Entrevista com José Alexandre de Souza Crippa, psiquiatra, pesquisador e professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.
Nesta entrevista, o médico diz que o Brasil é um do líderes na pesquisa do setor, mesmo com a proibição do uso medicinal de substâncias extraídas da maconha. Segundo ele, as pesquisas brasileiras estão voltadas principalmente para o canabidiol, uma das 400 substâncias extraídas da maconha e que pode ser utilizada no tratamento de esquizofrenia e do mal de Parkinson, entre outras doenças.
Qual o principal foco da pesquisa brasileira no uso terapêutico da maconha?
A principal frente é em relação ao canabidiol. O canabadiol é um dos canabinóides, substâncias que atuam no sistema nervoso central, extraídos da maconha. No total, a maconha tem cerca de 400 substâncias, 60 delas canabinóides. Entre elas está o THC (tetra-hidro-canabinol), que é o que causa alterações da percepção de quem fuma maconha, mas também é usado no tratamento de várias doenças, como glaucoma, esclerose múltipla, entre outros casos. Porém o THC muitas vezes gera efeitos colaterais nesses tratamentos, como ataques psicóticos e de pânico, alucinações, entre outros. E é aí que entra o canabidiol, que tem o efeito justamente contrário, ansiolítico, ou seja, deixa a pessoa relaxada. Portanto, aliando o canabidiol ao THC no tratamento de algumas doenças, obtêm-se melhores resultados. Esse remédio é produzido em forma de spray e comercializado no Canadá.
Há alguma descoberta recente no Brasil em relação ao canabidiol?
Já tivemos resultados em relação à esquizofrenia crônica e acabamos de concluir um estudo com transtorno de ansiedade social, que é aquela pessoa que não consegue falar em público, que tem medo de levantar a mão para fazer uma pergunta. Outra pesquisa importante foi com a doença de Parkinson. Descobrimos que o canabidiol não só diminui os efeitos colaterais da medicação usada no tratamento da doença (que vão de alucinações a delírios), como reduz os próprios sintomas do mal de Parkinson, principalmente os tremores.
Em que nível está o uso terapêutico da maconha no Brasil?