Saúde
O Experimento do Tirol
A descrição abaixo
não significa endosso desse experimento. Entre outras razões, nesses treze anos foram descobertas muitas terapias e as antigas foram melhoradas, mas é um interessante exemplo de como uma ação de saúde feita por médicos e hospital se transformou numa política pública. Do meu ponto de vista é, apenas, uma estímulo aos exames periódicos, uma atitude vigilante. A descrição está baseada em um artigo jornalístico que publiquei há anos.
O Experimento do Tirol
- Em 1993, médicos e cientistas austríacos iniciaram um experimento no Estado Federal do Tirol, com homens entre 45 e 75 anos.
- No primeiro ano, um terço dos homens foram submetidos a uma triagem com base no PSA (prostate specific antigen); em quatro anos, pelo menos dois terços de todos os homens naquela ampla faixa de idade foram testados. O objetivo era verificar qual a incidência de câncer de próstata na população e se um programa de deteção poderia diminuir a mortalidade causada por este câncer. Caso o PSA fosse mais alto do que deveria ser, outros testes eram feitos. Caso se confirmasse a presença do câncer, o tratamento era iniciado.
- O câncer de próstata não é brincadeira: é o câncer mais comum entre homens, após os cânceres da pele. Nos Estados Unidos houve, em 2000, mais de 180 mil casos novos, quase 30% de todos os cânceres diagnosticados pela primeira vez. Para os homens americanos, a probabilidade de chegar a ter câncer de próstata diagnosticado é 1 em 6. Não sabemos quantos mais o desenvolverão sem que sejam diagnosticados. Em 2000, somente nos Estados Unidos, houve 32 mil mortes por câncer de próstata.
- O experimento do Tirol mostrou quão importante seria um programa desse tipo para o Brasil. O número de mortes por câncer de próstata no Tirol variou pouco de 1970 até 1993, quando se iniciou o programa. Já em 1997 (quatro anos depois do início do experimento) houve uma redução de 32% no número de mortos e, em 1998, de outros 42%. Melhoria geral? Efeitos dos progressos na tecnologia médica?
- Não! No resto da Áustria o número de mortos permaneceu aproximadamente o mesmo.
- Nos Estados Unidos e no Canadá, onde não houve um programa público de triagem deste câncer, mas o uso privado do PSA aumentou aceleradamente, a mortalidade começou a baixar com a generalização do uso do PSA.
- O aumento do PSA para níveis altos denuncia a presença de certo tipo de câncer antes de chegar à metástese longínqua. Quando essa metástese se confirma, o câncer é declarado incurável e a terapia se concentra em diminuir o avanço da doença e na redução da dor e da desaceleração da baixa na qualidade da vida. No banco americano de dados sobre câncer, o SEER, se verifica que a triagem repetida implicou em uma redução de mais de 50% nas metásteses distantes.
- Desde 1990, a taxa de mortalidade por câncer de próstata vem diminuíndo. Entre 1990 e 1995, ela diminuiu de 6,6%. Como o câncer de próstata é mais frequente entre pessoas da Terceira Idade, as taxas devem ser calculadas por grupos de idade. Tarone, Chu e Brawley mostraram uma redução de 16,1% na taxa de mortalidade ajustada por idades entre homens brancos a partir de 1992. A partir do ano seguinte, a taxa dos homens negros também começou a baixar, ainda que menos (10,9%). Até o último ano da série, 1997, as taxas continuavam baixando.
- No Canadá, como nos Estados Unidos, a taxa de mortalidade vem baixando desde 1991.
- Parte desse declínio certamente se deve a novas terapias, mas a correlação entre a baixa da mortalidade e o crescimento do uso do PSA talvez não seja coincidência.
- Esse é um ponto importante para nós brasileiros. Nossa população está ficando velha.
- Não obstante, o ponto fundamental se refere à influência de programas na área da saúde pública. O experimento do Tirol mostra quantas vidas podem ser salvas.
- Quais os obstáculos para a implementação de programa semelhante no Brasil? Evidentemente, há dificuldade no acesso a amplos setores da população e na compreensão por parte da mesma. Além disso, o Brasil é um país que não sabe priorizar. Eu arriscaria a hipótese de que episódios políticos infelizes recebem, em uma semana, uma atenção muito maior da mídia e do poder público do que notícias sobre a vida de milhares de brasileiros, potenciais beneficiários de um programa semelhante recebem em um ano.
- Não há como deixar a corrupção de fora: os recursos desviados em alguns grandes casos conhecidos seriam suficientes para financiar um grande programa nacional de testes em um ano.
- Finalmente, o machismo, inclusive de nossos representantes, é um grande empecilho. Não é especificamente brasileiro. Um estudo, feito nos Estados Unidos, e relatado numa publicação de divulgação, o Prostrate Answer Book, mostra que 9 de cada 10 mulheres querem que seus maridos façam um exame anual da próstata; mas só 3 dos homens estão de acordo. Pior: no hipotético caso de doença, os homens preferem uma vida mais curta, sem tratamento, sem possíveis incontinência e impotência, ao passo que as mulheres desses mesmos homens os querem vivos e ponto.
- O machismo, literalmente, custa a vida a muitos homens. Portanto, não é por acaso que a liderança em muitas questões relacionadas com o câncer de próstata está na mão de mulheres. No Brasil, a deputada Telma de Souza (PT-SP) teve clara liderança, apresentando projetos. A reação da apresentação desse projeto, por parte de muitos deputados (e, depois, por parte de senadores), foi de risadas desconfortáveis e de piadas. O assunto não foi levado em sério pelos boçaleiros, representantes do povo. Infelizmente.
- E ironicamente, também. Devido à idade, entre 50 e 100 dos deputados e senadores têm ou estão desenvolvendo câncer de próstata, mas muitos deles não o sabem.
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