Dados que retirei do Google Books mostram um incremento na percentagem do bigrama "câncer da próstata" (em Inglês), que interpreto como maior atenção dada a este câncer. Não se intimide com a expressão "bigrama". Significa duas palavras: câncer e próstata. As pessoas estão escrevendo mais ou menos sobre o câncer da próstata. É sobre isso que pesquisei o Google Books.
O que é o projeto Google Books?
Até agosto de 2010 quase 130 milhões de livros haviam sido publicados no mundo de acordo com um engenheiro do projeto chamado Google Books. A Google se lançou, então, à tarefa de escanear esses livros (que foram escritos em 480 idiomas). Até junho daquele ano, tinha escaneado cerca de doze milhões de livros. A despeito do cuidado que tiveram em definir bem, obter e escanear os livros, é claro que não são universos dos livros publicados neste ou naquele idioma. Ainda falta muito. Não obstante, tanto mais central o idioma, maior a facilidade em encontrar os livros. A codificação desses livros em alguns idiomas constituem os corpora que alguns analistas estão usando. Infelizmente, ainda não foi criado um corpus em português. Corpus é o conjunto de palavras usadas para fazer a pesquisa. Cada idioma tem um. Por isso, usei o maior nessa pesquisa - o corpus dos livros em Inglês.
O que significa isso?
Significa que a percentagem de todas as palavras usadas em vários milhões de livros de todo tipo. Proponho que a frequência relativa com que a expressão prostate cancer foi usada em livros escritos em Inglês é um indicador útil da preocupação da humanidade com essa doença.
Há dois outros dados relevantes: observa-se uma crescente distância entre a atenção dada ao câncer da mama (maior) e a dada ao câncer da próstata (menor). É um dado esperado, dado o ativismo positivo das mulheres e a vergonha machista dos homens de falar "desses problemas" e até de fazer os exames quando necessários. A diferença entre a importância dada por quem escreve livros ao câncer da mama e ao câncer da próstata é a diferença entre as duas linhas. A de cima se refere ao câncer da mama e a de baixo ao câncer da próstata. A diferença cresceu muito durante as décadas de 70 e de 80.
Há outro dado preocupante, que é o fim do crescimento dessa presença nos livros, tanto no que se refere ao câncer da próstata, quanto ao que se refere ao câncer da mama. A percentagem parou de crescer em 2002. Não quer isso dizer que diminuiu o número de referências a estes cânceres, mas que há novas fontes de interesse para as pessoas que escrevem livros.
Por isso, todos os que sofremos de câncer - de qualquer câncer - temos que exercer a cidadania e exigir a devida atenção do setor público para esse assassino de massas, o câncer. Assassino de massas? É: perto de oito milhões de pessoas morrem anualmente vitimadas pelo câncer.
GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ