Saúde
Malefícios do BPA (Bisfenol A): quais riscos para crianças e adultos?
Giovanna Menezes Iozzi e Juliana de Oliveira Miguel, 2013
Recentemente foi proibida a comercialização de mamadeiras de plásticos de policarbonato pela ANVISA . Por que somente mamadeiras e não qualquer objeto? O que este tipo de plásticos pode trazer de ruim para nós?
Apresentação do produto (substância)
O plástico é uma substância presente no nosso cotidiano. Este é composto pela polimerização de monômeros derivados de petróleo. A reação de polimerização e por fim a forma de produção do plástico depende de qual monômero é utilizado para a formação do polímero. Bisfenol A (BPA), 2,2-bis (4-hidroxifenil) propano, é um dos componentes utilizado na produção de poliésteres, poliacríclicos, resinas fenólicas e principalmente na produção de resinas epóxi e de policarbonato plásticos. O aumento da utilização de resinas epóxi e de policarbonato plásticos para produção de variados produtos provocou um aumento da exposição do homem a esse composto. As resinas epóxi produzido com BPA são utilizados como vernizes para revestimento de metal, dessa forma, superfícies entram em contato com alimentos e bebidas, enquanto plásticos de policarbonato são também utilizados como containers, como por exemplo, mamadeiras de plástico.
Fundamentos Toxicológicos
O BPA é formado através da combinação de acetona e fenol. Esse composto possui um potencial tóxico devido à semelhança com os hormônios esteróides como o estrogênio, que quando ingerido em pequenas quantidades, como sugerem estudos recentes, pode trazer alterações fisiológicas. A metabolização composto fenólico se da por enzimas especificas (UDP-glucuraniltranferase) que se encontram principalmente no fígado. A toxicidade do BPA é dada quando o mesmo se encontra em altas concentrações no organismo, sendo então, o nível tóxico evitado pela capacidade de eliminação de BPA. A necessidade de um mecanismo eficiente para metabolizar e eliminar o Bisfenol A faz com que existam populações mais suscetíveis a sofrer os malefícios desse composto, como por exemplo, crianças. A contaminação do alimento ocorre pela migração que o BPA sofre, este sai produto e chega ao alimento. A migração é influenciada principalmente pelo tempo e temperatura de aquecimento, podendo influenciar também o período de armazenamento do alimento.
Legislação (RDC 41/2011)
No dia 19 de setembro foi publicada a resolução RDC 41/2011 determinando a proibição da utilização de BPA para produção de mamadeiras. A decisão da ANVISA foi baseada em estudos recentes que apontam riscos decorrentes da exposição ao BPA, mesmo quando essa exposição ocorre em níveis inferiores aos que atualmente são considerados seguros (0,6mg/Kg). Mesmo sem resultados conclusivos sobre o risco, a decisão da ANVISA realizou a proibição visando à precaução em relação aos malefícios que o BPA pode trazer as crianças de 0 a 12 meses.
Discussão Em nosso cotidiano, frequentemente utilizamos aquecimento por meio de microondas para esquentar a comida da marmita ou a mamadeira do bebê, consequentemente acabamos por facilitar a contaminação de nossos alimentos com BPA. Um estudo realizado mostrou através de análise de urina que as crianças entre 1-6 anos apresentam as maiores concentrações de Bisfenol A, seguidas das crianças menores de 1 ano de idade, devido a menor capacidade de metabolizar a molécula, já que crianças apresentam mais ou menos cinco vezes menos enzimas hepáticas do que um adulto. Esses estudos também expõe que os principais efeitos danosos estão relacionados ao sistema endócrino. A substância pode induzir alterações na puberdade que podem vir a ser permanente, como a indução de glândulas mamárias, além de ser capaz de diminuir o número de enzimas antioxidantes, induzir aumento de um tipo celular no cérebro (p-ERK positivas), induzir perda de funcionalidade celular e redução de sinalização nas células alfa-pancreáticas. Esses efeitos acorrem de acordo com a quantidade circulante no organismo, o que faz com que crianças de 0-6 anos sejam as mais prejudicadas. Alguns outros estudos ainda mostram que a exposição à molécula começa bem cedo, não sendo somente proveniente de mamadeiras, pois foi sugerido que o Bisfenol A é capaz de atravessar a barreira placentária e ser eliminado pelo leite materno. O que, segundo alguns pesquisadores torna o fato ainda mais preocupante, pois o feto não possui nenhuma capacidade de metabolizar o Bisfenol A.
Conclusão Portanto, após observar vários estudos de toxicidade, malefícios do BPA no organismo e a intervenção feita pela ANVISA, devemos atentar aos riscos de materiais plásticos utilizados em contato com alimentos, principalmente os de crianças, onde sua capacidade de eliminação de substancias toxicas são comprometidas pelo desenvolvimento.
Bibliografia
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