As desventuras de dois pesquisadores
Médicos e oncólogos não precisam de proteção especial quando participam de simpósios, mas Howard I. Scher do Sloan-Kettering e outro pesquisador, que fizeram uma apresentação na Sociedade Americana de Oncologia Clínica, estavam com medo. Eles estão no centro de um debate sobre uma terapia experimental para o câncer de próstata. Eles deram um parecer contrário ao uso imediato de uma nova terapia, chamada Provenge, é uma “vacina” projetada estender as vidas dos pacientes com câncer avançado estimulando seus sistemas imunes. O debate sobre o Provenge ilustra a atmosfera carregada que cerca tratamentos novos: o desespero de pacientes doentes terminais e, também, o interesse financeiro dos investidores. Deu de tudo: ameaças, debates pesados nos sites, transformando a internet num instrumento belicoso. Um painel de especialistas recomendou em março que o FDA aprovasse o Provenge. Mas em maio, a agência solicitou mais dados e mais evidência de que a vacina realmente funciona. Aí entraram Scher e Hussain, que colocaram em questão a sua eficácia. Scher e Hussain disseram ao FDA que pedisse a Dendreon Corp., uma companhia pequena de Seattle que desenvolveu Provenge, mais dados porque os resultados apresentados poderiam ser devidos ao acaso. Foi o que desencadeou uma explosão da parte de pacientes e investidores. As ações da Dendreon tinham aumentado muito, mas despencaram depois da suspensão da permissão para produzir e vender até que novos dados ficassem disponíveis. A discussão e o debate saíram do âmbito acadêmico e baixaram aos porões do capitalismo mais podre.
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