Molico Total Cálcio: A ingestão cada vez mais acentuada de cálcio é realmente benéfica para a saúde?
Saúde

Molico Total Cálcio: A ingestão cada vez mais acentuada de cálcio é realmente benéfica para a saúde?





Produtos alimentares com acréscimo de cálcio são cada vez mais comuns nas prateleiras dos mercados. Em que tipo de dados epidemiológicos este tipo de oferta se baseia? Será que no Brasil há mesmo deficiência na ingestão deste nutriente na população como um todo? Pode ser que seu consumo indiscriminado traga riscos para a saúde?
Estudos recentes falam sobre os perigos de se consumir cálcio em excesso e sobre seus reais benefícios.


Molico Total Cálcio


O Cálcio é um elemento mineral encontrado em uma grande variedade de alimentos como os laticínios (leite e derivados), as hortaliças da espécie Brassicaoleracea (couves), verduras verde escuras, gergelim, amêndoas, feijões, entre outros. Sua absorção se dá a nível intestinal, e é favorecida por vitamina D, proteínas, lactose e a própria acidez do bolo fecal. No organismo o cálcio possui diversas funções como a formação da massa óssea, contração muscular, transmissão dos impulsos nervosos, e também ajuda na coagulação do sangue.

A nova linha da Nestlé, MolicoToltal Cálcio, promete com duas porções suprir 100% das necessidades diárias de cálcio, essas porções somadas fornecem um total de 1000 mg de cálcio. E a partir desta afirmação coube a nós avaliar alguns aspectos da apresentação do produto e seu consumo.


Legislação


A Resolução - RDC nº 259, de 2002 aprova o Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos Embalados. Ela também estabelece que os alimentos embalados não devem ser descritos ou apresentar rótulo que: utilize vocábulos, sinais, denominações, símbolos, emblemas, ilustrações ou outras representações gráficas que possam tornar a informação falsa, incorreta, insuficiente, ou que possa induzir o consumidor a equívoco, erro, confusão ou engano, em relação à verdadeira natureza, composição, procedência, tipo, qualidade, quantidade, validade, rendimento ou forma de uso do alimento.

A Resolução - RDC Nº 269, de 2005 aprova o Regulamento Técnico sobre a Ingestão Diária Recomendada (IDR) de Proteínas, Vitaminas e Minerais. Segundo a RDC, a recomendação diária para a ingestão de cálcio é de 1000 mg/dia para adultos, 1200 mg/dia para gestantes e de 300 a 700 mg/dia para crianças de 0 a 10 anos.


Fundamentos Bromatológicos e Discussão



Baseado na legislação vigente no Brasil (ex.: Resolução 269 de 2005) podemos concluir que as recomendações de cálcio são diferentes para cada indivíduo. Então, dependendo da idade e das condições de um indivíduo, ele irá necessitar de uma dieta com mais ou menos cálcio, portanto um produto não pode afirmar suprir a necessidade de cálcio de todo e qualquer organismo, já que suas recomendações são diferentes.

Outro ponto a ser comentado é que o intestino absorve apenas cerca de 500 mg de cálcio por vez, com isso se o consumidor ingerir duas porções do produto simultaneamente, totalizando as 1000 mg deste íon, a absorção não será efetiva.

É importante notar também que a mídia que é feita em torno do produto transmite a idéia de que este tipo de suplemento alimentar é necessário na população como um todo. No entanto, não existem registros epidemiológicos nutricionais indicando a carência deste nutriente no público alvo, ou qualquer dado que justifique sua ingestão.

Se com apenas duas porções do produto em questão o indivíduo, teoricamente, alcança as recomendações de ingestão diária de cálcio, então o que fazer com o cálcio naturalmente presente na alimentação do brasileiro?

O próprio site da Nestlé que anuncia a linha Molico Total Cácio indica que uma fatia de 30g de queijo minas fornece 17% do cálcio diário. Uma de mussarela, 15%. Uma colher de requeijão (20g), 5%. Um copo de leite desnatado (200ml), 27%. Um de leite integral, 25%. Um de iogurte natural, 29%.

Assim, A mídia que envolve o produto não leva em consideração o cálcio naturalmente proveniente da dieta e que, na realidade, é capaz de fornecer o montante necessário deste nutriente sem que seja necessária a suplementação.

É valido acrescentar que um copo de leite de 200 ml fornece 240 mg de cálcio em média, um copo de iogurte natural contém 290mg; de coalhada, até 400 mg e uma fatia de queijo ( de 40 a 50 gramas) oferece de 230 a 250 mg de cálcio. Brócolis, couve e sardinha também são exemplos de boas fontes do mesmo.

O limite máximo de ingestão de cálcio por dia é de 2.500 mg. Embora seja difícil atingir e ultrapassar esse patamar só com alimentos, cálcio demais pode causar inconvenientes como diarréia e sobrecarga sobre os rins.

Além disso, estudos têm demonstrado que pessoas que usam suplementos de cálcio (sem a co – administração de vitamina D) têm risco 30% maior de sofrer infarto do miocárdio. Embora a magnitude do aumento no risco seja pequena, o uso disseminado de suplementos de cálcio, principalmente por idosos, com risco aumentado de fraturas ósseas, pode significar um grande impacto no número de eventos cardiovasculares na população geral.

O motivo pelo qual o cálcio aumenta o risco ainda não é conhecido, mas sugere-se que a suplementação de cálcio eleve os níveis séricos deste elemento, o que já foi previamente associado à maior incidência de infarto agudo do miocárdio.

Outra hipótese é que o processo de calcificação vascular, fator de risco estabelecido para doenças cardiovasculares, é semelhante ao processo da osteogênese (formação dos ossos). Sendo assim, já que os suplementos de cálcio aumentam a densidade óssea, é possível que eles também acelerem a calcificação vascular e conseqüentemente elevem a incidência de eventos cardiovasculares.

Outros trabalhos apontam também para o fato de que mulheres com osteoporose que usam suplementos de cálcio podem ter uma maior chance de sofrer fraturas no quadril. O alto consumo de cálcio pode reduzir o alargamento de alguns ossos, que geralmente ocorre para compensar a perda de densidade mineral do osso ocasionada pela idade. Além do que, altos níveis de cálcio diminuem o número de sítios ativos de remodelação óssea, diminuindo sua eficácia.

As mesmas pesquisas deixam claro que a ingestão de cálcio para valores acima do recomendado para cada indivíduo não reduz o risco de ocorrência de osteoporose, mas sim pode acarretar outras divergências para a saúde.

Conclusão

Diante dos fatos citados neste trabalho podemos concluir que a ingestão de alimentos com adição de cálcio não deve ser feita por todo e qualquer indivíduo independente de sua condição. A sua suplementação pode sim ser necessária, mas a fim de evitar outros problemas devido à ingestão não fundamentada deste nutriente, uma análise do estado de saúde da pessoa e dos níveis diários do mineral presente na sua alimentação normal deve ser feita. Assim uma consulta ao médico ou nutricionista, não só é bem vinda, como é necessária antes do consumo freqüente deste tipo de alimento.

Anexos
Imagens do produto:







Adaptação da Tabela de Ingestão Diária Recomendada para Adultos (RDC 269):



Adaptação da Tabela de Ingestão Diária Recomendada para Lactentes e Crianças (RDC 269):



Bibliografia Anexos


• http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2002/259_02rdc.htm

• http://www.crd.defesacivil.rj.gov.br/documentos/IDR.pdf

• Felippe, J Jr. : Pronto Socorro: Fisiopatologia – Diagnóstico – Tratamento. In Capítulo 10, José de Felippe Junior : Distúrbios Hidroeletrolíticos : Na+ , K+ , Ca++ , PO4 e Mg++ ; pag.82-97, 1990 ; Editora Guanabara Koogan, 2 a Ed. – Rio de Janeiro.

• Bashour, T.; Basha, H.S. & Cheng, T.O.: Hypocalcemic cardiomyopathy, Chest, 78(4): 663,1980.

• Bell, N.H.: Hypercalcemic and hypocalcemic disorders: Diagnosis and treatment. Nephron, 23:147,1979.

• Dietary Supplement Fact Sheet: Calcium

• http://www.bmj.com/content/342/bmj.d1473.full - BMJ 2011; 342:d1473

• British Medical Journal de 29 de julho de 2010 - (http://www.bmj.com/content/341/bmj.c3691.full) - http://www.news.med.br/p/medical-journal/63372/suplementos+de+calcio+podem+aumenta.htm

AUTORES: Karla Andrade Quintã e Larissa Jardim Ramalho



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