Coca-Cola: vilã dos dentes ou lenda?
Saúde

Coca-Cola: vilã dos dentes ou lenda?


  A partir da década de 60, as medidas preventivas adotadas para o controle da cárie fizeram com que a preocupação da classe odontológica com a perda dos dentes se voltasse para outras causas. Dentre elas, a erosão dental ainda é um problema que preocupa muitos profissionais da área. Tal processo pode ser provocado por fatores extrínsecos como, por exemplo, ácidos presentes em refrigerantes. Neste contexto, a Coca-Cola é um refrigerante que merece destaque, visto que é comercializada em mais de 200 países, que o Brasil é o quarto país no mundo que mais consome o refrigerante e que, supostamente, tal bebida possuiria altos teores de ácido fosfórico, seu acidulante. Com base nestas informações, seria verdade que a Coca-Cola é uma bebida prejudicial para a saúde bucal, provocando a erosão dental? Não seria a saliva suficiente para reverter as possíveis alterações provocadas pela Coca-Cola ao esmalte-dentina? Para obter as respostas a tais perguntas, leia mais sobre o tema.





A Coca-Cola é o refrigerante mais popular e mais vendido da história, tendo também alcançado a marca de produto mais conhecido no mundo. Com sabor de noz de cola, a Coca-Cola é comercializada pela The Coca-Cola Company em mais de 200 países. Inventada em 1886 pelo farmacêutico John S. Pemberton em Atlanta, Georgia, EUA e patenteada no ano seguinte, o refrigerante só começou a ser vendido nos Estados Unidos em 1895. No Brasil, o lançamento da Coca-Cola ocorreu em 1942, alcançando o posto de refrigerante mais consumido no país.
                                                         
Os ingredientes que compõem a Coca-Cola são: água gaseificada, açúcar, extrato de noz de cola, cafeína, corante caramelo IV, acidulante INS 338 e aroma natural.

Por ser um produto mundialmente famoso e consumido, a Coca-Cola está constantemente envolvida em boatos e rumores, os quais, muitas vezes, ganham grande divulgação pela mídia e imprensa. Dentre eles, um dos rumores que envolvem a marca é o de que a Coca-Cola poderia provocar a erosão dental devido à presença de altos teores de acidulante na bebida. Por este motivo, o presente trabalho visa esclarecer se, de fato, a Coca-Cola representa um risco para a saúde bucal.

A partir da década de 60, devido à redução da prevalência de cáries na população, estas deixaram de ser a principal causa para a perda dos dentes. Por este motivo, a classe odontológica voltou sua atenção para outras causas, como, por exemplo, a erosão dental.

A erosão dental é definida como o resultado físico de uma perda de tecido duro da superfície dental provocada por ácidos e/ou quelantes, sem o envolvimento de bactérias. Este fenômeno pode resultar em consequências sérias para a saúde bucal, uma vez que perdas de tecido podem levar à sensibilidade, dor e má aparência. Além disto, o tratamento para restaurar o esmalte e/ou dentina perdidos em decorrência da erosão é difícil, oneroso e requer acompanhamento contínuo.

O fenômeno da erosão dental pode ser causado por fatores extrínsecos, intrínsecos ou idiopáticos. Os fatores extrínsecos envolvem ácidos de origem exógena, tais como aqueles contidos em refrigerantes como a Coca-Cola. Já a erosão intrínseca é o resultado de ácidos produzidos pelo próprio organismo e presentes em vômitos, regurgitação e refluxos recorrentes. Os fatores idiopáticos, por sua vez, são ácidos de origem desconhecida. No presente estudo, apenas a erosão extrínseca será levada em questão, uma vez que o objetivo é avaliar se os ácidos presentes na Coca-Cola são capazes de promover a erosão dental.

Uma das primeiras indagações a ser feita e respondida com relação à Coca-Cola é se o refrigerante em questão realmente possui níveis elevados de acidulante. O componente que desempenha tal função na bebida é o acidulante INS 338, ou seja, o ácido fosfórico (H3PO4). De acordo com a Resolução nº 389, de 5 de agosto de 1999, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o regulamento técnico aprovado pela mesma, o limite máximo de ácido fosfórico empregado como aditivo alimentar em bebidas prontas para o consumo é 0,07g/100mL. Por possuir um teor de ácido fosfórico de, aproximadamente, 0,05g/100mL, conclui-se que a Coca-Cola está em conformidade com os padrões estabelecidos pela ANVISA. Entretanto, esta constatação não é suficiente para garantir que a Coca-Cola não representa um risco para a erosão dental.



Tabela I: Limites máximos de alguns aditivos alimentares.



Segundo trabalho realizado por FUSHIDA, C. E. e CURY, J. A. e publicado na Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo, foi comprovado que a ingestão de Coca-Cola pode resultar em danos para o esmalte-dentina. O estudo foi realizado em humanos, utilizando dispositivos intra-orais, e foi demonstrado que o refrigerante em questão provocou redução significativa da dureza tanto do esmalte quanto da dentina. Com relação à possibilidade de a saliva ser capaz de reverter as alterações minerais provocadas pela Coca-Cola ao esmalte-dentina, os resultados do trabalho em questão demonstram que a saliva gerou aumento significativo da dureza do esmalte e da dentina, porém a eficiência não foi total. Logo, a saliva é capaz de reparar os danos causados pela Coca-Cola, mas seu efeito é limitado. O artigo ainda ressalta que a perda de minerais da superfície dental é decorrente do fato de o pH da Coca-Cola ser inferior a 4,0 (2,29), sendo extremamente ácida.

Portanto, a partir de todas as informações já mencionadas, conclui-se que a Coca-Cola promove perda líquida de minerais da superfície dental, a qual é proporcional à frequência de ingestão do refrigerante, levando à erosão dental. Ademais, a saliva não se mostrou capaz de reverter completamente os danos causados pela bebida ao esmalte e à dentina. Deste modo, em função da natureza do fenômeno de erosão, somente medidas de promoção de saúde bucal poderiam contribuir para o seu controle. Assim, orientações para reduzir a frequência de contato dos dentes com refrigerantes, alimentos ácidos ou medicamentos ajudariam a prevenir a erosão dental.

Referências Bibliográficas

FUSHIDA, C. E.; CURY, J. A. Estudo in situ do efeito da frequência de
        ingestão de Coca-Cola na erosão do esmalte-dentina e reversão pela
        saliva. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 13, n. 2, p. 127-134, abr./jun.
        1999.

ANVISA. Legislações. Resolução nº 389, de 5 de agosto de 1999. Disponível
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         29/06/2012.

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BRANCO, C. A. et al. Erosão dental: diagnóstico e opções de tratamento.
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