"The Atkins Diet", um documentário BBC Horizon
Saúde

"The Atkins Diet", um documentário BBC Horizon



Eu sou um grande fã da BBC. Entre os vários programas de investigação jornalística e documentários, o BBC Horizon prima pela excelência. Em 2004, um dos temas abordados foi a dieta de Atkins. Citando a narradora, “o Horizon investiga a verdade sobre a dieta mais controversa na história”. Será que funciona? É perigosa?


A dieta de Atkins é um autêntico fenómeno mundial e o livro “Dr Atkins New Diet Revolution” já vendeu perto de 20 milhões de cópias, um bestseller entre a literatura do género. Ao contrário de muitas outras dietas que pouco duram após a hype inicial, a dieta de Atkins veio para ficar. E porquê? Porque, de uma forma ou de outra, funciona e mostra resultados rápidos e motivantes. Mas como é que uma dieta em que não precisa de se preocupar com a quantidade do que come, onde a ditadura das calorias não existe, pode apresentar uma taxa de sucesso tão elevada?

É preciso fazer justiça e o Dr. Robert Atkins não descobriu a pólvora. Apenas escreveu o livro que fez a ponte entre décadas de investigação e conhecimento empírico com o público. As dietas muito restritivas em hidratos de carbono já eram aplicadas e o trabalho de Kekwick e Pawan é apenas um de vários exemplos. Não é verdade quando nos dizem que havia “falta de investigação científica” em relação às dietas low-carb.

Atkins era um cardiologista desleixado. Tinha um grave problema de peso e dietas não eram com ele. O que poderia ser melhor do que encontrar uma forma de emagrecer sem passar pelo martírio da privação energética? Foi precisamente isto que o Dr. Robert Atkins procurou na literatura médica existente. E encontrou. Depois de aplicar os conceitos desta dieta alternativa em si próprio, com resultados notáveis, seguiram-se experiências numa série de pacientes com o mesmo problema de peso. Esta "nova velha" dieta funcionava, e os resultados eram impressionantes.

Obviamente que esta dieta não foi bem aceite na comunidade médica estabelecida, cada vez mais influenciada pela hipótese lipídica no desenvolvimento de doença cardiovascular. Além disso, como podia um homem desafiar a lei fundamental do Universo? A energia não se cria nem se perde, apenas se transforma. Para que a dieta de Atkins fosse realmente eficaz e verdadeira, a 1ª lei da termodinâmica teria de ser falseada. O paradigma dominante diz-nos que para perder peso é preciso um deficit energético e ponto final. Não é uma lei aplicável em sistemas biológicos abertos, mas nunca ninguém se preocupou muito com isso.

Mas apesar da fraca aceitação pelos pares do Dr. Atkins, uma evidência tornou-se incontornável nas últimas décadas. Apesar das recomendações para regimes pobres em gordura e em calorias, o mundo estava (e está) cada vez mais gordo. Mas as pessoas na dieta de Atkins estavam cada vez mais magras! Como seria isto possível?

Para tentar responder a esta questão, o Dr.Gary Foster dirigiu um ensaio em que submeteu 60 pessoas a um regime hipocalórico tradicional e outras 60 à dieta de Atkins, sem qualquer restrição calórica, durante 6 meses. O Dr. Foster é o primeiro a admitir as fracas expectativas que tinha em relação ao estudo. Os resultados surpreenderam-no não só a ele como a toda uma comunidade científica incrédula. Os indivíduos na dieta de Atkins perderam o dobro do peso comparativamente ao regime hipocalórico comum. Além disso, a dieta de Atkins provou ser benéfica para parâmetros de risco cardiovascular, nomeadamente o colesterol. Atkins também podia andar sobre a água?

Mas não tardaram os estudos que tentavam desacreditar esta dieta. Muitos deles já foram aqui comentados por mim. A carne e a proteína faz mal aos rins? A gordura provoca cancro? As dietas hiperproteicas diminuem a densidade óssea? Felizmente estas hipóteses não têm passado disso mesmo. Teorias não comprovadas e julgo que nunca o virão a ser.

Um outro estudo muito referido quando se fala sobre a dieta de Atkins foi efectuado na Universidade do Kansas com dois gémeos colocados em isolamento durante 2 semanas, um numa dieta low-fat tradicional e outro no regime de Atkins. Tratando-se de câmaras metabólicas fechadas, era possível medir a energia fornecida e gasta através do oxigénio, alimentos ingeridos e excreções corporais. Para que a dieta de Atkins funcionasse, teria de haver alguma diferença entre o balanço energético dos dois regimes certo? Mas não foram encontradas diferenças significativas. Teria sido o golpe fatal na hipótese de Atkins?

Um outro estudo no Reino Unido deu um grande contributo para esta questão. Parecia que apesar de não haver qualquer restrição imposta em calorias, as pessoas na dieta de Atkins simplesmente comiam menos do que indivíduos sujeitos a regimes dietéticos tradicionais. Bom... arranjar uma forma de as pessoas comerem menos não tem sido o grande objectivo das dietas actuais? Se a dieta de Atkins o conseguia de forma natural e sem esforço, era algo a considerar. Mas qual seria a característica da dieta de Atkins que a tornava particularmente saciante? Foi provado que não eram as gorduras. Os hidratos de carbono muito menos.

Poderíamos lá chegar por exclusão de partes mas Arne Astrup tornou o exercício desnecessário. Nos seus estudo comparativo entre regimes hiperproteicos e high-carb, ficou peremptoriamente demonstrado que “a proteína o faz sentir saciado”. Tem um efeito anorexigénico único entre os macronutrientes. Isto é algo por que me tenho batido. Uma dieta bem sucedida terá sempre de passar por um consumo significativo de proteína. Afinal de contas, é por isto que gosto de culturismo…

O documentário fecha com a mesma conversa de sempre. “Não se conhecem os efeitos a longo prazo das dietas hiperproteicas e low-carb”. Mas temos décadas de experiência com dietas muito ricas em hidratos de carbono e açúcar. Sabemos os seus efeitos e não são nada positivos pois não? Talvez seja altura de alguma entidade oficial abrir os cordões à bolsa e financiar o mega-estudo que seria necessário para resolver a questão. Mas para ser sincero, tenho poucas esperanças que isto venha a acontecer no meu tempo de vida, e olhe que conto viver durante muitos mais anos.

Antes de passar ao que interessa, o documentário, queria só deixar um ou outro apontamento final. Eu não sou um defensor da dieta de Atkins e podia criticá-la em vários pontos. A minha abordagem é bem mais “primitiva”. Não sigo a dieta de ninguém, mas a dieta da minha espécie. Aquela para a qual estou adaptado. E nela não entra comida processada, sejam açúcares simples, hidratos refinados, charcutaria, alimentos fritos em óleos vegetais, etc. Esta é uma grande diferença em relação à dieta de Atkins e outros regimes cetogénicos. Refeições como salsichas, bacon e ovos mexidos com natas não fazem parte do meu menu.













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