Estrogénios e hipoglicemia: uma consequência de ser mulher?
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Estrogénios e hipoglicemia: uma consequência de ser mulher?




O público feminino não é deixado de lado aqui no blogue. Na verdade seria uma tremenda injustiça já que uma grande fatia dos leitores são de facto mulheres. Já aqui falámos sobre vários aspectos relacionados com o impacto dos estrogénios no apetite e composição corporal [1,2]. Até sobre algumas estratégias nutricionais que podem ser uma ajuda [3]. Muito mais há a dizer, mas vamos por partes. Queria agora falar-vos um pouco sobre o efeito dos estrogénios, em especial os sintéticos (aka pílula), na propensão para hipoglicemia reactiva, um sintoma tão comum entre as mulheres e com um impacto significativo na qualidade de vida.


Como vimos [LINK], os estrogénios em excesso, seja por uma predominância estrogénica (na fase pré-menstrual ou não) ou administração de anti-concepcionais orais, reduzem a densidade de receptores de dopamina e serotonina no cérebro [LINK]. Isto leva a uma maior apetência por doces e outros alimentos de caracter hedónico (prazer), como funk food, chocolates, etc. Mas na verdade, esta não é a única razão para a fome constante, em particular por hidratos de carbono e açucares. Os estrogénios podem também levar a hipoglicemia reactiva recorrente após refeição.

Saba-se que os estrogénios aumentam a sensibilidade à insulina e captação de glicose. Isto parece, e é, bom, mas até certo ponto. Nem tanto se considerarmos o efeito dos estrogénios a nível da libertação de insulina. Eles têm um papel insulinotrópico, ou seja, potenciam a secreção de insulina pelas células beta do pâncreas. Resultado? Excesso de insulina após estímulo que, aliado a uma elevada sensibilidade das células, leva a uma queda abrupta da glicemia. Esta quebra, hipoglicemia reactiva, activa mecanismos neuroendócrinos que resultam em fome, apetite por doces, irritabilidade, quebras de humor, dificuldade de concentração e, em última instância, tonturas, quebras de tensão arterial, sudação e tremores.

A hipoglicemia recorrente é mais comum do que se possa imaginar e com um impacto significativo na qualidade de vida, e até relações sociais. A fome constante, tonturas, irritabilidade são sintomas com ramificações profundas no quotidiano de cada um. Como vimos, um desequilíbrio hormonal como a predominância estrogénica pode ser o factor causal, e a toma de anticoncepcionais orais, tão comum hoje em dia, é por si um factor de risco. No fundo tratam-se de hormonas sintéticas aparentadas com o estradiol que accionam todos os mecanismos revistos aqui. O fígado é um órgão particularmente sensível já que é por ele que estas substancias de administração oral passam primeiramente. Neste, um dos efeitos reconhecidos é a inibição da gluconeogénese (produção de glicose) [LINK]. O que isto significa? Não só os estrogénios levam a uma remoção de glicose demasiado rápida, como também inibem os mecanismos endógenos de manutenção da glicemia. O fígado não consegue libertar glicose para a circulação para manter a glicemia estável [LINK].



Como resolver? Na base deverá estar sempre o re-equilíbrio hormonal, e a nutrição tem aqui uma palavra a dizer [LINK]. Além disso, reduzir a carga glicemica da dieta (quantidade de hidratos de carbono e velocidade de absorção) é também uma estratégia interessante, e muitas mulheres reportam aliás um alivio dos sintomas quando diminuem a quantidade de hidratos de carbono ingeridos. O polifraccinamento alimentar igualmente. Refeições regulares de 3 em 3 horas facilitam a manutenção da glicemia estável, embora a carga glicemica seja de longe o factor determinante nestas pequenas refeições ao longo do dia.

Os sintomas de hipoglicemia reactiva são tão comuns que muitas vezes pensamos fazerem parte da nossa vida. Uma consequência da nossa existência. Não tem de ser assim. Embora os factores causais sejam múltiplos, as mulheres são particularmente sensíveis devido ao efeito dos estrogénios, em particular quando os desequilíbrios se instalam. No entanto, é possível contornar, e até tratar, com a nutrição funcional. Pequenas alterações podem ter um impacto muito profundo na nossa qualidade de vida.



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