A terapia (anti)hormonal acarreta elevação do risco de formar coágulos no sangue que, quando se soltam provocam embolia pulmonar, podem ir para o coração com elevado risco de morte, ou ir para o cérebro, onde provocam derrames.
Eu já tive embolias pulmonares múltiplas. O que me lembro (aconteceu há alguns anos) foi de uma dor lancinante e paralisante. Não consegui me mexer durante muito tempo porque a dor não permitia. Talvez uns vinte minutos. Nos dias seguintes, feita uma tomografia computarizada, meu pulmonólogo apostava num tumor no pulmão, e o especialista em imagens (tomografias etc.) afirmava que era uma pneumonia recorrente. Como acreditava que os melhores hospitais cariocas eram a Varig, a American e a Delta, no dia seguinte estava na minha conhecida Gainesville, na Flórida, no Shands Hospital. Imediatamente fui enviado para o departamento de Nuclear Medicine, onde me fizeram respirar íons (não me lembro se positivos ou negativos) e obtiveram imagens deles no meu pulmão; depois injetaram corantes e fizeram novas imagens do pulmão e as duas não batiam. Havia zonas indicando íons, mas não sangue, zonas necrosadas. Era a evidência das embolias pulmonares. Várias áreas do meu pulmão direito estavam necrosadas e, se eu não fosse (ainda) um atleta, minha vida seria mais difícil.
O que essa pesquisa recente demonstra é que a terapia hormonal aumenta a formação de coágulos. Não foi uma pesquisa pequena: mais de 154 mil pacientes idosos com câncer da próstata. Os que fizeram terapia hormonal tinham o dobro de coágulos nas veias, artérias ou pulmões, em comparação com os que não fizeram essa terapia. O dobro não nos diz quanto: 1 em cada 6, aproximadamente, em contraste com um em cada treze.
Nessa pesquisa, ¼ das pessoas que desenvolveram coágulos acabaram no hospital por conta das conseqüências deles.
O pesquisador principal, Dr. Behfar Ehdaie, do Memorial-Sloan Kettering Cancer Center em New York (onde eu me trato atualmente) afirmou que esse “não é um risco trivial”. Ehdaie aconselha aos pacientes a ver qual o risco/benefício de cada tratamento. Entre os riscos e efeitos colaterais estão o ganho de peso, suores e calores, fadiga, disfunção erétil, e ossos menos resistentes.
A conclusão desse pesquisador é que, nos estudos originais, somente os pacientes com um câncer muito avançado e com metástase recebiam esse tratamento e que o aumento da sobrevivência e o alívio, ainda que temporário, de outros efeitos do câncer, sobretudo das dores, compensavam o aumento de outros riscos. Outra pesquisa recente mostra que a terapia hormonal adiciona sobrevivência aos pacientes que recebem radiação, cujos cânceres ou já apresentam metástase ou são de alto risco. O que deve ser mudado é o comportamento automático de tratar cânceres recém-diagnosticados e de risco baixo ou mediano com terapia (anti)hormonal, dizem esses autores.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ