Deficiência de vitaminas e ganho de peso
Saúde

Deficiência de vitaminas e ganho de peso







O ganho de peso é decorrente apenas do fato de consumir mais calorias do que se gasta? Será mesmo?

Diversos outros fatores podem influenciar o ganho e a perda de peso, tais como o estado metabólico do indivíduo ou o consumo de carboidratos ou gorduras, por exemplo.

E um recente estudo experimental mostrou que a deficiência de vitaminas parece também exercer efeito direto sobre o ganho de peso e gordura corporal [1]!


Vitaminas e ganho de peso

Pesquisadores da França estudaram, em camundongos, o efeito da deficiência de vitaminas sobre o ganho de peso, a quantidade de gordura corporal e o metabolismo de glicose (grau de resistência à insulina). Para isso, eles separam os camundongos em dois grupos: 1) dieta padrão, contendo 100% da recomendação de todas as vitaminas; ou 2) dieta com apenas 50% da quantidade recomendada das vitaminas. A quantidade de minerais foi igual em ambos os grupos. O estudo teve duração de 12 semanas.

Nas figuras a seguir, as barras brancas representam os camundongos que receberam dieta padrão (grupo controle) e as barras pretas representam os camundongos que receberam dieta com apenas 50% das recomendações de vitaminas (grupo restrição).

Ao final do experimento, os animais que receberam a dieta restrita em vitaminas tiveram maior ganho de peso (gráficos A e B), além de apresentarem maior quantidade de gordura corporal total (gráfico C) e gordura corporal relativa ao peso (gráfico D).


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É possível perceber que o ganho de peso (gráficos A e B), apesar de estatisticamente significativo, foi até modesto. Entretanto, a gordura corporal mais que dobrou nos camundongos que receberam a dieta com restrição de 50% das vitaminas  em todos os tecidos adiposos que foram medidos (epididimal, perirenal e inguinal)! Ou seja, foi um ganho de peso decorrente do aumento na gordura corporal.

E tudo isso aconteceu independente do consumo de calorias. Veja na figura abaixo que o consumo das dietas foi igual em ambos os grupos, tanto em peso (gráfico F) como em calorias (gráfico G).


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Os pesquisadores fizeram também as medidas de glicose, insulina e HOMA-IR. Esse último parâmetro, HOMA-IR, indica o grau de resistência à insulina. A resistência à insulina, por sua vez, é um quadro de alteração metabólica em que o corpo e as células não respondem bem à ação da insulina, e, por isso, a insulina não consegue realizar adequadamente o seu papel de facilitar a entrada de glicose nas células. Quanto maior o HOMA-IR, maior a severidade da resistência à insulina.

Na imagem abaixo, pode-se perceber que não houve diferença estatística, entre os grupos, nos níveis de glicose e insulina (gráficos A e B, respectivamente). Sabemos que não houve diferença estatística porque os gráficos estão representados com letras iguais (a letra “a” minúscula, nesse caso). De qualquer maneira, verificou-se uma tendência de aumento nos níveis de insulina nos camundongos que receberam a dieta restrita em vitaminas.


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Nesse caso, é possível sugerir que o pâncreas desses animais já está começando a produzir uma quantidade aumentada de insulina, de forma compensatória  uma vez que as células muito possivelmente não estão respondendo muito bem à ação da insulina. Ou seja, os camundongos começam a ficar deficientes em vitaminas, ganham peso e gordura corporal e, adicionalmente, passam a apresentar resistência à insulina. E é justamente a tendência no aumento nos níveis de insulina que explicam o HOMA-IR aumentado nos camundongos que receberam dieta deficiente em vitaminas (gráfico C). Maior HOMA-IR = maior resistência à insulina.


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Considerações finais

É apenas o consumo excessivo de calorias que leva ao ganho de peso e gordura corporal? Claro que não. Aqui está mais um exemplo de que nosso organismo é muito mais complexo do que isso. E essas observações apresentadas pelo estudo não são recentes. Diversos estudos anteriores já demonstraram que realmente parece existir relação entre a deficiência de vitaminas e minerais  como vitamina D, vitamina A, vitamina C, vitamina E, cálcio, zinco etc  e o ganho de peso [2,3,4,5]. Os mecanismos são complexos e praticamente desconhecidos, mas de fato parecem existir.


As vitaminas e minerais são essenciais para as mais diversas funções no corpo. Nesse foco de discussão, o estudo em questão mostra mais um lado importante do consumo de micronutrientes (vitaminas e minerais): a manutenção da homeostase do metabolismo energético e do peso. Nosso organismo é um sistema integrado, e os nutrientes influenciam todos os aspectos da saúde. Coma comida de verdade, que te forneça todos os nutrientes na sua forma mais natural possível!




Referências

1. Amara NB, et al. Multivitamin restriction increases adiposity and disrupts glucose homeostasis in mice. Genes Nutr. 2014 Jul;9(4):410. 

2. Leão AL, dos Santos LC. Micronutrient consumption and overweight: is there a relationship? Rev Bras Epidemiol. 2012;15(1):85-95.

3. García OP, et al. Impact of micronutrient deficiencies on obesity. Nutr Rev. 2009;67(10):559-72

4. Kaidar-Person O, et al. Nutritional deficiencies in morbidly obese patients: a new form of malnutrition? Part A: vitamins. Obes Surg. 2008;18(7):870-6.

5. Aasheim ET, et al. Vitamin status in morbidly obese patients: a cross-sectional study. Am J Clin Nutr. 2008;87(2):362-9.




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