Adoçantes não-calóricos: porque os deve evitar
Saúde

Adoçantes não-calóricos: porque os deve evitar



Já vos escrevi sobre os adoçantes artificiais [link], mas um artigo de opinião da investigadora Norte-Americana Susan Swithers [link], publicado recentemente no Trends in Endocrinology and Metabolism, trouxe o assunto de novo à discussão. Foram precisamente as experiências da investigadora com animais que eu relatei anteriormente. A minha posição relativa aos edulcorantes não-calóricos é clara e conhecida: são de evitar. Hoje discute-se entre a comunidade científica se a introdução destes aditivos na alimentação humana como forma de controlar o peso e diabetes estão a resultar, ou pelo contrário está a piorar ainda mais a situação. Não há prazer sem consequências.

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São muito escassos os estudos de intervenção, ensaios controlados, com Humanos que estudem o efeito dos edulcorantes, e os que existem são já muito antigos. Os resultados não apontam para um perigo significativo associado ao seu consumo. No entanto, é preciso ter em conta que o período e dose de exposição podem não refletir o que se verifica na vida real, em que algumas pessoas quase "vivem" à base de bebidas edulcoradas durante anos a fio. Agora até há as famosas águas com sabor! É verdade que alguns estudos em animais têm sugerido o risco de tumores, mas as doses e forma de exposição não  são extrapoláveis para o Homem. De qualquer forma, aditivos como o aspartame já pouco são usados na indústria alimentar a favor de alternativas, mas que na verdade pouco se sabe sobre a sua segurança a longo-prazo. No entanto, os potenciais malefícios dos adoçantes artificiais não passam apenas pela carcinogenese, mas principalmente por uma desregulação dos mecanismos de homeostase metabólica.

Estudos epidemiológicos prospectivos têm associado consistentemente o consumo de edulcorantes à obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, e Síndrome Metabólica, mesmo quando ajustado para o IMC. Este é um pormenor importante já que a associaçao poderia ser reversa, ou seja, as pessoas poderiam começar a consumir mais adoçantes quando ganham peso. Essa não parece ser a explicação, embora já saibamos das limitações dos estudos observacionais deste tipo. Associação não implica causalidade. Já escrevi isto uma dúzia de vezes aqui no blogue. Os ataques de tubarões na Austrália estão associados ao consumo de gelados. Será que os pobres peixinhos gostam das pessoas no seu pico de glicémia? Claro que não! O consumo de gelados aumenta com o calor, e os ataques de tubarões também! O consumo de edulcorantes poderá estar associado a outros hábitos menos saudáveis ou a uma sensação de impunidade. Se isto não tem calorias, então posso abusar naquilo. Ou então pode ser mais complexo do que isso...

É sabido que os adoçantes artificias não estimulam a dopamina como o açúcar. A dopamina está relacionada com o sistema de "recompensa" e prazer no cérebro. Uma vez que os adoçantes não provocam esta reacção, é possível que exista um comportamento de compensação com outros alimentos mais "recompensantes". Este é também um dos mecanismos que pode explicar o consumo excessivo de alimentos doces em indivíduos resistentes à insulina [link].

O sabor doce do açúcar tem um significado metabólico. É um sinal de calorias. Quando ingerimos um alimento doce, receptores no nosso sistema gastrointestinal sinalizam o organismo para a chegada de calorias. Vem aí energia! Ora, com os adoçantes artificiais essa sinalização ocorre, mas depois... não vem nada. Isto continua vezes a fio até que os receptores ficam "cansados". Dessensibilizam para o sabor doce e ficam incapazes de sinalizar a chegada de energia. Daqui resulta menos saciedade e uma inibição da termogénese induzida pelos alimentos (aumento da taxa metabólica em resposta à refeição). Os edulcorantes também não estimulam a secreção de incretinas (GIP e GLP-1) como os alimentos energéticos. Estas hormonas intestinais têm um importante papel na regulação da saciedade e glicémia após refeição, que assim não é activado. Como tal, a ingestão de alimentos nas refeições subsequentes aumenta, tal como o aporte total ao longo do dia. Esta foi a forma mais simples que arranjei para explicar a coisa...

Um outro aspecto importante a ter em conta é a capacidade dos edulcorantes em aumentar a expressão dos transportadores de glicose GLUT-2 na membrana apical dos enterócitos (face virada para o intestino) quando consumidos de forma crónica. Isto resulta numa maior e mais rápida capacidade de absorção da glicose que, em condições normais, anda perto das 60 g/h. O aumento da absorção pode levar a uma subida rápida dos níveis de glicose que, quando um certo grau de insulino-resistência está já instalada, não é compensada de imediato com a secreção de insulina e captação da glicose pelas células. Ora, a glicémia é constantemente monitorizada por gluco-receptores presentes no cérebro. Estes gluco-receptores não são sensíveis a glicémias absolutas, mas a flutuações de concentração. Mesmo que não ocorra hipoglicémia reactiva, a descida abaixo de níveis basais, só a redução da glicémia para níveis normais é percepcionada como um sinal de quebra energética. Resultado: fome precoce.

Grande parte dos problemas associados ao consumo de edulcorantes podem ser explicados à luz dos princípios do condicionamento Pavlovniano. Experiências que deixam de ser acompanhadas das consequências expectáveis podem eventualmente degradar ou extinguir a capacidade de evocar essas respostas em condições normais. A meu ver, há razões para evitar o consumo de adoçantes artificiais. Bem sei o quanto eles são parte integrante do "mundo do fitness", mas a sua ingestão deveria ser reduzida ao mínimo. Apesar de tudo, eu próprio acabo por consumir alguma sucralose com a whey, e apenas isso. É importante também entender que estes efeitos são comuns a todos os edulcorantes, naturais como o stevia ou artificiais como a sucralose ou sacarina. 

Eu optei por limitar a percepção do doce à whey, embora por vezes utilize whey natural, e à fruta (e nunca em sumo). As razões foram expostas e consigo viver muito bem com isso. Não ingiro produtos "light" ou coisa que se pareça. Na verdade, eu não ingiro "produtos". Ingiro alimentos. E é assim que eu julgo que deve ser, e é assim que eu recomendo.






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