonoides. Antes de escolher um produto é importante assegurar-se da origem de forma a garantir máxima eficácia terapêutica e segurança.
O extracto de Ginkgo biloba é sem dúvida um suplemento muito interessante, para quem precisa dele. Não é um produto para toda a gente, mas apenas quando se manifestam problemas circulatórios ou dificuldades cognitivas associadas. Como qualquer suplemento, a sua utilização é indicada para condições específicas, e não de forma indiscriminada. Nestes casos, a eficácia terapêutica está comprovada, o que lhe confere quase um estatuto de fármaco. Não é um ergogénio ou suplemento desportivo, embora possa melhorar a performance cognitiva em algumas pessoas. Mas para quem sofre de problemas circulatórios, especialmente com o frio Inverno, o Ginkgo biloba pode atenuar esses sintomas próprios da estação.
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