FORTIFICAÇÃO DE ALIMENTOS COM ÁCIDO FÓLICO: QUAIS SÃO OS RISCOS?
Saúde

FORTIFICAÇÃO DE ALIMENTOS COM ÁCIDO FÓLICO: QUAIS SÃO OS RISCOS?


O ácido fólico, também conhecido como folato, é uma vitamina hidrossolúvel e faz parte das vitaminas do complexo B. Pode ser encontrada em folhagens verdes, como espinafre, brócolis e couve, em legumes, frutas secas, grãos, como o feijão e em vísceras de animais.
Os folatos estão envolvidos em complexas vias e em um grande número de processos bioquímicos essenciais, possuindo papel fundamental na formação de proteínas estruturais e da hemoglobina. Possuem a função de cofator para as enzimas da biossíntese de nucleotídeos purínicos e pirimidínicos, que fazem parte da síntese de DNA e RNA e nas reações de metilação. Por desempenhar função essencial na divisão celular, este micronutriente tem aspecto central no desenvolvimento fetal. Durante a gravidez interfere com o alargamento do útero, aumento dos eritrócitos, crescimento da placenta e do feto e o fechamento do tubo neural, estrutura que dá origem ao sistema nervoso central e a medula espinhal. Quando esse tubo não consegue completar a neurulação, ocorre o defeito originando doenças que causam morte ou sequelas graves nos recém-nascidos, sendo as mais freqüentes a anencefalia e a espinha bífida. Além das complicações na gravidez e malformações fetais, a deficiência de folato pode ocasionar anemia megaloblástica e aumentar o risco para doenças cardiovasculares. Estudos epidemiológicos têm demonstrado que a suplementação com ácido fólico pode reduzir significativamente o risco de doenças cardiovasculares, hematológicas, neurológicas e defeito do tubo neural.

A ingestão adequada de ácido fólico varia de acordo com a idade e sexo. O requerimento diário desta vitamina é progressivo durante a infância, e essa necessidade se altera em situações nas quais ocorrem modificações do metabolismo, como na gestação e na lactação. A IDR, Ingestão Diária Recomendada (IDR) é a quantidade de vitaminas, minerais e proteínas que deve ser consumida diariamente para atender às necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos e grupos de pessoas de uma população sadia, é de 240mcg para adultos e de 355mcg para gestantes, de acordo com a Resolução - RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005 da ANVISA.
Os altos índices de anemia e de doenças fetais causadas pela deficiência de ácido fólico na população brasileira, levaram o Ministério da Saúde e a Anvisa tornar obrigatória a fortificação das farinhas de trigo e milho, através da da Resolução - RDC nº 344, de 13 de dezembro de 2002. Tanto as farinhas de trigo e de milho vendidas diretamente ao consumidor, quanto aquelas utilizadas como matéria-prima pelas indústrias, na fabricação de outros produtos, devem ser enriquecidas com ferro e ácido fólico, a partir de junho de 2004. Cada 100g de farinha de trigo e de milho deverá conter 150 mcg de ácido fólico. Com isso, as farinhas e produtos, como pães, macarrão, biscoitos, misturas para bolos e salgadinhos deverão apresentar maior quantidade de ferro e ácido fólico em sua formulação final.
Vários produtos alimentícios presentes no mercado brasileiro apresentam valores acima desse mínimo recomendado, como é o caso do Sucrilhos Kellogg’s, o Ovomaltine Flocos Crocantes e o Neston 3 cereais:

Figura 1. Tabela Nutricional do Sucrilhos Kellogg’s: apresenta 58mcg de ácido fólico para cada 30g do produto, o que corresponde a 193mcg em 100g do produto.


Figura 2. Tabela Nutricional do Ovomaltine Flocos Crocantes: apresenta 36mcg para cada 20g do produto, o que corresponde a 180mcg em 100g do produto.

Figura 3. Tabela Nutricional do Neston 3 cereais: apresenta 52mcg para cada 24g do produto, o que corresponde a 216mcg em 100g do produto.

Será então que essa combinação de fontes nutricionais de ácido fólico teria algum risco devido ao consumo acima de um certo limite? Toda a população então deve consumir mais ácido fólico e pagar mais por isso? Não seria melhor suplementar mulheres grávidas com ácido fólico em comprimidos, cápsulas ou gotas?
A ingestão máxima diária recomendada é de 1000mcg/dia. O ácido fólico oral não é tóxico para o homem, mas oexcesso pode causar nervosismo, euforia, hiperatividade, insônia e distúrbios gastrintestinais. Porém, mesmo com doses diárias tão elevadas como 15mg (cerca de 40 vezes a IDR), não têm existido relatos substanciados de toxicidade. Já em determinadas condições, como em doses de 40mg (100 vezes a IDR), o ácido fólico pode ser tóxico: pode aumentar a freqüência de crises convulsivas em indivíduos epilépticos e pode mascarar uma deficiência em vitamina B12, além de poder piorar a lesão neurológica nesse indivíduos. Mas a probabilidade de um indivíduo alcançar esses níveis extremos de ingestão de ácido fólico somente com esses alimentos fortificados é muito baixa. Para chegar, por exemplo, a dose diária de 15mg, uma pessoa deveria ingerir cerca de 10kg de farinha de trigo fortificada por dia, que seria cerca de 360000kcal, o que é 180 vezes o valor diário de uma dieta de 2000kcal. Ou seja, ultrapassar esses limites que poderiam causar alguma complicação ou toxicidade é quase impossível.
Dessa forma, é muito mais vantajoso para a população em geral a fortificação de alimentos, pois traz muitos benefícios a saúde e quase nenhum risco. Além disso, apresenta-se como intervenção de saúde pública de custo-efetividade, já que o custo da fortificação da farinha é muito baixo. Para 100 kg do alimento são gastos, no máximo, R$ 0,05. Para cada quilo seriam gastos R$ 0,0005 (cinco centésimos de centavo de Real), valor irrelevante no custo final do produtos.
Referências Bibliográficas:

BRASIL. Resolução - RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005 da ANVISA.
BRASIL. Resolução - RDC nº 344, de 13 de dezembro de 2002 da ANVISA.
PACHECO, S. S. et al . Efeito da fortificação alimentar com ácido fólico na prevalência de defeitos do tubo neural. Rev. Saúde Pública,  São Paulo ,  v. 43, n. 4, Aug.  2009 .
MARCHIORO, A. A. et al. Importância do ácido fólico. Review Uningá, Maringá, n. 01, 64-70, Jan 2010.
Manual Merck – Saúde para a Família: http://mmspf.msdonline.com.br/pacientes/manual_merck/secao_12/cap_135.html#section_18

  Autora: Carolina Mattos de Araujo Sant'Anna



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