Seminário "Lacticínios e Saúde Humana": as minhas considerações
Saúde

Seminário "Lacticínios e Saúde Humana": as minhas considerações



Ontem teve lugar mais um seminário/mini-curso da Nutriscience, leccionado pelo meu amigo Pedro Carrera-Bastos. O tema foi “Lacticínios e Saúde Humana”, sempre numa perspectiva evolutiva e integrada sem descurar a realidade moderna e constrangimentos clínicos. Sem surpresa, este curso foi um momento científico raro de qualidade, com grande adesão por parte dos profissionais ligados às várias áreas da saúde. E mais do que isso, foi um dia muito bem passado.


Este curso foi a consequência natural de uma palestra do Pedro em Los Angels no âmbito do Ancestral Health Symposium e do estudo profundo que ele tem feito sobre a temática nos últimos anos. Abordou-se a história dos lacticínios na dieta humana e o seu papel na evolução da espécie até aos dias de hoje. Uma lição a retirar é que a introdução do leite não foi uma casualidade mas sim uma necessidade. Num meio em mutação e em que os animais não eram tão abundantes como outrora, o leite era uma fonte proteica abundante e constante que não implicava o abate dos animais domésticos tão úteis para outras tarefas.

É hoje bem aceite que estas mudanças na transição Paleo-Neolítico implicaram um compromisso entre a saúde e a sobrevivência da espécie. Verificou-se uma deteriorização em marcadores antropométricos que nos indicam um fenótipo sub-óptimo num meio agrícola. Foi o preço a pagar pela socialização da espécie e desenvolvimento de novas competências culturais que culminaram naquilo que somos hoje. Se bom ou mau fica ao critério de cada um. A evolução não tem um valor ou objectivo. É um fim em si própria. 

Desenvolvimentos relativamente recentes sugerem que os lacticínios podem estar implicados uma série de doenças degenerativas crónicas. Estas doenças verificaram uma incidência crescente no último século, um período em que o consumo de lacticínios foi e é advogado como saudável e até essencial. Mas será mesmo?

Esta foi uma das questões a que o Pedro tentou responder à luz dos estudos mais recentes e que nem sempre são foco da atenção dos media. Não existe interesse em sair de uma zona de conforto que se tornou um paradigma entre os nutricionistas. E não me interpretem mal. Os paradigmas são a base da ciência. Mas isto não significa que sejam imutáveis. Até há bem pouco tempo toda a Física se baseava no princípio de que a velocidade da luz era o limite da matéria. Na semana passada este dogma foi abalado. A confirmar-se, a ciência nunca mais será a mesma.

Um aspecto que prezo nestes cursos é o ambiente “familiar” e divertido. Mesmo com casa cheia, a densidade da informação era aliviada pelo estilo coloquial do orador e com as intervenções dos seus colaboradores e assistência. Esta descontracção permite absorver os conteúdos com maior facilidade e enriquecê-los com as experiências das várias pessoas que participaram no evento.

E isto leva-nos à multidisciplinaridade e vasta experiência clínica que valorizou imenso o seminário. Desde profissionais do exercício a nutricionistas, todos deram o seu contributo e partilharam a sua inestimável experiência com pessoas reais, um aspecto que nós cientistas muitas vezes esquecemos. Mas a ciência existe para servir as pessoas. No final houve uma coisa que ficou clara para além de qualquer dúvida: na grande maioria dos pacientes, a exclusão do leite da dieta trouxe melhorias consideráveis. Falo de sintomas comuns de desconforto intestinal, reacções imunes cutâneas, alergias e até composição corporal. Isto é a experiência que os clínicos têm no seu dia-a-dia com pessoas de carne e osso.

Aproveito também para agradecer a menção da Teresa a este blogue, prontamente reforçada pelo Pedro. Espero conseguir manter-me ao nível das expectativas e fazer deste espaço um “oásis” para quem pensa “out of the box” numa sociedade espartilhada por crenças tão pouco fundamentadas em factos objectivos. 

É importante que cada vez mais gente adira a estas formações e que contribua para um grupo coeso de pressão. Estes eventos não valem apenas pelo conteúdo mas também pela reunião de vários profissionais que trocam experiências em diversas disciplinas na área da saúde. Quem perdeu esta terá brevemente uma nova oportunidade e 2012 promete ser um ano de sucesso para a Nuriscience. Estão previstas várias palestras com oradores de nível internacional, investigadores de topo nas suas áreas, que irão ser reveladas a seu tempo.



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