Ultimamente bebidas energéticas têm sido utilizadas com freqüência por profissionais para enfrentar longas jornadas de trabalho e também por jovens para melhorar o desempenho e concentração nos estudos. Essas Energy Drinks são bebidas não-alcoólicas cafeinadas compostas também por outras substâncias, que contém uma dose equivalente a uma xícara de café, ou até mais, em cada frasco. Estimulante do sistema nervoso central, a cafeína bloqueia a ação da adenosina, uma espécie de calmante produzido pelo cérebro. Ao mesmo tempo em que eleva os níveis de dopamina, adrenalina e noradrenalina, outras substâncias excitatórias. Isso pode levar a problemas cardiovasculares. No rótulo do produto diz que é apreciado no mundo por atletas de elite, profissionais dinâmicos e estudantes ativos chamando a atenção para os benefícios de seu uso, porém, não faz referência à quantidade diária máxima permitida, já que seu consumo em excesso contém riscos à saúde. Contém apenas a informação que seus valores energéticos diários podem ser maiores ou menores dependendo de suas necessidades energéticas. Há relatos de pessoas que consumiram apenas uma lata e já obtiveram aumento da freqüência cardíaca. Então, se uma pessoa acha que precisa de mais energia ela deve consumir mais do produto?
A resposta a essa pergunta com certeza é NÃO! O consumo deste tipo de bebida tem crescido muito nos últimos anos e já existem em torno de 500 diferentes produtos em todo o mundo. Consumo de bebidas energéticas é um problema de saúde pública crescente porque conseqüências médicas e comportamentais podem ser resultado de excesso da ingestão de cafeína que age como estimulante sobre o sistema nervoso central e cardiovascular. Indivíduos acreditam incorretamente que o uso de energéticos pode "desfazer" os efeitos da ingestão de álcool e se sentem seguros para dirigir após beberem. Entre os universitários tem-se estabelecido associações entre consumo de bebida energética e comportamento problemático como o uso da maconha, violência sexual, brigas, tabagismo e abuso de medicamentos sob prescrição. Em um estudo, clientes de bares que consumiram álcool misturado com bebidas energéticas foram três vezes mais propensos a deixar um bar altamente embriagado e foram 4 vezes mais propensos a intenção de conduzir embriagado do que aqueles que não consumiram álcool misturado com energéticos. Isso porque altos níveis de cafeína encontrados nessas bebidas podem mascarar os sintomas de embriaguez porque a pessoa se sente menos sonolenta. A popularidade de bebidas energéticas, juntamente com a literatura crescente sugerem os riscos envolvidos com seu uso e ressaltam a importância de ganhar adicionais informações sobre estas bebidas.
As bebidas energéticas são bebidas com sabor contendo grandes quantidades de cafeína e, normalmente, outros aditivos, tais como vitaminas, taurina, extratos de ervas tais como Gingko biloba e Ginseng, creatina, açúcares, guaraná, produtos a base de plantas que contêm cafeína concentrada. No Brasil, a adição das ervas contidas não é permitida. Essas bebidas são vendidas em latas e garrafas e estão disponíveis em supermercados, máquinas de venda, lojas de conveniência e bares e outros locais onde o álcool é vendido. O montante total de cafeína em cada embalagem varia de cerca de 50 para mais de 500 miligramas (mg). (Comparando-se os teores médios de cafeína por 150 ml (uma taça) de café tostado moído é cerca de 85 mg, de café instantâneo é 60 mg, café descafeínado é 3 mg, o chá em folhas ou saco apresenta 30 mg, o chá instantâneo 20 mg e o cacau ou chocolate quente é 4 mg. Um copo (200 ml) de refrigerante com cafeína tem entre 20 a 60 mg desta). Certos aditivos podem agravar os efeitos estimulantes da cafeína e a maioria, além de poder prejudicar a saúde, não possui efeito na melhora de desempenho nas quantidades presentes.
Metabolismo da cafeína
A cafeína é uma xantina alcalóide, encontrada em várias plantas como nos grãos de café e cacau, folhas do chá, frutos do guaraná e noz de cola. Ela atinge a corrente sanguínea passados 30 a 45 minutos do seu consumo. Em seguida, distribui-se pelos líquidos corporais, para depois ser metabolizada e excretada da pela urina. A meia-vida da cafeína no organismo é de cerca 4 horas (as estimativas variam entre 2 às 10h). Durante a gravidez, esta reduz a sua velocidade de metabolização e os seus níveis mantêm-se durante mais tempo.
A capacidade da cafeína para potencializar o estado de alerta e a atenção prolongada está muito bem documentada, devendo-se a sua função primária de estimulante do sistema nervoso central, à sua ação como antagonista da adenosina. A adenosina é uma substância química, produzida de modo natural pelo organismo, que atua como mensageiro regulando a atividade cerebral e modulando o estado de vigília e sono (é um sinal de cansaço). A cafeína bloqueia os receptores de adenosina presentes no tecido nervoso, particularmente no cérebro, mantendo o estado de excitação. Através deste mecanismo, a cafeína melhora a capacidade de se fazer esforço físico e mental, antes do aparecimento da fadiga. O bloqueio dos receptores de adenosina contribui para a constrição dos vasos sanguíneos, aliviando a pressão das enxaquecas e dores de cabeça, o que explica o fato de muitos analgésicos conterem cafeína.
Efeitos imediatos da cafeína
Doses entre os 100 e os 600 mg permitem um pensamento mais rápido e mais claro, tal como uma melhor coordenação corporal. O lado negativo da questão é que a cafeína pode causar agitação e uma perda de controle motor fino. Quantidades superiores a 2000 mg podem causar insônias, tremores e respiração agitada, no entanto estes sintomas podem ser notados mesmo em doses inferiores. Contudo, o consumo habitual pode minimizar muitos destes efeitos, uma vez que as propriedades estimulantes da cafeína afetam menos os consumidores habituais do que os ocasionais.
A cafeína apresenta outros efeitos imediatos: estimula a libertação de cortisol e adrenalina, o que faz com que aumente a pressão arterial e o coração bata mais rápido. Além disto, tem um efeito diurético, relaxa os brônquios, aumenta a produção de ácido gástrico e aumenta a taxa metabólica.
Embora consumido por uma gama de grupos de idade, bebidas energéticas são comercializadas para atrair jovens e são consumidos por 30 a 50 % de crianças, adolescentes e jovens adultos. Das centenas de marcas no mercado, a mais popular é a Red Bull. A venda e marketing de bebidas energéticas são muitas vezes dirigidos aos jovens, sugerindo benefícios tais como aumento da energia e resistência, perda de peso e melhora de desempenho físico e /ou mental. A popularidade dessas bebidas tem crescido acentuadamente nos últimos anos e sua venda cresceu em 240% de 2004 a 2009.
Entre 2005 e 2009 houve um aumento acentuado no número de atendimentos envolvendo bebidas energéticas. Essas visitas a serviços de emergência são muitas vezes causadas por reações adversas, sugerindo que o consumo por si só pode resultar em eventos negativos na saúde, graves o suficiente para exigir o atendimento de emergência. Embora não existam níveis "seguros” que tenham sido experimentalmente estabelecidos para a cafeína, a maioria dos pesquisadores e clínicos consideram de 100 a 200 mg por dia um consumo moderado para um adulto. Os pediatras recomendam que crianças e adolescentes não consumam este tipo de bebida. Quem ingere cafeína diariamente tem menos riscos de se intoxicar, já que o metabolismo da substância é mais rápido. O consumo excessivo da cafeína presente nas Energy Drinks pode causar osteoporose, arritmias, hipertensão e desidratação, nervosismo, constrição dos vasos do cérebro e do coração, convulsões, parada cardíaca, lentificação dos batimentos cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e mais isoladamente crises epiléticas e mortes associadas causadas potencialmente por intoxicação ou overdose por cafeína. Uma concentração de cafeína no sangue acima de 1 g pode levar a sintomas de intoxicação e acima de 5 g já pode provocar a morte. Riscos adicionais e outras complicações médicas podem surgir dependendo do estado de saúde do indivíduo em geral (por exemplo, condições cardíacas, distúrbios alimentares, diabetes, transtornos de ansiedade) e do uso de outras drogas ou medicamentos (por exemplo, medicamentos para o transtorno de déficit de atenção).
O uso por longo período pode causar dependência. Isso é um problema que merece atenção e a abstinência da substância pode causar dor de cabeça, fadiga, sonolência e redução do desempenho cognitivo, alterações de humor, irritabilidade, náuseas e dores musculares.
Entre os sintomas de intoxicação aguda por cafeína encontram-se ansiedade, agitação psicomotora, dor de cabeça, tremor, insônia, sintomas gastrointestinais, hipertensão arterial e taquicardia.
Países da União Européia exigem que os rótulos desses produtos apresentem o aviso “Bebida com alto conteúdo de cafeína”. Países como a Dinamarca, Turquia e Uruguai baniram as bebidas energéticas. No Canadá exige-se que o rótulo do Red Bull evidencie que não se deve misturá-lo com bebidas alcoólicas e que não se deve consumir mais que 2 latinhas por dia. Na Noruega essa mesma bebida só pode ser comprada em drogarias e só é vendida a maiores de 15 anos. A partir de abril de 2008 a França permitiu sua comercialização após a adequação de sua fórmula com a substituição do aminoácido taurina por arginina, já que não se conhece bem os efeitos do consumo de taurina sobre nossa saúde a longa prazo. Nos EUA, medicamentos que contém cafeína devem conter em suas embalagens uma série de avisos de segurança ao consumidor. Por outro lado, bebidas energéticas que podem ter conteúdo de cafeína até várias vezes superiores a um desses comprimidos, não precisa nem mesmo ter a concentração de cafeína demonstrada em seus rótulos, já que são consideradas suplementos dietéticos.
No Brasil, a ANVISA classsifica esses produtos como “COMPOSTOS LÍQUIDOS PRONTOS PARA CONSUMO” e uma portaria de 1998 regulamenta a comercialização com as seguintes ressalvas: *conteúdo de álcool deve ser menor que 0,5% e de cafeína deve ser no máximo de 350mg/L (uma xícara de café expresso tem cerca de 100mg e uma lata de Coca-cola 35mg). É ainda obrigatória a demonstração no rótulo o contúdo de cafeína e a advertência em destaque e negrito: “Idosos e portadores de enfermidades: consultar o médico antes de consumir este produto”. Em nova resolução no ano de 2005, a recomendação de advertência foi estendida para: “ Crianças, gestantes, nutrizes, idodos e portadores de enfermidades: consultar o médico antes de consumir o produto” e também “Não é recomendado o consumo com bebida alcóolica”. Os termos “Bebida Energética” ou “Energy Drink” são permitidos nos rótulos, mas passam a ser proibidas as expressões “Estimulantes”, “Melhora de Desempenho” ou equivalentes.
Nos energéticos, a substância a cafeína está presente em concentrações altíssimas (até seis vezes mais do que em outras bebidas). Por isso, apesar de ter sido retirada da lista da Agência Mundial Anti-Doping em 2004, a substância é monitorada desde 2009 para evitar o uso abusivo. De acordo com as regras da Associação Atlética Universitária Nacional dos EUA, atletas que apresentam mais de 15mg/L de cafeína na urina são barrados no teste anti-doping. Oito xícaras de café, cada uma com 100mg de cafeína, são suficientes para atingir a quantia permitida.
Apesar de ser uma discussão em aberto, já se conhece que os mesmos fatores genéticos que definem o risco de dependência à cafeína estão associados também ao tabagismo a ao alcoolismo e pesquisas sugerem que o abuso de cafeína pode servir como porta de entrada para outros tipos de drogas.
Não é o consumo esporádico que trará problemas, todavia, o consumo excessivo desses produtos e sua mistura com álcool podem estar associados a problemas de saúde mais sérios. Se a intenção for aumentar o desempenho físico e mental porque não usar de forma moderada a cafeína dos próprios alimentos? Nestes, ela vem acompanhada de outras substâncias que também fazem bem à saúde.
Algumas observações merecem destaque
- Muitos produtos comercializados como “bebidas energéticas” contêm altas concentrações de carboidrato, além da cafeína.
- Algumas bebidas energéticas contêm ervas, aminoácidos, proteínas e outras substâncias, geralmente em quantidades insuficientes para produzirem efeito no desempenho físico.
- O conteúdo de alguns destes produtos pode resultar na absorção ineficiente de líquidos e nutrientes no intestino com a possibilidade de causar desconforto gastrointestinal.
- Muitas bebidas energéticas são realmente caras e, devido a sua composição, não são apropriadas para o uso por atletas. Eles deveriam ser mais bem informados sobre estes produtos e procurar outros alimentos ou líquidos que não apresentem risco potencial.
- Será que a combinação entre a bebida e exercícios físicos pode acelerar, de fato, a perda de peso? O aumento na queima de calorias tende a diminuir e a voltar ao normal quando o uso da cafeína se torna um hábito regular e corriqueiro. Além disso, por ser freqüentemente acrescida de açúcar, ela pode ser tão prejudicial para o ganho de peso quanto os refrigerantes.
- Grávidas não devem consumir cafeína de forma alguma, pois há aumento do risco de aborto espontâneo e de recém-nascidos de baixo peso, então o consumo dessas bebidas pode causar problemas no parto e na gestação.
Campanhas de conscientização pública com foco na saúde e efeitos do consumo de bebidas energéticas são necessários para educar o público sobre os riscos potenciais associados com consumo, isoladamente e em combinação com álcool e / ou produtos farmacêuticos e também podem ajudar a dissipar a equivocada crença de que as bebidas energéticas podem compensar ou eliminar os efeitos da intoxicação por álcool.
No entanto, os efeitos adversos das “bebidas energéticas” não reduzem a propaganda que estimula o consumo. As pessoas continuam buscando uma poção mágica que maximize seu desempenho e concentração. Portanto, é preciso aumentar o conhecimento sobre os ingredientes que compõem estas bebidas e seus riscos potenciais. No caso de atletas, as bebidas energéticas não substituirão o tempo, treinamento, nutrição, descanso e recuperação necessários para o alcance de ótimo desempenho atlético.
Pode-se concluir que há pouco ou nenhum controle regulador destes produtos. A rotulagem contendo as especificações é fundamental, já que alguns ingredientes são ilegais e não seguros. Esteja atento porque muitas afirmações são incompletas e não substanciais.
E se parecer muito bom para ser verdade, provavelmente é!
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