Saúde
A arginina pode favorecer um melhor controlo da glicémia após as refeições
Um dos efeitos mais marcantes da resistência à insulina é um controlo errático da glicémia, que geralmente assume valores anormalmente altos após as refeições. Estabilizar os valores de glicose no sangue é uma estratégia eficaz para controlar o apetite, que pode ser conseguida através da promoção da sensibilidade à insulina ou pelas características dos alimentos que ingerimos. Sabe-se que a adição de amêndoas a uma refeição rica em hidratos de carbono reduz o pico e exposição total à glicose. Pensa-se que este efeito possa estar relacionado com uma diminuição da velocidade de absorção de glicose no intestino, favorecendo uma captação faseada com que é mais fácil de lidar. Mas um estudo agora publicado sugere que este efeito pode ter outra explicação [link]. A arginina, um aminoácido encontrado em alimentos como as amêndoas, ovos, e salmão (ou suplementação) em grande quantidade parece favorecer uma tolerância à glicose comparável a alguns anti-diabéticos orais.
Há já algum tempo que a comunidade científica se debruça sobre os efeitos anti-hiperglicemiantes da arginina, e várias explicações têm surgido. A arginina aumenta a secreção de insulina pelo pâncreas através de um efeito directo nas células beta ou via hormonal. Além disso, é possível que o aumento da perfusão tecidual pela maior síntese de NO possa também facilitar a captação de glicose. No entanto, e especialmente em indivíduos insulino-resistentes, nos quais a vasodilatação está comprometida, não creio que este último mecanismo possa explicar o fenómeno. Resta-nos explorar a primeira hipótese.
Após uma carga oral de arginina, os níveis no sangue não elevam substancialmente, a não ser através de doses massivas apenas conseguidas em suplementos alimentares. A arginina é metabolizada nas próprias células intestinais e fígado, os primeiros locais por onde passa após absorção, atingindo níveis modestos na circulação periférica. No entanto, o pâncreas como órgão central recebe maiores concentrações que, eventualmente, podem estimular a insulina de forma significativa. A arginina é um aminoácido com carga positiva, que, ao entrar na célula beta, leva a uma despolarização e consequente libertação de insulina.
No estudo mencionado, os investigadores estudaram o efeito da arginina na glicémia de ratinhos insulino-resistentes e insulino-sensíveis. Os resultados são bastante animadores, com a arginina a favorecer um melhor controlo glicémico e níveis mais baixos após as refeições. O efeito é tão robusto que pode ser comparado aos fármacos anti-diabéticos. Mas mais interessante do que isso foi a demonstração de que a arginina estimula eficazmente o GLP-1, uma hormona intestinal que aumenta a libertação de insulina e promove sensibilidade à sua acção. A importância do GLP-1 a este nível é óbvio pelo interesse que tem suscitado como terapia anti-diabética [link]. Tratando-se de um efeito directo a nível das células intestinais, o limiar de concentração depende essencialmente da dieta. A ingestão de alimentos ricos em arginina pode de factor favorecer o GLP-1 e assim um melhor controlo da glicémia e saciedade.
Não se sabe ainda se a concentração atingível através dos alimentos é suficiente para um efeito significativo a nível do GLP-1, mas é possível que sim. Uma dose de 1 g/Kg em animais traduz-se em algo perto das 0,08 g/Kg em humanos (6 g para uma pessoa de 75 Kg), tendo em conta as diferenças no metabolismo. Serão necessários mais estudos, e desta vez com humanos. Mas mesmo tratando-se de um estudo com ratinhos, não é descabido pensar num efeito idêntico em humanos, até pelos efeitos conhecidos de alguns alimentos no controlo da glicémia, nomeadamente as amêndoas [link]. Alguns estudos têm também sugerido que a arginina pode favorecer a perda de gordura [link], e talvez seja o GLP-1 a fazer a ponte. Há muito que se sabe o efeito redutor de peso nos análogos sintéticos de GLP-1 utilizados na terapia para a diabetes [link]. A ingestão de arginina às refeições, nos alimentos ou como suplemento, pode favorecer um melhor controlo da glicémia, menores picos de glicose, e um efeito saciante.
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