Saúde
Pensa que a lipoaspiração é solução? Pense outra vez...
Desde os anos 70 que a lipoaspiração é a cirurgia estética mais comum, muito recorrida por quem a pode comportar e não está disposto a esforços extra para conseguir o corpo que deseja. Outras vezes serve apenas para retocar algumas áreas mais problemáticas que a dieta não consegue eliminar. Embora muitas vezes nos seja dito que o processo é permanente, há sempre alguém que conhece um caso em que a gordura voltou pouco tempo depois, mesmo com cuidados a nível de alimentação. Um estudo recente de uma equipa Norte-Americana demonstra que até 1 ano após intervenção, os níveis de gordura corporal retornam ao estado inicial mas redistribuídos por outras regiões.
Dados preliminares da equipa do Dr. Teri Hernandez apontavam já nesse sentido e eram corroborados por estudos em modelos animais. Os resultados parecem ser temporários e o tecido adiposo redistribui-se em poucas semanas após lipoaspiração. No entanto, faltavam ensaios prospectivos em humanos, uma lacuna que os investigadores se propuseram a colmatar. A hipótese inicial postulava que após lipoaspiração, haveria um retorno à mesma percentagem de gordura corporal, acompanhada por uma redistribuição noutras áreas do corpo. Uma hipótese que de facto se verificou nas mulheres submetidas ao procedimento.
Embora a lipoaspiração tenha tido os resultados cosméticos desejados a curto prazo, a composição corporal retornou ao estado basal no espaço de um ano. A gordura reacumulou-se preferencialmente na zona abdominal, quer tenha sido removida aí ou não, e em menor extensão nas ancas, coxas (os dois locais de onde mais gordura foi retirada), ombros e trícepes. Embora a gordura abdominal seja um factor de risco cardiometabólico, a equipa não verificou uma deterioração em parâmetros como a adiponectina, triglicéridos e insulina.
A principal conclusão do estudo é não só que a composição corporal em equilíbrio é restaurada, como que essa gordura se acumula preferencialmente na zona abdominal. Assim sendo, é expectável que a longo prazo essa gordura possa exercer efeitos metabólicos indesejados que a curta duração do ensaio não permite descortinar. No entanto, interessa também distinguir se se trata de tecido adiposo visceral ou subcutâneo, dois tipos de gordura com efeitos bem distintos.
Mas a meu ver este trabalho tem implicações bem mais profundas do que as exploradas pelos autores. Fica bem patente o controlo neurohormonal apertado a que a massa gorda está sujeita. A remoção cirúrgica de tecido adiposo acciona mecanismos compensatórios que asseguram o retorno ao estado basal de equilíbrio. Homeostase em toda a sua plenitude. É por isto que não é tão fácil emagrecer quanto se imagina (pelo menos quem nunca tentou). Não é uma simples equação termodinâmica, mas um jogo neuroendocrino viciado em que o organismo terá sempre vantagem. Só entendendo estes processos é possível minimizar os factores inatos e conseguir uma perda de peso permanente que corresponda a um novo estado de equilíbrio e não a uma fase transitória e insustentável a longo prazo.
Portanto, se estava a pensar que a lipoaspiração resolvia os seus problemas, pense outra vez. Tratam-se de resultados efémeros que muito dificilmente irão ser mantidos a longo prazo. Perca nas ancas e coxas, ganhe na barriga, ombros e trícepes. Será preferível do ponto de vista estético?
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