Saúde
PESSOAS FAZEDORAS E NÃO-FAZEDORAS
PESSOAS FAZEDORAS E NÃO-FAZEDORAS
Marise Jalowitzki
Vamos comentar sobre o fazer e o não-fazer?
Poderíamos dizer que as pessoas são classificadas em FAZEDORAS e NÃO-FAZEDORAS. Classificação é sempre uma coisa ruim, pois ressalta as diferenças, conferindo o risco da marginalização e da exclusão. Ao mesmo tempo, possibilita o entendimento, o aprendizado e, consequentemente, o lidar melhor com as diferentes personalidades.
Muitas pessoas preocupam-se com o FAZER MUITO. Vamos refletir um pouco sobre essas funcionalidades.
O que significa FAZER MUITO?
- Horas ocupadas?
- Numerosos compromissos?
- Cansaço excessivo ao final do dia?
- "Não ter tempo pra nada"?
Sim, as pessoas que podem se inserir neste grupo, FAZEM MUITO. O importante, porém, é conseguir avaliar QUAIS OS RESULTADOS CONSTRUTIVOS de todo esse movimento. Pois desgaste demasiado, excessivo, é inútil, acaba acarretando loucura, stress. Se não antes, pelo menos ao alcançar a velhice. Infelizmente, muitos acabam morrendo antes, seja por doença ou ataques fulminantes.
FAZER CONSTRUTIVAMENTE engloba estar bem, física, emocional e mentalmente. Tudo isso. E ainda mais. Pois tem a ver com os reflexos que tais atos produzem nos outros, naqueles que são atingidos por essas ações, incluindo o meio ambiente.
Assim, FAZER é um ato conjugado que pode não estar ligado necessariamente com QUANTIDADE e, sim, com QUALIDADE.
Já a existência do time dos NÃO-FAZEDORES ocorre, quase sempre, pelo dedo em riste de um terceiro, apontando para o outro. É, sim. Podemos encontrar indivíduos que trabalham dois turnos, que enfrentam coletivos todos os dias, que se empenham em manter seu crédito "limpo", pagam suas contas, cuidam de seus filhos e, ainda assim, são cobrados por parentes ou pela associação comunitária de que participam; sentem-se culpados por não "estar ajudando" entidades, pessoas, o planeta... Gente! O que fazem é MUITO.
Nesse nosso mundo pleno de calamidades e desajustes, alguém que, simplesmente, não onera o mundo com suas lamúrias, já é um VENCEDOR!
Também, neste time, encontramos pessoas doentes, sejam doenças psíquicas ou físicas, que estão desmotivadas, sentindo-se vítimas do destino, considerando apenas a deficiência ou o impedimento a que estão sujeitos, desperdiçando uma oportunidade grandiosa de aprender sobre a adaptabilidade a uma realidade não desejada; uma oportunidade ímpar de tentar novos caminhos criativos, que podem ser bastante simples e que começam por uma visão mais serena dos dias a passar. Aqui é FUNDAMENTAL a participação, a cooperação e o apoio das pessoas que estão próximas, que participam do convívio diário. "Empurrar para a frente" jamais pode ser sinônimo de cobrar, culpar, apontar, fazer o outro se sentir culpado ou inútil. As ferramentas são sempre do apreço, da validação, o elogio, o reforço, o incentivo. Ao invés de cobranças, estar ao lado, estar presente, contribuir para que ele se sinta tranquilo, aceito.
Exemplos disso encontramos no alcoolista, ou no usuário de outras drogas, que, na tentativa de ficar em casa à noite, liga a tv para assistir a todos os programas que aparecem. A mãe, impaciente, chega na porta e sentencia: "Vai dormir, noite é feita pra dormir!" Esta é uma premissa que funciona para pessoas que, rotineiramente, possuem um bioritmo adaptado. Um usuário de drogas está em seu limite. Nada nele é previsível. É um esforço inglório querer "arrancar" dele um funcionamento comum. MUITO melhor deixá-lo passar a noite em claro, pedindo para que mantenha um volume de som tolerável, do que arcar, depois, com o ônus de uma recaída e suas desastrosas e tiranas consequências.
Ainda neste time podemos, facilmente, encontrar muitos idosos que acreditam que sua vida não serve mais para nada. Mudam os papéis sociais, a família passa a lidar com eles de um modo diferente, muda o tratamento na conhecida hierarquia familiar e social e vem a sensação de "passado", de inutilidade. Nem todos possuem energia, vitalidade e ânimo para encetar novos rumos e enfrentar novos desafios, conquistar patamares referidos por outros. É TÃO importante que cada um consiga identificar DENTRO DE SI o quanto fez, reconhecer a beleza de haver chegado até esta idade, mesmo com inúmeras quedas. Quem não as tem?
Vivemos em um mundo que adora esconder suas mazelas, ao mesmo tempo em que, se forem as mazelas dos outros, esse mesmo mundo adora execrá-las, expondo ao máximo cada detalhe. Assim se instala o medo de errar, de "fazer feio", o que, aliás, já vem desde a infância.
Certo dia estava em um grupo de convivência quando um senhor, recém aposentado, dizia estar feliz com a nova etapa, de poder "mandar em seu tempo" e fazer as coisas simples que nunca tivera tempo, antes, de fazer. Paralelamente, trazia um grande sentimento de culpa por estar "fazendo tão pouco" e confessava estar se sentindo inútil. A moderadora simplificou com uma frase: "Se até o Estado reconhece o seu trabalho e lhe remunera todo mês por isso, como sentir-se inútil? Uma grande etapa já foi vencida e o senhor precisa se parabenizar por isso!"
Aceitar-se é o primeiro passo para obter mais serenidade interna.
Em meu livro "Vivências para Dinâmica de Grupo - A Metamorfose do Ser em 360 Graus" (pág 125 a 128), incluo um capítulo que denominei de O Ato de Voar e o Controle do Vôo, onde, além de outras considerações, transcrevo os diferentes estágios pelos quais passa o inseto que, em sua idade adulta, chamamos de borboleta. A Vida é feita de estágios. Em muitos casos acontece assim:
PRIMEIRO ESTÁGIO - o ser está mudo, deixa-se levar pelas circunstâncias, parece adormecido, apenas reage. Obedece a padrões e não questiona sua qualidade de vida. Acredita que "tudo é assim mesmo" e que não lhe resta nenhum outro caminho a não ser cumprir. Imóvel. Ovo.
SEGUNDO ESTÁGIO - começa a perceber o mundo a seu redor e as diferenças falam mais alto do que as semelhanças. Estágio de insatisfação.
- "O que tem de diferente nos outros?", "POR QUE ele tem e eu não tenho?" - pode se instalar a inveja;
- "O QUE ele(a) tem que eu não tenho"? "EU mereço mais do que ele(a)" - vem o ciúme;
- "Quero pra mim!", "é tudo pra mim!" - se instalou a cobiça. Este estágio é desgastante, matriz de muitos sofrimentos, onde o indivíduo sente desvalia e olha mais para o lado do que para dentro de si, revoltado. Arrasta-se. Lagarta.
TERCEIRO ESTÁGIO - Levado pelas circunstâncias, nem sempre favoráveis e após um determinado nível de sofrimento, começa a perceber e entender o quanto recebeu de bom, o quanto pode ser feliz com aquilo que [já] possui e inicia o sagrado (e, a mais das vezes, bastante difícil) movimento de agradecer. Ensaia sentimentos de perdão, a si e aos outros, reconhecendo os tropeços, a ignorância e o valor de tudo isso em seu aprendizado. É uma fase de reflexão e aceitação. Casulo.
QUARTO ESTÁGIO - sente que pode realizar ações produtivas em prol de sua própria felicidade e do bem comum. Sente NECESSIDADE de realizar algo além daquilo que já vem fazendo.
Assim como no caso da borboleta (ovo, lagarta, casulo e, finalmente, borboleta - animal alado), cada um de nós transita em um estágio diferente. Na maioria das vezes, alguns estágios se mesclam. Todos são válidos. Todos levam à evolução.
Conselho: Se o seu dedo está em riste para o outro, por favor, recolha-o! Há tantos outros dedos, de sua própria mão, apontando para você!
Feliz dia a todos!
Abraços a todos!
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MARISE JALOWITZKI é escritora, consultora organizacional e
palestrante internacional, certificada pela IFTDO-USA, pós-graduação
em RH pela FGV-RJ, autora de vários livros organizacionais.
[email protected] F (51) 97056424
Porto Alegre - RS - Brasil
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