Saúde
Chia: emagrecimento rápido e saudável? Será mesmo?
A semente de Chia é oriunda da planta mexicana Salvia hispânica L. e vem sendo divulgada como a mais "nova" aliada no combate à obesidade, prometendo perda de peso rápida e saudável. Manchetes que tratam a semente como um produto milagroso, nutricionalmente mais rico que a linhaça e a quinua, podem ser vistas em diversas reportagens e propagandas. Considerada um alimento funcional por especialistas da nutrição, a semente de Chia é descrita como um alimento completo: alto valor energético, fonte de ômega-3, minerais, fibras e proteínas. Contudo, é correto afirmar que o consumo isolado dessa semente promova todos os resultados que vem sendo divulgados? A semente de Chia é de fato mais “poderosa” que as demais? Quanto de Chia deve ser consumida para se beneficiar dos seus efeitos e como deve ser esse consumo? O que a legislação diz sobre isso? Questionamentos que devem ser esclarecidos para quem deseja acrescentar a semente de Chia à sua dieta.
Apresentação
A Chia (Salvia hispânica L.) é uma planta originária do México e Colômbia, cultivada a milhares de anos e utilizada na alimentação de indígenas. Na língua maia, Chia significa força, sendo considerada um “superalimento” por ser capaz de suprir as necessidades nutricionais diárias de um indivíduo adulto. Suas sementes são ovais e pequenas, de cor preta, marrom ou cinza, sendo essencialmente insípidas, de modo que podem ser adicionadas a qualquer outro alimento sem alterar o seu sabor. Nos últimos anos, o cultivo desse vegetal tem sido resgatado devido às propriedades nutricionais que possui e sua ingestão já vem sendo associada ao tratamento de diversas doenças como obesidade, diabetes, dislipidemias, hipertensão e outras doenças cardiovasculares. As propriedades terapêuticas da Chia são, em grande parte, atribuídas ao excelente teor de ômega-3 que possui. O grão contém ainda compostos antioxidantes (ácido caféico), fibras dietéticas e proteínas de alta digestibilidade, além de ser rica em ferro, fósforo, potássio e magnésio. Porém, a qualidade nutricional do grão depende do solo onde este é plantado e de sua interação com o meio ambiente.
A Chia pode ser encontrada para compra em forma de sementes, farinha ou óleo. Contudo, é necessário estar atento quando se trata da farinha de Chia, pois algumas empresas ao produzi-la fazem a extração parcial do óleo, e assim retiram grande parte dos ômegas presentes, deixando o produto nutricionalmente mais pobre. Na embalagem do produto deve estar descrito se a farinha é parcialmente desengordurada ou se é integral, podendo também ser observada a quantidade de gorduras através da tabela nutricional.
Fundamentos
• Ômega-3
A Chia possui entre 32 e 39% de óleos em sua composição, sendo cerca de 60% correspondente ao ácido alfa-linolênico (ômega-3), cujos benefícios já são comprovados. Estudos clínicos mostram que o ômega-3 auxilia no controle da pressão sanguínea e na redução de triglicérides e colesterol, possuindo ainda atividade antitrombótica e anti-inflamatória que protege o organismo contra doenças cardiovasculares. Além disso, o ômega-3 traz benefícios no humor e aprendizado, aumentando a capacidade de concentração e proporcionando o equilíbrio emocional. Um estudo da Universidade de Ohio/EUA, provou que estudantes que ingeriram uma dose diária da Chia reduziram os níveis de ansiedade em comparação a quem tomou placebo.
• Proteínas e Fibras
A Chia é uma grande fonte de proteína, contendo cerca de 20% em sua composição. As proteínas desse grão são de boa digestibilidade e de alto valor biológico, pois possuem aminoácidos essenciais. A semente de chia possui em 100g, 36% de fibras insolúveis e 5% de fibras solúveis, totalizando 40% de fibras dietéticas que possuem diversos efeitos benéficos para a saúde, auxiliando no controle da glicemia e aumentando saciedade. Devido a sua capacidade em absorver água, as fibras insolúveis aceleram o trânsito intestinal e aumentam o peso das fezes. Já as fibras solúveis formam um gel no estômago e intestino que garante o aumento do quimo, prolongando o tempo de absorção da glicose e aumentando a saciedade. O potencial “emagrecedor” do grão é atribuído a essa grande quantidade de fibras. Ao entrar em contato com a água ou outros líquidos, a Chia aumenta até 12 vezes de tamanho, ocupando um grande volume no estômago. Com isso, os hormônios que avisam ao cérebro que o corpo já foi alimentado começam a entrar em ação, ativando mais rapidamente a saciedade, permitindo um melhor controle da fome. Segundo nutricionistas, para obter tal efeito deve-se consumir uma colher de sopa de chia, 30 minutos antes das refeições. O consumo diário de fibras recomendado é de 20 a 35g.
• Minerais
A semente de Chia é uma excelente fonte de cálcio, ferro, fósforo, magnésio e potássio. Cerca de 100g de Chia pode conter de 13 a 35 vezes mais cálcio, de 2 a 12 vezes mais fósforo, e até 9 vezes mais potássio do que o trigo, arroz, cevada, aveia e milho. O Cálcio previne a osteoporose ou suaviza os seus efeitos. O fósforo melhora a atividade do cérebro, enquanto o potássio melhora a atividade muscular e ajuda a manter a pressão arterial estável.
Legislação
Por se tratar de um produto recente no Brasil, ainda há carência da legislação a respeito da Chia e do seu consumo. Na Europa, a Chia foi classificada como um novo alimento através do regulamento 258/97 da UE Novel Foods, devido à falta de consumo pela população local antes de 1997. Em 2009, o status da semente de Chia foi alterado tornando-a reconhecida e aprovada como um novo ingrediente que poderia ser vendido e consumido. Devido ao aumento do consumo humano da Chia nos últimos anos, o grão foi aprovado legalmente como alimento na América do Norte, Austrália, Argentina, e na Ásia. Segundo o FDA, a Chia é considerada um alimento isento de regulação devido a ausência de riscos à saúde e ao consumo histórico que possui. Devido às alegações terapêuticas, a Chia vem sendo considerada um alimento funcional básico (natural, cru e sem aditivos). As substâncias com alegações de propriedades funcionais presentes na Chia e aprovadas pela ANVISA são: ômega-3, Fibras e fitoesteróis. Segundo a legislação brasileira, os alimentos que apresentarem em seus dizeres de rotulagem ou material publicitário as alegações de propriedade funcional dos nutrientes citados devem ser registrados na categoria de “Alimentos com Alegações de Propriedade Funcional e ou de Saúde”. Assim, devem ter registro prévio à comercialização, conforme a RDC nº. 278/2005.
Discussão
A Chia pode ser consumida de três formas: in natura (grãos), óleo e farinha. Independentemente da forma de consumo, a ingestão deve ser sempre 30 minutos antes de duas das principais refeições diárias. O grão pode ser consumido puro ou misturado a frutas, sendo o consumo ideal de uma colher (sopa) da semente 30 minutos antes das refeições. O óleo pode ser utilizado como tempero em saladas, contudo, ele não conta com os benefícios das fibras, encontradas exclusivamente na farinha e nos grãos. A Farinha pode ser adicionada no preparo de iogurtes, vitaminas e saladas, sempre utilizando a porção de uma colher (sopa). Além das formas de consumo citadas, a Chia pode ser utilizada na produção de pães, bolos, hambúrgueres, etc. O importante é não ultrapassar 2 colheres (sopa) por dia . Apesar das evidências, alegações de que a Chia é mais “poderosa” nutricionalmente do que a linhaça e a quinoa, por exemplo, devem ser feitas com cautela, já que é preciso diversas análises desses alimentos para de fato afirmar. No entanto, sabe-se que a oxidação da Chia é mínima, pois ela é rica em antioxidantes, como o ácido caféico. Comparando com a linhaça, a Chia é rica em vitamina B e possui maior teor de ômega-3. Em relação à quinua, quando se trata de vitaminas e minerais, ela apresenta-se superior a Chia. O poder de emagrecimento atribuído à Chia está relacionado a elevada quantidade de fibras que faz com que a digestão ocorra de maneira mais lenta, gerando a sensação de saciedade e levando ao consumo de porções menores dos demais alimentos. Além disso, o magnésio favorece o correto funcionamento do metabolismo celular, ajudando a manter o peso ou até mesmo emagrecer em alguns casos. Ainda que historicamente a Chia seja considerada um “superalimento” e apesar da grande publicidade em torno dos efeitos benéficos que ela proporciona, quando se busca na literatura científica a respeito, a decepção é grande. Um dos poucos estudos científicos notórios acerca da Chia concluiu que o consumo dela, por si só, não promove perda de peso ou alteram o colesterol, a pressão arterial e o estresse oxidativo, ou seja, segundo o estudo a Chia não gera os resultados para o qual se propõe. A propriedade emagrecedora da semente é, sem dúvida, a mais divulgada e também a mais procurada pelos consumidores. Embora não sejam relatadas contraindicações, a semente de Chia é altamente calórica e em excesso pode levar ao ganho de peso. Vale lembrar que muitos dos alimentos ditos “emagrecedores” mais atrapalham do que ajudam, já que tiram o foco das escolhas saudáveis na alimentação, além de acrescentarem calorias à dieta quando não são feitas substituições. Por exemplo, um colher de semente de chia tem a quantidade de calorias equivalente a 2 colheres de arroz ou um fatia de pão.
Conclusão e Recomendações
Apesar das evidências de que a Chia promova diversos benefícios ao consumidor, ainda são necessários maiores estudos para que o grão seja considerado um alimento funcional. Os estudos realizados até então mostram dados promissores e um bom potencial, mas o consumo do grão deve estar sempre associado a uma dieta balanceada, respeitando a individualidade bioquímica de cada um. A Chia não deve ser tratada como uma “semente milagrosa”, mas com uma ferramenta útil que deve estar associada a uma alimentação balanceada e a atividade física regular.
Referências Bibliográficas
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