Orlando, Flórida - Uma reavaliação dos dados do Prostate Cancer Prevention Trial (PCPT), que envolveu mais de 18.000 homens, com 55 anos ou mais, inicialmente publicado em 2003, confirmou que o uso regular de finasterida, inibidor da 5-alfa-redutase, reduz o risco de câncer de próstata e parece proporcionar mais segurança aos pacientes em uso da droga quanto à possibilidade de risco aumentado para doença mais agressiva.
As novas informações, apresentadas no Encontro Anual da American Urological Association (AUA) de 2008 mostram que, após o ajuste para volume da próstata, a finasterida reduz o risco para a maior parte dos tipos de câncer de próstata.
“Em um país no qual mais de 200.000 homens enfrentam este diagnóstico a cada ano, a finasterida traria conseqüências substanciais para a saúde pública,” Dr. Ian M. Thompson Jr, responsável pelo departamento de urologia da University of Texas Health Science Center, em Santo Antonio, declarou ao Medscape Urology.
Segundo Dr. Thompson, pesquisador líder do Southwest Oncology Group no Prostate Cancer Prevention Trial original, a interrupção deste, em junho de 2003, ocorreu devido à observação de que apesar da finasterida reduzir o risco de câncer de próstata em até 25%, os homens em uso da droga pareciam desenvolver tumores prostáticos mais agressivos, se e quando desenvolvessem a doença. Por essa razão, alguns especialistas mostraram-se preocupados quanto à possibilidade da finasterida provocar tumores de grau mais alto.
A nova análise, realizada por pesquisadores do New York-Presbyterian Hospital/ Weill Cornell Medical Center, permitiu a dissipação desses temores.
Por sua capacidade de diminuir a próstata, a finasterida tem sido utilizada para tratar a hiperplasia benigna da próstata, assim, quando os pesquisadores consideraram a redução no volume da próstata, a disparidade da agressividade do tumor, entre o grupo em uso de finasterida e o grupo placebo, desapareceu.
A escala de Gleason é utilizada para graduar a agressividade do tumor prostático com base nas características do mesmo (a escala varia de 2 a 10, sendo este último um indicador de tumores de agressividade mais alta). Após a análise inicial, os pesquisadores do Prostate Cancer Prevention Trial concluíram que homens sob uso de finasterida tinham menos câncer de próstata de forma geral, mas apresentavam uma incidência mais alta de tumores de graus 7, 8, 9 e 10.
Isso foi alarmante porque tumores de próstata de alto grau potencialmente metastáticos são a verdadeira preocupação clínica. Os pesquisadores precisaram determinar se o achado era real ou se era algum tipo de influência metodológica.
A equipe de pesquisa acredita que, devido à diminuição da próstata pela finasterida, os médicos aperfeiçoaram a capacidade diagnóstica de tumores altamente agressivos nos pacientes em uso da droga.
Os pesquisadores revisaram os dados do estudo por meio de biópsias realizadas em 18.882 homens. Foram realizados ajustes por tipo de tratamento, idade, raça, história familiar de câncer de próstata, níveis de PSA (prostate-specific antigen) e o volume da próstata de cada paciente.
Foi encontrada uma redução significativa na incidência de tumores malignos de próstata, mesmo os de mais alto grau, nos homens em uso de finasterida, em comparação ao grupo placebo. Mais importante, a finasterida foi associada a declínios significativos em tumores com escores de Gleason 5, 6 e 7, o que compreende 72% de todos os tumores malignos de próstata. Para tumores com classificação de Gleason 8, 9 e 10, após ajuste para volume da próstata, a incidência de homens em uso de finasterida não era mais alta do que aquela dos homens não submetidos ao tratamento com a droga.
Segundo os pesquisadores, apesar de ser muito precoce a afirmação de que a droga previna a doença, a mesma pode, porém, ser suprimida quando isso ocorrer.
Enquanto isso, os pesquisadores precisam considerar o volume da próstata ao conduzir estudos que avaliem as propriedades anticancerígenas de medicações capazes de diminuir a próstata.
Nem todos no encontro da American Urological Association concordaram com os novos resultados do estudo, mas Dr. Brantley Thrasher, responsável pelo departamento de urologia da University of Kansas, em Lawrence, afirmou que as primeiras questões problemáticas relacionadas ao estudo parecem ter sido respondidas.
Segundo Dr. Thrasher, não envolvido no estudo, a resposta a essas questões foi fundamental e, agora, é preciso determinar quais pacientes devem ser tratados com a finasterida. Declarou ainda que “qualquer homem acima de 55 anos que esteja dosando PSA anualmente, pode ter seu risco reduzido pelo uso regular de finasterida.”
Encontro Anual da American Urological Association de 2008: Abstract 470. Apresentado em 18 de maio de 2008.