Maus hábitos alimentares apresentam pior qualidade na microbiota intestinal
Saúde

Maus hábitos alimentares apresentam pior qualidade na microbiota intestinal


Estudo publicado em revista científica norte-americana revelou benefícios em preservar antigos hábitos alimentares para melhorar a biodiversidade da microbiota intestinal, após compararem a microbiota intestinal de crianças com dieta tipicamente urbana com crianças que vivem em zona rural.

Segundo os pesquisadores, ainda não está compreendido como diferentes ambientes e hábitos alimentares da vida moderna podem afetar a ecologia microbiana do intestino. Mas eles afirmam que os hábitos alimentares são considerados um dos principais fatores que contribuem para a diversidade da microbiota intestinal.

As profundas mudanças na dieta e estilo de vida ocorridas nas últimas décadas favoreceram o surgimento de patógenos especializados em colonizar hospedeiros humanos. Em consequência disso, surgiu uma onda de doenças humanas emergentes, como alergias, doenças auto-imunes e doenças inflamatórias intestinais.

Com isso, o objetivo dos pesquisadores foi avaliar o impacto de variáveis ambientais sobre a microbiota intestinal entre crianças da mesma idade, porém vivendo em ambientes diferentes (urbano versus rural). Os pesquisadores relataram que o propósito do desenvolvimento desse estudo foi de responder três questões gerais a respeito da geografia e da evolução da microbiota humana: (1) Como é a diversidade de bactérias dentro e entre as duas populações distintas? (2) Há uma possível correlação entre a diversidade de bactérias e dieta? (3) Como é a distribuição de patógenos bacterianos nas duas populações, dadas as diferentes condições geográficas e de higiene?

Para o desenvolvimento do estudo foram incluídas 15 crianças saudáveis que vivem na vila rural de Boulpon, Burkina Faso (país africano), e 15 crianças saudáveis da área urbana de Florença, Itália. Todas as crianças tinham entre 1 a 6 anos de idade e não faziam uso de antibióticos ou probióticos nos últimos seis meses ao início do estudo. Foram coletados dados detalhados sobre estilo de vida e hábitos alimentares obtidos diretamente pelos pais das crianças.

A quantificação e caracterização da microbiota intestinal foram realizadas através de técnicas de biologia molecular a partir das fezes. Além disso, foi feita a determinação dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC).

A dieta das crianças da comunidade rural apresentou baixa quantidade de proteína animal e gorduras, e altos níveis de amido e fibras. Todos os recursos alimentares eram produzidos localmente, cultivadas e colhidas nas proximidades da aldeia. A dieta dessas crianças era constituída principalmente de cereais, leguminosas, produtos hortícolas. Estas crianças foram amamentadas até os dois anos de idade.

Diferentemente, as crianças da área urbana foram amamentadas até 1 ano de idade. Estas crianças consumiam uma dieta tipicamente ocidental, rica em proteínas animais, açúcar, amido, gordura e pobre em fibras.

Foram encontradas diferenças significativas na microbiota intestinal entre os dois grupos. Observou-se maior quantidade (p < 0,001) de ácidos graxos de cadeia curta nas crianças africanas do que nas crianças da área urbana. Outro resultado importante foi a presença de bactérias da família Enterobacteriaceae (Shigella e Escherichia coli) significativamente menores nas crianças da aldeia do que em crianças italianas (p < 0,05).

As crianças da aldeia apresentaram maior quantidade de Bacteroidetes (p < 0,001), especialmente de bactérias do gênero Prevotella e Xylanibacter, conhecidas por conter um conjunto de genes que hidrolisam celulose e xilana, ambas consideradas fibras insolúveis. Essas bactérias apresentaram-se completamente ausentes nas crianças da área urbana italiana. Além disso, as crianças da aldeia apresentaram menor quantidade de Firmicutes (p <0,001), sendo encontrada em grande quantidade nas crianças italianas.

Os pesquisadores comentaram que o perfil de bactérias encontradas nas crianças da área urbana (menor Bacteriodetes e maior Firmicutes) é, provavelmente, provocado pela dieta rica em calorias, e que podem predispor à obesidade no futuro.

“Nossos resultados sugerem que a dieta tem papel dominante para a caraterização da microbiota intestinal quando comparada com outras variáveis, como etnia, saneamento, higiene, geografia e clima”, comentam os pesquisadores.

“O conhecimento da microbiota intestinal das crianças da aldeia africana provam a importância do tipo e preservação de sua biodiversidade, especialmente por ser uma região onde os efeitos da globalização na dieta foram menos acentuados. Estes resultados representam um foco atraente para estudos que visam elucidar o papel da microbiota intestinal no equilíbrio entre saúde e doença”, concluem.

Referência(s): De Filippo C, Cavalieri D, Di Paola M, Ramazzotti M, Poullet JB, Massart S, et al. Impact of diet in shaping gut microbiota revealed by a comparative study in children from Europe and rural Africa. Proc Natl Acad Sci U S A. 2010;107(33):14691-6.

FONTE: http://www.nutritotal.com.br/notas_noticias/?acao=bu&id=471



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