Saúde
Dieta low-carb vs hipocalórica no tratamento a curto-prazo de fígado gordo
Uma sequela da diabetes e obesidade é o fígado gordo, uma patologia que pode ir da simples acumulação de triglicéridos nos hepatócitos à esteatose inflamatória (esteatohepatite), fibrose e cirrose. A manipulação da dieta é a abordagem mais eficaz para regressão de doença e geralmente são adoptados regimes hipocalóricos com uma elevada taxa de sucesso. Uma equipa de investigadores do
UT Southwestern Medical Center, EUA, verificou no entanto que uma dieta
low-carb é mais eficaz do que a restrição calórica e mais rápida a reverter a esteatose hepática. Os resultados irão ser publicados no próximo número do
American Journal of Clinical Nutrition.
São vários os processos que contribuem para a acumulação de triglicéridos no fígado. A lipogénese
de novo é um processo permanente, constitutivo, em pacientes com fígado gordo, e caracterizado pela conversão de hidratos de carbono em lípidos durante a fase pós-prandial. Esta via metabólica de síntese gera malonil-CoA, um intermediário que inibe o transporte de ácidos gordos para as mitocôndrias onde seriam oxidados. Assim sendo, é provável que a restrição dos hidratos de carbono seja eficaz em reduzir o conteúdo hepático em triglicéridos, limitando a sua síntese ao mesmo tempo que aumenta a sua degradação oxidativa.
A equipa do Dr. Jeffrey Browning recrutou 18 pacientes abstémicos com diagnóstico de fígado gordo. Foram divididos em dois grupos experimentais: uma dieta
low-carb (LCD) e uma dieta hipocalórica (HCD). Os sujeitos no grupo LCD foram instruídos a limitar os hidratos de carbono a um máximo diário de 20 g, sem qualquer restrição calórica inerente. Por outro lado, os indivíduos no HCD mantiveram os seus hábitos normais mas consumindo apenas 1200-1500 kcal, de acordo com as recomendações oficiais para o tratamento de fígado gordo. O conteúdo hepático de triglicéridos foi avaliado por ressonância magnética no início e após 14 dias de intervenção.
Todos os participantes perderam peso durante a intervenção, sem diferenças entre os grupos. É bom lembrar que o grupo LCD não foi restringido quanto ao valor energético da dieta mas apenas ao teor em hidratos de carbono.
Ambos os grupos verificaram um decréscimo nos níveis de triglicéridos intra-hepáticos, mas a redução foi bem mais marcada no grupo LCD durante os 14 dias de intervenção. Dado um grau semelhante de perda de peso, a dieta
low-carb mostrou-se bem mais eficaz. Encontrou-se também uma relação entre a concentração de cetonas (p = 0.006) e coeficiente respiratório (p < 0.001) com a redução do conteúdo de triglicéridos no fígado.
Estes resultados mostram que a composição macronutricional da dieta é um determinante do destino dos triglicéridos hepáticos. A relação entre as cetonas plasmáticas e o coeficiente respiratório sugere que os ácidos gordos seguem a degradação oxidativa. Embora a redução calórica por si só seja eficaz na regressão da doença, existe uma vantagem metabólica da restrição dos hidratos de carbono a curto prazo, provavelmente relacionada com a maior oxidação de ácidos gordos quando os níveis de glicose são baixos.
Embora este seja um pequeno ensaio, fica evidenciado que uma redução drástica nos hidratos de carbono é um método extremamente eficaz para o tratamento do fígado gordo, sem necessidade de limitar o consumo energético. Existe uma relação inversa entre a magnitude da redução do conteúdo lipídico do fígado e a quantidade de hidratos de carbono na dieta, explicado pelo papel primário destes na síntese de triglicéridos. As gorduras alimentares não estão relacionadas com a acumulação de triglicéridos no fígado. Não é uma novidade, mas fica provada mais uma vez a eficácia terapêutica deste tipo de intervenções e que os resultados aparecem num curtíssimo espaço de tempo.
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