Aumento de prescrições de benzodiazepínico no Canadá revela medicalização do envelhecimento
Saúde

Aumento de prescrições de benzodiazepínico no Canadá revela medicalização do envelhecimento


A prescrição de ansiolíticos se tornou uma prática comum, em especial, no que se refere a pessoas idosas, para a redução imediata dos sintomas da ansiedade ou da insônia, sem resolver o problema original. E, diz a pesquisadora canadense, Dra. Guilhème Pérodeu, “ainda que os usuários e os profissionais de saúde considerem negativo o uso prolongado do benzodiazepínico (BZD), eles não lançam mão de alternativas”.
 
O seminário “Uma perspectiva sistemática sobre a medicalização do envelhecimento: o caso de benzodiazepínico (BZD)” trouxe ao Rio a alta expertise da pesquisadora canadense, Dra. Guilhème Pérodeu, no dia 16 de julho, terça-feira, de 09:30 às 12:00, em promoção conjunta do Centro Internacional de Longevidade (ILC-BR) e do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE). Realizado no auditório do CEPE (Avenida Padre Leonel Franca, 248, Gávea, Rio de Janeiro), o seminário teve mediação do médico e gerontólogo, Alexandre Kalache, presidente do ILC-BR, e debate com as  pesquisadoras Suely Rozenfeld (ENSP/Fiocruz) e Louise Plouffe (ILC-BR).
 
A Dra. Guilhème Pérodeau discutiu as implicações para políticas de saúde e para a prática clínica dos resultados de um estudo qualitativo sobre o uso de benzodiazepínico que contrastou as atitudes de 9 médicos prescritores, 11 farmacêuticos, 7 pessoas-chave e 23 usuários de longo prazo do medicamento, que tinham 50 anos e mais. O estudo foi realizado no Canadá, com o olhar nos fatores individuais, interpessoais e sociais, que contribuem para as questões sobre medicalização do envelhecimento.
 
Segundo Guilhème Pérodeau, o uso dessa droga psicotrópica para sintomas de ansiedade e insônia deve ser encarado como um fenômeno social, mais especificamente como um meio de “medicalizar” o envelhecimento normal. “Em outras palavras, o BZD é uma ‘prescrição rápida’ para o que é de fato uma questão de saúde complexa, inerente à experiência de vida e ao sentido atribuído ao fato de se ser idoso na sociedade atual. É a isso que chamamos de ‘medicalização do envelhecimento’”.
 
A brilhante apresentação da pesquisadora recomendou que a intervenção seja baseada nos seguintes pontos: (a) As atitudes individuais e a percepção dos sintomas de ansiedade e insônia devem considerar as representações do processo de envelhecimento em uma sociedade que valoriza a juventude e o imediatismo. (b) Mudanças na atitude pública em relação ao uso prolongado de psicotrópicos e questionamento de sua legitimidade, especialmente, na ausência de intervenção psicológica. (c) Transformação da visão social sobre o envelhecimento.
No debate, partir da esquerda: Alexandre Kalache, Guilhème Pérodeau, Louise Plouffe e Suely Rozenfeld.
 
Em suas considerações, a pesquisadora Suely Rozenfeld destacou a importância de que a solução para o excesso de prescrições leve em conta o contexto multicausal e indicou o site do Proqualis como fonte de informação sobre a abordagem multifatorial de eventos adversos com medicamentos.
 
Sobre contribuições na área de políticas públicas, Louise Plouffe analisou o problema como antigo - evidenciado na década de 1980 - e sugeriu quatro pontos de enfrentamento: elaboração de diretrizes clínicas orientadoras da prescrição de ansiolíticos; inclusão de agenda específica em programas para dependentes; inserção do tema no currículo de formação médica; desenvolvimento de iniciativas para mudar a prática.
A partir da esquerda: Alexandre Kalache, Guilhème Pérodeau, Louise Plouffe, Suely Rozenfeld e o Diretor do CEPE, Roberto Magalhães.
 
O seminário foi o sexto evento do ciclo “Inovações em Políticas Públicas sobre Envelhecimento”, que já apresentou a Proposta do Chile para uma Política Nacional para Alzheimer e outras demências (21 de fevereiro); Cidade de Nova Iorque Amiga do Idoso (26 de fevereiro); Estado de São Paulo Amigo do Idoso (26 de março); As políticas públicas do envelhecimento no Canadá (30 de abril) e Qual é o papel das evidências na formulação de políticas públicas do envelhecimento? (16 de maio).

Para solicitar a apresentação feita neste Seminário, assim como nos demais, enviar email para [email protected].
 
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O Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brazil) é uma organização filiada à rede global de International Longevity Centers (ILCs), instituídos como “usinas de idéias” (think tanks) para políticas públicas intersetoriais voltadas ao envelhecimento populacional. Como espaço autônomo de ideias, se destina à produção do conhecimento, troca de informações, mobilização social e relações internacionais sobre os temas da longevidade e do envelhecimento. Atua em parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE), do Instituto Vital Brazil.



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