O nascimento da saúde
Saúde

O nascimento da saúde


O post de hoje é na verdade uma reportagem da Isto É dessa semana. Bastante interessante por abordar algo que muitos acreditam ser exagero de médicos que atuam na área de ortomolecular, ou até mesmo obstetras e pediatras com uma visão mais holística e integrativa do paciente.

Desde o segundo ano da graduação em medicina,  quando comecei a estudar ortomolecular, sempre me perguntei sobre o impacto da gestação na gênese de doenças futuras para o concepto. Ou seja, o papel de uma gravidez tranquila com o objetivo de se prevenir doenças.

Sou de uma família de 21 médicos, minha mãe tem duas irmãs obstetras e sempre que tocava no assunto com minhas tias, acabava  sendo motivo de chacota. Como se esses questionamentos fossem papo de acadêmico delirante, utópico, sem embasamento científico ainda... pois bem, agora a ciência  comprova o que muitos médicos (pediatras, obstetras) já sabem há bastante tempo.

Quando friso a questão do uso de orgânicos não é gratuitamente. Imaginem a seguinte situação: por MILHARES de anos fomos criados com um vasta exposição a substâncias naturais. De repente num prazo de 50 anos surgem mais de 5 mil substâncias sintéticas, sem estudos sobre os efeitos na saúde humana.

Agora imaginem uma gestante ao entrar em contato com tais substâncias. Ninguém sabe o real potencial teratogênico de agrotóxicos, adoçantes, conservantes, flavorizantes e etç... Portanto, não acredito que seja exagero solicitar a uma gestante que mantenha um ritmo de vida (hábitos de vida e alimentação) o mais natural possível durante a gestação, amamentação e porquê não posteriormente ?

Leiam a reportagem e tirem as suas conclusões.

Cordialmente,

Dr. Frederico Lobo

A medicina descobre que a gestação é decisiva para uma vida longa e livre de doenças. Nesse período, pode-se prevenir a depressão, o câncer, a obesidade e até a diabetes

Prevenir doenças sempre foi um dos principais objetivos da medicina. O mais recente avanço nesse sentido é a descoberta, por meio de diversos estudos realizados em todo o mundo, de que as sementes da saúde e da doença são plantadas em uma fase ainda mais precoce do que se imaginava: antes do nascimento, ainda durante a vida intra-uterina.

Os cientistas estão cada vez mais convencidos de que os nove meses de gestação são decisivos para a saúde do indivíduo durante toda a sua vida. “A mãe deve ser entendida como o primeiro ambiente ecológico da criança”, considera o ginecologista e obstetra Eliezer Berenstein, um dos autores do livro “Gerar e Nascer”. “Na gravidez, toda a história física e emocional do bebê estará sendo construída e será influenciada por aquilo que a mãe come, por exemplo, e por seu comportamento emocional durante a gestação”, afirma o ginecologista Márcio Coslovsky, especialista em reprodução humana da Clínica Huntington, do Rio de Janeiro.

De fato, as pesquisas já demonstram, entre outras coisas, como doenças infecciosas da mãe, seus níveis de estresse, a qualidade de sua alimentação e até do ar que ela respira podem contribuir para que a criança venha a desenvolver, na infância ou na vida adulta, problemas cardíacos, alergias, asma, obesidade, câncer e outras enfermidades.


Uma das doenças nas quais esta relação encontra-se muito bem estabelecida é a diabetes. Se a mãe for diabética e não controlar a doença durante a gestação, a chance de dar à luz uma criança também portadora é muito alta.

Um dos trabalhos mais exemplares a provar essa conexão foi o realizado pela epidemiologista Dana Dabelea, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, com índios pima americanos. Essa população registra os maiores índices de diabetes tipo 2 (associada ao estilo de vida) do planeta.

Ao examinar a incidência da doença nas crianças pima com mais de 10 anos, os pesquisadores verificaram que, além da genética, outro fator contribuía para elevar os riscos de elas manifestarem a diabetes. “Trata-se da exposição, antes do nascimento, a altas taxas de açúcar no sangue da mãe”, disse Dana à ISTOÉ.



O esforço, agora, é entender por que isso acontece. Uma pesquisa da Universidade do Alabama (EUA) jogou luz sobre o assunto. “Essas crianças são mais propensas a ter baixa sensibilidade à ação da insulina, um conhecido fator de risco para a doença”, disse à ISTOÉ Paula Chandler-Laney, autora do estudo.

A insulina é o hormônio que permite a saída do açúcar do sangue e sua entrada nas células. Se o indivíduo manifestar resis­tência ao seu funcionamento, ela não agirá corretamente. O resul­tado é que haverá mais glicose na circulação sanguínea, caracteri­zando a diabetes. Mas por que o feto desenvolveria essa resistência? “A maior quantidade de açúcar que está no sangue da mãe dia­bética atravessa a placenta”, explica o médico Ivan Ferraz, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. “E isso obriga o pâncreas do bebê a produzir mais insulina para manter o equilíbrio. Como resposta ao excesso da substância, o corpo se torna menos sensível à ação do hormônio”, complementa a americana Paula.

No caso da tendência à obesidade, a confirmação de que ela pode ser adquirida dentro do útero também vem de diversos e consistentes trabalhos. O pesquisador John Kral, da Suny Downstate Medical Center, de Nova York, por exemplo, comparou o peso de adolescentes nascidos de mulheres que engordaram muito durante a gestação com o de seus irmãos, gerados após suas mães terem se submetido a cirurgias bariátricas. O resultado foi impressionante. “Vimos que os irmãos tinham herdado os genes da obesidade, porém a taxa de obesos entre os que nasceram após as mães terem feito a cirurgia para perda de peso foi 52% menor”, disse Kral à ISTOÉ. Ele e sua equipe agora investigam os mecanismos intrauterinos atuantes nestes casos. “Uma hipótese é a de que a nutrição exagerada alteraria a função de alguns genes do feto”, diz o especialista.



O excesso de peso materno também pode estar relacionado ao aumento de risco de a criança tornar-se mais vulnerável à alergia, à asma e a doenças neurodegenerativas, como doença de Alzheimer e doença de Parkinson. Essa indicação foi dada por pesquisas com animais feitas na Duke University (EUA).

“Nossa esperança é de que estes dados levem as mães a considerarem as consequências do que ingerem não apenas para a própria saúde, mas para a saúde dos filhos e, potencialmente, até dos netos”, afirmou Staci Bilbo, do Departamento de Psicologia e Neurociência da instituição americana e participante do trabalho. “Hoje se estima que a boa alimentação da mãe afeta não apenas o filho como as próximas duas gerações”, diz a nutricionista funcional Patrícia Davidson, do Rio de Janeiro. Diante dessas evidências, os médicos começam a ressaltar a importância do emagrecimento para a mulher que deseja ter filhos e que está acima do peso.

“A indicação para essas mulheres é fazer a cirurgia bariátrica pelo menos um ano antes de engravidar”, afirma Thomas Szego, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.

Se o acúmulo de peso é um problema para a criança, o inverso também é verdadeiro. Bebês nascidos com baixo peso têm, por exemplo, um maior risco de apresentar doenças cardíacas na idade adulta. “Essa relação está comprovada”, disse à ISTOÉ a epidemiologista Janet Rich-Edwards, do Women’s Brigham Hospital, em Boston, nos EUA. E o que as pesquisas estão demonstrando é que várias das causas para o nascimento de crianças com peso abaixo do normal estão relacionadas às condições da mãe.

Fumo e depressão não tratada na gravidez, por exemplo, podem resultar em bebês magros demais. Outra razão é a adoção de uma dieta pobre em nutrientes importantes. Quando isso acontece, o feto deixa de receber ingredientes necessários à formação correta dos tecidos. A consequência é que acabam sendo priorizados o desenvolvimento de alguns órgãos, como o cérebro, em detrimento de outros.

Sabe-se também que a alimentação materna pode ter impacto na chance de a criança vir a desenvolver câncer. “Dependendo de sua qualidade, a nutrição da mãe pode produzir células geneticamente instáveis e propensas à doença”, disse à ISTOÉ David Barker, da Universidade de Southampton, na Inglaterra. Um dos principais vilões, neste caso, são os embutidos. “Eles apresentam em sua composição uma substância carcinogênica que pode atuar sobre o feto”, explica a nutricionista Elaine de Pádua, de São Paulo.

Porém, o risco para o bebê não está apenas na dieta equivocada. Se a gestante fumar, usar drogas ou tomar antibióticos inadequados, também deixará o feto mais vulnerável à enfermidade. “E há evidências de que a exposição da grávida a inseticidas aumenta as chances de tumores renais”, afirma a oncopediatra Viviane Sonaglio, do Hospital do Câncer de São Paulo.




Presente no cotidiano da maioria dos moradores das grandes cidades, a poluição é considerada um dos maiores inimigos da evolução saudável dos fetos no ambiente uterino. Diversos trabalhos feitos pela equipe do Children’s Environmental Health, da Universidade Colúmbia, nos EUA, mostram que, além de aumentar os riscos de câncer de modo geral, os poluentes emitidos pela queima de combustíveis por veículos, pesticidas ou pelo fumo passivo estão ligados a problemas de desenvolvimento do raciocínio dos pequenos.

Uma investigação feita com crianças de 3 anos de idade, nascidas de mães expostas a constante poluição atmosférica, indicou atraso em funções cerebrais como a compreensão dos tamanhos, a habilidade para fazer contas e a identificação de padrões bastante simples. “Esses resultados têm se repetido nos estudos em andamento em vários países”, disse à ISTOÉ Julia Vishnevetsky, coordenadora do centro de pesquisa da instituição americana. “As crianças que já manifestam algum déficit de cognição originado quando ainda estavam no útero da mãe poderão ter pior desempenho escolar quando forem mais velhas, se nada for feito. Mas os danos podem ser revertidos se houver uma intervenção precoce”, diz a especialista.



Outro fator comum ao estilo de vida atual e extremamente nocivo é o estresse. Há indicativos de que ele seja capaz de produzir sequelas físicas e mentais no ser em formação. Um exemplo é aumentar a predisposição do bebê à asma, como atestou um estudo americano feito com 557 famílias. Os cientistas analisaram o cordão umbilical dos filhos das mulheres submetidas a tensão intensa e contínua com o das crianças geradas por mães mais tranquilas. “Vimos diferenças importantes na produção de substâncias associadas ao risco de asma na vida adulta”, disse Rosalind Wright, uma das autoras da pesquisa. “Nos bebês gerados por mães estressadas, a chance de surgimento da doença era muito maior”, disse a estudiosa.

Tão forte quanto isso é o impacto do estresse da mãe na formação de toda a rede de neurônios do bebê. “As experiências emocionais da mulher durante a gestação ajudam a moldar a arquitetura do cérebro do bebê. Isso, a longo prazo, vai afetar a capacidade de aprendizagem, o comportamento e a saúde mental da criança”, considera a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora do livro “Nós Estamos Grávidos”.

Um dos assuntos que mais interessam aos pesquisadores nessa área de investigação é entender melhor como o estresse materno pode predispor o bebê a maior chance de vir a sofrer de depressão quando adulto – situação que começa a ser apontada em alguns trabalhos. Um deles foi realizado, em animais, na Escola de Farmácia da Hebrew University of Jerusalem. Nos seus experimentos, os cientistas observaram que as cobaias submetidas a ambientes estressantes (ouviam sons irritantes em períodos alternados) tiveram filhotes que, quando adultos, demonstraram alguns prejuízos importantes: tinham debilitada sua capacidade de aprendizado e de memória, apresentavam menor habilidade de lidar com situações adversas e manifestavam sintomas de ansiedade e de depressão.

Na Inglaterra, pesquisadores do Imperial College of London chegaram inclusive a montar, no ano passado, uma exposição dirigida a pais para informá-los sobre a conexão. O objetivo era deixar bem claro que o estresse da gestante pode ter um impacto tão sério a ponto de alterar o desenvolvimento cerebral da criança, deixando-a suscetível à enfermidade.



No entanto, muita coisa ainda precisa ser descoberta sobre como se dá esse tipo de interação. Parte da resposta estaria na exposição do feto aos hormônios desbalanceados da mãe. Sob condições de tensão constante, todos nós produzimos quantidades excessivas do hormônio cortisol, inclusive a gestante. E o excedente passaria através da placenta e chegaria ao feto, provocando mudanças na sua rede neuronal que podem estar associadas ao surgimento da depressão na vida adulta.

Todas essas descobertas têm reforçado a importância do pré-natal como um período fundamental para garantir a saúde futura do bebê que está sendo gerado. De acordo com o ginecologista Nilson Melo, presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, o mínimo necessário são sete consultas, distribuídas do primeiro ao nono mês. “É o melhor investimento na dupla mamãe-bebê e na saúde das fu­turas gerações”, diz o especialista.

Fonte: Revista ISTOÉ



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