A FDA americana, que exerce várias funções que são exercidas (ou deveriam ser) exercidas pela ANVISA no Brasil, liberou a produção e venda de novo medicamento na luta contra o câncer da próstata avançado, que se chama Xofigo. Liberou antes do esperado porque a demonstração de que o medicamento ajuda foi convincente.
Xofigo se aplica a pessoas que estão em um estagio avançado do câncer da próstata, depois de uma das terapias iniciais, que objetivam curar o câncer (cirurgia, radiação, braquiterapia etc.) e falham. Depois disso quase todos os pacientes fazem uma terapia que não tem poder curativo, a (anti)hormonal. Quando o paciente deixa de responder a essa terapia, não há muitas alternativas (embora haja algumas) e a maioria dos canceres avança sobre os ossos, o que, usualmente, é muito doloroso. A metástase óssea, além de dolorosa, reduz a sobrevivência e os problemas que ela provoca são responsáveis por parte significativa das mortes causadas por esse câncer. Noventa por cento dos pacientes com metástases apresentam metástases ósseas. Pois Xofigo tem um efeito antitumoral sobre as metástases ósseas. Como muitos dos medicamentos recentes para pacientes avançados, os benefícios são limitados.
O que o Xofigo faz? Ele é baseado no radium-223. O isótopo forma complexos nas áreas de rápida mudança óssea – como é o caso das metástases ósseas. Ele emite radiação que atinge as células próximas, limitando o crescimento do câncer.
Xofigo não é panaceia. Os pacientes que tomaram Xofigo viveram mais 14 meses; o grupo controle viveu 11,2 meses, um ganho de quase três meses. Como muitos medicamentos recentes, o ganho mediano é medido em poucos meses, não obstante, há pouco tempo não havia nada que fazer. A qualidade da vida também foi superior. Tiveram, na média, mais seis meses até que aparecessem sintomas ósseos, como compressão da coluna e uma redução de 50% no risco de que a compressão acontecee. Ela causa dor e pode causar paralisia.
Dois por cento dos pacientes tiveram problemas na medula óssea e dois morreram.
Os efeitos colaterais não são poucos: náusea, diarreia, vômitos, edemas etc., sem falar na anemia, linfocitopenia, leucopenia, trombocitopenia e mais. Sabemos que são alguns meses a mais e que há muitos efeitos colaterais, mas a alternativa é pior – menos tempo de vida, e de vida dolorosa.
O medicamento é fabricado pela Bayer.
Nos últimos anos vários medicamentos foram desenvolvidos e aprovados, com algumas características semelhantes: se aplicam a canceres muito avançados, tem um efeito modesto e, claro, são muito caros. Infelizmente seus ganhos de vida não são somatórios nem multiplicativos, embora haja benefícios em tratar os pacientes com alguns deles depois de outros.
Ainda falta muito. Não obstante, há poucos anos não havia nada, só a espera dolorosa pela morte.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ