Saúde
Vinho, sim ou não?
Será que o vinho faz bem à saúde? A ingestão de bebida alcoólica, diariamente, é o melhor remédio para manter, por exemplo, o colesterol em níveis normais? Até hoje, não existe nenhuma pesquisa científica que comprove os benefícios do vinho no combate ao colesterol.
O mesmo acontece com o suco de berinjela com laranja. Os resultados de novas pesquisas sobre a influência dos alimentos no controle (ou aumento) do colesterol dão origem a dúvidas ainda maiores. Vamos falar do vinho que, seja tinto, branco, seco, semi-seco, rosado, espumante, suave ou fortificado, que estão sempre em alta, principalmente, no inverno.
Alguns estudos mostram que o consumo de vinho, especialmente o tinto, protege o organismo de doenças do coração. Na França, onde existe o hábito de se beber uma ou duas taças de vinho por dia, a incidência de problemas cardiovasculares é pequena em relação aos países industrializados (apesar de não apresentarem fatores de risco menores, como obesidade, nível de colesterol no sangue, tabagismo, pressão arterial e sedentarismo). A ligação entre o consumo moderado de álcool e a redução de risco de ataque cardíaco pode ser em parte explicada pela relação do álcool no aumento do nível de HDL (colesterol bom). O efeito protetor do vinho tinto deve ser considerado, mas não devemos esquecer os seus outros efeitos como a embriaguez e as mudanças de comportamento, entre outros.
Alguns pesquisadores afirmam, ainda, que o suco natural de uva, este sim, combate o colesterol, mas o vinho, por ter álcool, aumenta a pressão arterial e é contraindicado para os hipertensos. A relação da uva com o coração sempre despertou curiosidade. No final da década de 70, um estudo feito em vários países relacionou a mortalidade por doenças nas artérias coronárias, que irrigam o coração, com o vinho tinto. No entanto, os grandes amigos do coração são os flavonoides ? substâncias que agem diretamente no fígado, inibindo a síntese de colesterol. Estes flavonoides atuam também como agentes antioxidantes, que diminuem a oxidação das moléculas do organismo, desacelerando os processos de envelhecimento.
Segundo a American Heart Association (Associação Americana do Coração), para quem deseja prevenir doenças cardíacas, não existe nada melhor do que ter uma dieta saudável, fazer exercícios físicos regularmente e ter o peso adequado. Portanto, não há motivo para se recomendar uma bebida alcóolica para diminuir os riscos dessas patologias.
Atenção: As informações contidas nesta matéria têm caráter informativo e não devem ser utilizadas para realizar auto tratamento ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte o seu médico.
Para que você fique mais bem informado, entrevistamos o Dr. Carlos Eduardo Domingues, cardiologista e mestre em saúde pública, um defensor da medicina baseada em evidências.
O consumo de duas taças de vinho ao dia diminui os riscos para as doenças do coração?
O consumo moderado de vinho pode realmente reduzir a incidência de doenças coronarianas, como tem sido demonstrado por diversos estudos nos últimos 30 anos. Podemos considerar a ingestão de duas taças de vinho como um exemplo de consumo moderado. Mas temos que ter muito cuidado ao abordar o assunto. Ainda não há justificativas concretas para a recomendação do uso de vinhos como estratégia de cardio proteção. A American Heart Association, por exemplo, recomenda que a ingestão de bebidas alcoólicas seja um item de discussão particular entre o paciente e seu médico.
O vinho pode ajudar uma pessoa com problemas de colesterol alto?
As doenças cardiovasculares estão diretamente relacionadas aos fatores de risco, como hipertensão arterial, tabagismo, diabetes mellitus e dislipidemias (alterações do colesterol). Entre esses fatores de risco o vinho tem seu principal efeito nos níveis de colesterol, em particular na elevação do colesterol HDL, conhecido como colesterol ?bom?.
Qualquer tipo de vinho combate o colesterol? Quais são os vinhos indicados?
Dr. Carlos Eduardo: Devemos destacar que ainda não está definido de forma clara se o efeito cardio protetor do vinho decorre de substâncias existentes somente nos vinhos ou se decorre da presença do etanol (álcool), o que transferiria a todas as bebidas alcoólicas esse possível efeito. Mas os vinhos provavelmente tem lugar de destaque entre as bebidas alcoólicas. Durante a produção dos vinhos tintos centenas de produtos químicos são extraídas das cascas das uvas. Muitos autores associam os benefícios do vinho a algumas dessas substâncias. Vale a pena lembrar que na produção dos vinhos brancos as cascas das uvas são desprezadas, portanto esse tipo de vinho não teria o mesmo efeito que o vinho tinto.
E quanto ao suco natural de uva?
Provavelmente o suco de uva também tem o mesmo efeito cardio protetor que o vinho tinto, já que o mesmo também utiliza as cascas das uvas na sua elaboração.
Existe alguma pesquisa científica que comprove os benefícios do suco de berinjela com laranja?
Não que eu conheça.
Qual é o melhor remédio para manter o colesterol bom (HDL)? E para manter o colesterol ruim (LDL)?
As estatinas, drogas inibidoras de uma enzima conhecida como HMG-CoA Redutase, são os medicamentos mais indicados para o controle dos níveis de colesterol, tanto para o colesterol HDL como para o colesterol LDL. Entre as estatinas existem pequenas variações em suas características, mas nenhum estudo demonstrou superioridade absoluta de qualquer uma delas. Por outro lado, uma estatina utilizada em vários países do mundo, como Brasil e Estados Unidos, a cerivastatina, foi retirada recentemente do mercado devido aos seus efeitos colaterais. Portanto, mais uma vez devemos ter cautela. Novos medicamentos devem ser suficientemente avaliados, laboratorial e clinicamente, antes de se tornarem uma indicação definitiva. Eu, particularmente, sigo os conceitos da medicina baseada em evidências e prefiro esperar estudos mais completos e bem elaborados antes de indicar uma nova droga.
Por: Flávia Hadad
Referências Bibliográficas:
Castelli WP. How many drinks a day? JAMA, 1979.
Friedman GD & Klatsky AL. Is alcohol good for your health? N.Engl. J. Med. 1993.
Penteado de Castro CE. Vinho? alimento e remédio. Revista do Vinho, 1993.
Saint Leger AS, Cochrane AL, Moore F. Factors associated with cardiac mortality in developed countries with particular reference to the consumption of wine. Lancet, 1979.
Santos, Paula. O paradoxo francês. Revista do Vinho, 1992.
Santos, Paula. Vinho e Saúde. In: Vinho e Cultura. Ed. São Paulo: Melhoramentos, 1989.
Schoereder OB. Vinho, alcoolismo, medicina ? Iniciação ao vinho. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1985.
Fonte: http://ahau.org/vinho-sim-ou-nao/
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