Saúde
Quem vai cuidar dos idosos
Vanessa Jacinto - jornalista, colaboradora do ILC-BR
A possibilidade de viver mais é o grande triunfo da humanidade. Em todo o mundo, o contingente de pessoas com mais de 60 anos cresce de forma tão acelerada, que obriga toda a sociedade a repensar valores, dinâmicas e o próprio significado de envelhecer.
Diante da revolução demográfica em curso, sobram indagações e uma das perguntas mais inquietantes do nosso tempo é: “quem vai cuidar de tantos idosos?”
A busca por respostas levou os maiores especialistas mundiais em envelhecimento a São Paulo, no dia 15 de outubro, para o VIII Fórum da Longevidade e ao Rio de Janeiro, nos dias 16 e 17, para o WDA Forum, onde realizou-se amplo debate focado no tema "Muito Além de Prevenção e Tratamento: Desenvolvendo uma Cultura do Cuidado" (Beyond Prevention and Treatment - Developing a Culture of Care).
O evento foi coordenado pelo Centro Internacional de Longevidade (International Longevity Centre Brazil - ILC-BR) com a WDA Forum (World Demographic Association) e Bradesco Seguros, Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), Universidade do Seguro (UniverSeg). As ideias levantadas germinaram em terreno fértil e foram traduzidas na “Declaração do Rio de Janeiro sobre o Cuidar”. O documento servirá para nortear governos, sociedade civil, setor privado e a academia na busca pelas melhores diretrizes e políticas públicas relativas ao cuidado.
Após amplo processo de revisão pelos participantes do Fórum, a Declaração do Rio resulta de discussões aprofundadas que incluíram desde a reforma geral da Seguridade Social às necessidades de treinamento de profissionais e modelos de cuidado no mundo.
Os participantes também se debruçaram sobre questões como, entre outras, os direitos da pessoa idosa, abordagens mais amigáveis, modelos de cuidado em diferentes países, dimensões éticas e um foco no que é preciso para que o final da vida também tenha qualidade.
A preocupação com o assunto não poderia ser mais oportuna. Em todo o mundo, as baixas taxas de fecundidade, somadas ao fato de que viveremos por mais tempo, vão influenciar as contas públicas, a previdência social e o cidadão em idade produtiva. O aumento dos anos de vida terá repercussões nos sistemas de saúde, que precisam se preparar para os impactos do envelhecimento populacional.
O anunciado crescimento dos octogenários vai requerer, além de prevenção e tratamento, o cuidado do dependente funcional, assim como outros desafios levantados pelos palestrantes do Fórum.
Nas próximas décadas, os idosos originários da atual população de jovens e adultos serão aqueles que hoje se caracterizam pela elevada prevalência de fatores de risco para doenças circulatórias e cânceres, pequeno número de filhos, baixas taxas de emprego formal e reduzida capacidade de poupar.
A proporção de idosos longevos deverá crescer em ritmo inverso à oferta de cuidados familiares informais. Portanto, “torna-se imperioso indagar como e dará a assistência a essa nova população de idosos”, ressalta Norah Keating, que trouxe a ótica do Canadá para os debates sobre o cuidado.
Outra participante do evento, Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Brasil, ressaltou que a progressiva diminuição do tamanho das famílias e o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho deverão continuar reduzindo o potencial de cuidado provido pelas mulheres, tradicionalmente convocadas para cuidar dos pais ou sogros quando eles se tornam dependentes.
Dentro de uma perspectiva demográfica, continuou Camarano, a taxa de potencial de apoio, (número de adultos para cada idoso), declinará de 19 para três, entre 1950 e 2050. “O impacto do envelhecimento sobre a saúde, como no campo da demografia, deve ser interpretado no contexto das relações familiares de apoio e dependência. O Estado também vai ter que assumir o cuidado.”
Para Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e uma das maiores autoridades internacionais no assunto, o próprio panorama mundial impôs a realização de um fórum com essa temática. Ele explica que, depois de ter desenvolvido o Marco Politico do Envelhecimento Ativo, durante sua chefia no Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial de Saúde, outra de suas grandes preocupações foi alertar sobre a necessidade de se desenvolver políticas claras e sustentáveis para aqueles que, por uma razão ou por outra terminam abaixo do “limiar da incapacidade”.
“Essa questão sempre me preocupou. É possível prevenir doenças e incapacidades, tratar um grande número de males. Mas sempre restará um número expressivo de idosos fragilizados - seja por razões físicas, seja por declínio cognitivo/demências senis. Como o grupo da população que mais cresce hoje no mundo (e o Brasil) é exatamente o de pessoas 80 +, vamos nos deparar cada vez mais com esses idosos vulneráveis”, afirma.
Kalache destaca ainda que esta foi a primeira vez que, em caráter internacional, algumas das mais eminentes autoridades em gerontologia, com representantes da sociedade civil, setor acadêmico, agências da Organização das Nações Unidas e o setor privado se reuniram com o objetivo de pactuar um documento delineando as bases para políticas de cuidado.
Em seu conjunto, as recomendações da Declaração são consideradas um avanço, já que se estruturam sobre as premissas de uma mudança de paradigma. O documento tira o cuidado da esfera privada, reconhecendo que a família e, principalmente a mulher, não podem continuar sendo responsabilizadas isoladamente pelo cuidado dos mais velhos. Outro indicador de vanguarda é colocar o homem em cena, para dividir as tarefas e, principalmente, convocar a sociedade e os governos para o cerne da questão. Ambos terão que repensar uma serie de posicionamentos dividindo e assumindo novas responsabilidades.
Para que a Declaração deixe de existir apenas no papel, a geriatra Karla Giacomin, ex-presidente do Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos, no Brasil, afirma que o envolvimento da sociedade e das lideranças idosas será fundamental. “Se a própria população não partir para a conquista do direito ao cuidado digno, ninguém o fará”, enfatiza.
Entre as ações para a efetiva implementação das proposições da Declaração, Kalache destaca a necessidade de parceiros que, numa espécie de atuação em rede, vão, pouco a pouco, disseminando o conhecimento, conquistando novos “amigos” e alcançando novos interlocutores. “O papel da mídia é essencial nisso. Não se transforma um paradigma da noite para o dia. A Declaração foi desenvolvida de modo a incluir os diversos participantes, todos opinando, contribuindo, empoderados. Falta agora um envolvimento maior das próprias pessoas idosas - pois seu protagonismo é central para que o paradigma mude”, finaliza.
- Do Envelhecimento Ativo às Iniciativas Amigas Das Pessoas Idosas
Os princípios de envelhecimento ativo estão disponíveis em grande número de países e de continentes. Já inserido na prática de muitos brasileiros – e do mundo –, o conceito de “Envelhecimento Ativo” orienta profissionais e interessados...
- A Revolução Da Longevidade E Os Direitos Das Pessoas Idosas
Pela primeira vez no Brasil, a conferência da Sociedade Internacional para a Qualidade do Cuidado de Saúde (International Society for Quality of Healthcare – ISQua), em sua 31ª edição, dedicou uma sessão ao cuidado do idoso, com participação...
- Congresso Geriatrio Debateu Com Palestrantes Internacionais E Nacionais
Muitas são as questões que perpassam o envelhecimento populacional e os sistemas de saúde no Brasil e em outros países. Com o objetivo de promover constante atualização profissional, a Seção Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Geriatria...
- Longevidade E Uma Cultura Do Cuidado
A pessoa idosa, no Brasil e no mundo, tem sido o centro de uma mobilização da sociedade para criar estratégias e mecanismos que propiciem o envelhecimento ativo e saudável para um número crescente de idosos. Como o grupo da população que mais aumenta...
- Mais De Vinte Experts Internacionais Discutirão Uma Cultura Do Cuidado Para O Envelhecimento Populacional
O Fórum "Muito Além de Prevenção e Tratamento: Desenvolvendo uma Cultura do Cuidado" (Beyond Prevention and Treatment - Developing a Culture of Care) traz para o Rio a excelência de experts representando diversas disciplinas, de diferentes países...
Saúde
Implantação de uma cultura do cuidado – ressonância do debate por experts
Um grupo de profissionais e instituições, composto por algumas das maiores autoridades no campo do envelhecimento - internacionais e nacionais -, representando a sociedade civil, a Academia, organizações intergovernamentais e o setor privado, propôs e pactuou a "Declaração do Rio de Janeiro - Muito Além de Prevenção e Tratamento: Desenvolvendo uma Cultura do Cuidado", como produto final do Fórum Internacional ILC-BR / WDA. O evento foi realizado nos dias 16 e 17 de outubro, no Rio de Janeiro, em iniciativa conjunta do Centro Internacional de Longevidade (International Longevity Centre Brazil - ILC-BR) e da WDA (World Demographic Association - a Associação Demográfica Mundial), em cooperação com Bradesco Seguros, Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE) e Universidade do Seguro (UniverSeg).
A Declaração do Rio foi lançada durante o VII Congresso de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro – GeriatRio 2013, no dia 2 de novembro, com apresentação de Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, e imediatamente disponibilizada no site da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
Vanessa Jacinto - jornalista, colaboradora do ILC-BR
A possibilidade de viver mais é o grande triunfo da humanidade. Em todo o mundo, o contingente de pessoas com mais de 60 anos cresce de forma tão acelerada, que obriga toda a sociedade a repensar valores, dinâmicas e o próprio significado de envelhecer.
Diante da revolução demográfica em curso, sobram indagações e uma das perguntas mais inquietantes do nosso tempo é: “quem vai cuidar de tantos idosos?”
A busca por respostas levou os maiores especialistas mundiais em envelhecimento a São Paulo, no dia 15 de outubro, para o VIII Fórum da Longevidade e ao Rio de Janeiro, nos dias 16 e 17, para o WDA Forum, onde realizou-se amplo debate focado no tema "Muito Além de Prevenção e Tratamento: Desenvolvendo uma Cultura do Cuidado" (Beyond Prevention and Treatment - Developing a Culture of Care).
O evento foi coordenado pelo Centro Internacional de Longevidade (International Longevity Centre Brazil - ILC-BR) com a WDA Forum (World Demographic Association) e Bradesco Seguros, Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), Universidade do Seguro (UniverSeg). As ideias levantadas germinaram em terreno fértil e foram traduzidas na “Declaração do Rio de Janeiro sobre o Cuidar”. O documento servirá para nortear governos, sociedade civil, setor privado e a academia na busca pelas melhores diretrizes e políticas públicas relativas ao cuidado.
Após amplo processo de revisão pelos participantes do Fórum, a Declaração do Rio resulta de discussões aprofundadas que incluíram desde a reforma geral da Seguridade Social às necessidades de treinamento de profissionais e modelos de cuidado no mundo.
Os participantes também se debruçaram sobre questões como, entre outras, os direitos da pessoa idosa, abordagens mais amigáveis, modelos de cuidado em diferentes países, dimensões éticas e um foco no que é preciso para que o final da vida também tenha qualidade.
A preocupação com o assunto não poderia ser mais oportuna. Em todo o mundo, as baixas taxas de fecundidade, somadas ao fato de que viveremos por mais tempo, vão influenciar as contas públicas, a previdência social e o cidadão em idade produtiva. O aumento dos anos de vida terá repercussões nos sistemas de saúde, que precisam se preparar para os impactos do envelhecimento populacional.
O anunciado crescimento dos octogenários vai requerer, além de prevenção e tratamento, o cuidado do dependente funcional, assim como outros desafios levantados pelos palestrantes do Fórum.
Nas próximas décadas, os idosos originários da atual população de jovens e adultos serão aqueles que hoje se caracterizam pela elevada prevalência de fatores de risco para doenças circulatórias e cânceres, pequeno número de filhos, baixas taxas de emprego formal e reduzida capacidade de poupar.
A proporção de idosos longevos deverá crescer em ritmo inverso à oferta de cuidados familiares informais. Portanto, “torna-se imperioso indagar como e dará a assistência a essa nova população de idosos”, ressalta Norah Keating, que trouxe a ótica do Canadá para os debates sobre o cuidado.
Outra participante do evento, Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Brasil, ressaltou que a progressiva diminuição do tamanho das famílias e o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho deverão continuar reduzindo o potencial de cuidado provido pelas mulheres, tradicionalmente convocadas para cuidar dos pais ou sogros quando eles se tornam dependentes.
Dentro de uma perspectiva demográfica, continuou Camarano, a taxa de potencial de apoio, (número de adultos para cada idoso), declinará de 19 para três, entre 1950 e 2050. “O impacto do envelhecimento sobre a saúde, como no campo da demografia, deve ser interpretado no contexto das relações familiares de apoio e dependência. O Estado também vai ter que assumir o cuidado.”
Para Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e uma das maiores autoridades internacionais no assunto, o próprio panorama mundial impôs a realização de um fórum com essa temática. Ele explica que, depois de ter desenvolvido o Marco Politico do Envelhecimento Ativo, durante sua chefia no Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial de Saúde, outra de suas grandes preocupações foi alertar sobre a necessidade de se desenvolver políticas claras e sustentáveis para aqueles que, por uma razão ou por outra terminam abaixo do “limiar da incapacidade”.
“Essa questão sempre me preocupou. É possível prevenir doenças e incapacidades, tratar um grande número de males. Mas sempre restará um número expressivo de idosos fragilizados - seja por razões físicas, seja por declínio cognitivo/demências senis. Como o grupo da população que mais cresce hoje no mundo (e o Brasil) é exatamente o de pessoas 80 +, vamos nos deparar cada vez mais com esses idosos vulneráveis”, afirma.
Kalache destaca ainda que esta foi a primeira vez que, em caráter internacional, algumas das mais eminentes autoridades em gerontologia, com representantes da sociedade civil, setor acadêmico, agências da Organização das Nações Unidas e o setor privado se reuniram com o objetivo de pactuar um documento delineando as bases para políticas de cuidado.
Em seu conjunto, as recomendações da Declaração são consideradas um avanço, já que se estruturam sobre as premissas de uma mudança de paradigma. O documento tira o cuidado da esfera privada, reconhecendo que a família e, principalmente a mulher, não podem continuar sendo responsabilizadas isoladamente pelo cuidado dos mais velhos. Outro indicador de vanguarda é colocar o homem em cena, para dividir as tarefas e, principalmente, convocar a sociedade e os governos para o cerne da questão. Ambos terão que repensar uma serie de posicionamentos dividindo e assumindo novas responsabilidades.
Para que a Declaração deixe de existir apenas no papel, a geriatra Karla Giacomin, ex-presidente do Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos, no Brasil, afirma que o envolvimento da sociedade e das lideranças idosas será fundamental. “Se a própria população não partir para a conquista do direito ao cuidado digno, ninguém o fará”, enfatiza.
Entre as ações para a efetiva implementação das proposições da Declaração, Kalache destaca a necessidade de parceiros que, numa espécie de atuação em rede, vão, pouco a pouco, disseminando o conhecimento, conquistando novos “amigos” e alcançando novos interlocutores. “O papel da mídia é essencial nisso. Não se transforma um paradigma da noite para o dia. A Declaração foi desenvolvida de modo a incluir os diversos participantes, todos opinando, contribuindo, empoderados. Falta agora um envolvimento maior das próprias pessoas idosas - pois seu protagonismo é central para que o paradigma mude”, finaliza.
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- Do Envelhecimento Ativo às Iniciativas Amigas Das Pessoas Idosas
Os princípios de envelhecimento ativo estão disponíveis em grande número de países e de continentes. Já inserido na prática de muitos brasileiros – e do mundo –, o conceito de “Envelhecimento Ativo” orienta profissionais e interessados...
- A Revolução Da Longevidade E Os Direitos Das Pessoas Idosas
Pela primeira vez no Brasil, a conferência da Sociedade Internacional para a Qualidade do Cuidado de Saúde (International Society for Quality of Healthcare – ISQua), em sua 31ª edição, dedicou uma sessão ao cuidado do idoso, com participação...
- Congresso Geriatrio Debateu Com Palestrantes Internacionais E Nacionais
Muitas são as questões que perpassam o envelhecimento populacional e os sistemas de saúde no Brasil e em outros países. Com o objetivo de promover constante atualização profissional, a Seção Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Geriatria...
- Longevidade E Uma Cultura Do Cuidado
A pessoa idosa, no Brasil e no mundo, tem sido o centro de uma mobilização da sociedade para criar estratégias e mecanismos que propiciem o envelhecimento ativo e saudável para um número crescente de idosos. Como o grupo da população que mais aumenta...
- Mais De Vinte Experts Internacionais Discutirão Uma Cultura Do Cuidado Para O Envelhecimento Populacional
O Fórum "Muito Além de Prevenção e Tratamento: Desenvolvendo uma Cultura do Cuidado" (Beyond Prevention and Treatment - Developing a Culture of Care) traz para o Rio a excelência de experts representando diversas disciplinas, de diferentes países...