Saúde
Os adoçantes artificiais e a resposta cerebral ao doce
Para aqueles que seguem o blog com atenção, não é novidade nenhuma que os adoçantes artificiais não são solução, se é que não são eles próprios um problema. Os nosso organismo não se deixa enganar com facilidade, e pode até sofrer uma desensibilização que desacopla a percepção do sabor doce da chegada de energia disponível [link]. O que que isto quer dizer? O sabor doce é um sinal de chegada de calorias, e o corpo responde a esse sinal com um aumento da taxa metabólica, secreção de hormonas, indução de saciedade, etc. Se o organismo recebe repetidamente esses sinais, mas com um aporte energético nulo (adoçantes artificiais), eventualmente a resposta é inibida mesmo com o açúcar normal, o que nos torna incapazes de controlar a ingestão em refeições subsequentes. Existem vários estudos que apontam nesse sentido, e agora surge mais um no Journal of Physiology [link]. Segundo os dados apresentados, o açúcar, mas não os adoçantes, são capazes de estimular a dopamina, neurotransmissor de prazer e recomenpensa. A disrupção deste mecanismo no cérebro pode levar a um aumento da ingestão espontânea por menor "satisfação", associada essencialmente ao valor calórico e não tanto ao sabor doce.
O açúcar é um alimento "gratificante", e todos nós sabemos isso de alguma forma. A sus ingestão eleva os níveis de dopamina, uma neurohormona de prazer. Mas a verdade é que não é o "doce" em si que provoca a libertação de dopamina, mas a forma como a glicose é metabolizada em energia no cérebro. É aliás essa a razão pela qual as pessoas com resistência à insulina têm uma menor resposta da dopamina, e isso aumenta a ingestão expontânea de açúcar [link]. Precisamos de mais para ficarmos satisfeitos e retirar o prazer dos nossos doces.
O que se verificou no estudo que vos falo é algo muito semelhante. Os adoçantes artificiais não favorecem a resposta normal da dopamina, o que pode levar à necessidade de ingerir mais açúcar posteriormente. Isto porque, como vimos, a percepção da chegada de energia está dissociada do sabor doce. Implica especificamente que ingerir produtos com adoçantes artificiais num estado de fome, exaustão ou ansiedade pode provocar um relapso subsequente, com escolhas mais calóricas e gratificantes.
Não restam grandes dúvidas de que os adoçantes artificiais são tudo menos solução, e não precisamos ir para a eventual toxicidade associada. Eles interferem com a regulação da nossa homeostase energética e resposta às refeições. É discutível o que será melhor: um pouco de açúcar ou adoçantes. Eu diria para evitar ambos, mas em certas situações até poderia favorecer o açúcar. Prefiro que meta meio pacote de açúcar (3-4 g) no café do que adoçante. Pelo menos o "doce" está associado a energia, e o aporte é perto de insignificante. Mas ainda bem que eu só gosto dele puro, e quanto mais amargo melhor! :)
Artigos complementares:
- Porque deve evitar os adoçantes artificiais
- O lado mais amargo dos adoçantes artificiais
- A resistência à insulina diminui a resposta da dopamina ao açúcar
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