A respiração é uma função vital e consiste no fornecimento de oxigênio ao sangue e daí para as células e tecidos, trazendo no retorno o gás carbônico, que é eliminado pelo organismo. As vias respiratórias, em toda sua extensão - desde o nariz até os pulmões, constituem um trajeto nobre, onde o ar é conduzido, aquecido, umedecido e condicionado para sua chegada à parte pulmonar. Além disso, o aparelho respiratório também participa de outras inúmeras funções, como: fonação, paladar, regulação térmica e hídrica, funções metabólicas, etc. sem contar que é um importante mecanismo de defesa contra eventuais agressões que possam penetrar no organismo através do ar inalado na respiração.
Por tudo isso, o aparelho respiratório está particularmente exposto às agressões do ambiente e pode sofrer mais freqüentemente os efeitos da poluição atmosférica. Na realidade, qualquer pessoa saudável pode sentir os efeitos da poluição atmosférica, mas os alérgicos, portadores de asma ou rinite, sofrerão mais, porque essas doenças se acompanham de um processo inflamatório crônico no trato respiratório,.
É sabido que a prevalência das doenças alérgicas aumentou de forma significativa nas últimas décadas e uma das causas que contribuíram para este fenômeno é a poluição atmosférica. Os poluentes funcionam como irritantes da mucosa respiratória, permitindo maior penetração de alérgenos (substancias que causam a alergia) no organismo. Estudos científicos recentes demonstram que partículas poluentes podem atuar aumentando o poder sensibilizante dos alérgenos, agravando a doença.
Além disso, os poluentes do ar provocam ou acentuam uma inflamação na mucosa dos brônquios, que faz o indivíduo produzir mais secreção, e diminuem a ação dos mecanismos naturais para a sua eliminação. Essa secreção acumulada favorece as crises de asma e as infecções respiratórias.
Maimônides, médico que viveu no Cairo por volta de 1100 DC, em seu “Tratado de Asma”, já descrevia: “O ar da cidade é estagnado, turvo e denso; é o resultado natural de seus grandes edifícios, ruas estreitas e lixo. Ventos levam o ar para dentro das casas e muitos ficam doentes com asma, sem se aperceberem disso. A manutenção do ar limpo é a primeira regra para preservar a saúde do corpo e da alma”.
Existem vários fatores do ambiente em que vivemos que podem atuar sobre o trato respiratório, principalmente em pessoas susceptíveis, gerando doença. Agentes biológicos, condições climáticas e poluição atmosférica são alguns exemplos. Considera-se como poluição não apenas as alterações que ocorrem no ar atmosférico (poluição extradomiciliar) como também os fatores que existem dentro de nossas casas e no ambiente de trabalho (poluição intradomiciliar).
FONTES DE POLUIÇÃO DENTRO DE CASA (Intradomiciliar)
O advento do progresso, o maior conforto doméstico; aliados ao aumento da violência urbana, fazem com que as pessoas passem mais tempo em suas casas. As residências se modificaram, tornando-se menores, menos arejadas, mais devassadas, necessitando de cortinas e outros adereços como os carpetes e tapetes, resultando em melhores condições para o desenvolvimento de ácaros.
As principais fontes de poluição dentro de casa ou no ambiente de trabalho que podem causar dano ao organismo humano e provocar doenças, em especial no aparelho respiratório, são: fumaça de cigarro, gases de cozinha, lareiras, compostos voláteis contidos em produtos manufaturados: produtos de limpeza, produtos em aerossol, preservativos de madeira, pisos, tintas, solventes, colas, etc. Além disso, citam-se também fatores biológicos, como a poeira, ácaros, fungos, epitélios animais, baratas, etc.
O monóxido de carbono (CO) é um gás resultante da queima de gás de cozinha e de gasolina ou diesel. Pode ser liberado por aquecedores a gás e fogões, e ser encontrado também em garagens fechadas com veículos em funcionamento. Pode exercer ação deletéria para o organismo, e levar à morte em poucos minutos. Alguns tipos de fogão a gás geram níveis significativos de dióxido de nitrogênio, um outro gás que não é mortal, mas pode alterar a função pulmonar de asmáticos, piorando sua doença.
A inalação da fumaça do cigarro é uma grande causa de indução e/ou agravamento de doenças respiratórias, pois exerce ações danosas sobre o aparelho respiratório. Quando os pais fumam, as crianças ficam expostas à fumaça e tornam-se fumantes involuntárias. Estudos científicos comprovaram que as doenças respiratórias são mais agressivas em crianças tabagistas passivas. Especialmente, quando a mãe é fumante, seu filho tem mais chance de ter asma que os filhos de mães não-fumantes.
É consenso que se deva evitar a exposição à fumaça de cigarro na gravidez e em lactentes mas é preciso também conscientizar os pais sobre os perigos do fumo junto aos seus filhos, em qualquer idade.
Os efeitos da exposição à poluição doméstica podem surgir imediatamente ou levar anos até se manifestar e dependem de vários fatores, como idade, sensibilidade individual e doenças pré-existentes. Idosos e crianças são mais susceptíveis pois passam maior parte do tempo no domicílio, além de possuírem características imunológicas próprias que contribuirão para este fato. A poluição dentro de casa, que muitas vezes não é lembrada nem valorizada, é tão agressiva para a saúde quanto a poluição atmosférica. Se não podemos atuar na qualidade do ar das cidades, certamente é possível atuar em nossa própria casa, embora o ambiente domiciliar também dependa em parte da qualidade do ar externo.
POLUIÇÃO AMBIENTAL (extradomiciliar)
É definida como o acúmulo atmosférico de substâncias em um grau que torna o ar prejudicial a humanos, animais e plantas. De acordo com critérios internacionais, são considerados poluentes atmosféricos: Dióxido de enxofre (SO2), Dióxido de nitrogênio (NO2), Ozônio (O3), Chumbo, Monóxido de carbono (CO), além de material particulado que fica em suspensão no ar. Podem causar problemas de saúde mesmo quando em faixas adequadas de concentração. Em regiões industrializadas, ou com grande tráfego de veículos, a situação é pior.
As principais causas de poluição ambiental são: tráfego intenso de veículos motorizados e fábricas industriais. Os primeiros, pela combustão de gasolina, diesel, álcool, emissão de Carter, pneus, emissão evaporativa etc. As fábricas também queimam combustíveis derivados do petróleo, emitindo fumaças poluentes por suas chaminés. A queima de resíduos a céu aberto é outro importante foco de poluição atmosférica. Todos esses produtos da queima de combustíveis são ricos em materiais particulados e gases poluentes: dióxido sulfúrico, dióxido de nitrogênio - que contribui para gerar o ozônio - monóxido de carbono e gás carbônico.
Diversos estudos médicos procuram correlacionar o efeito dos poluentes atmosféricos, comparando as flutuações de suas medidas com as taxas de atendimento de pacientes por problemas respiratórios em locais de emergência e hospitais. Está comprovado que as alterações nas concentrações dos poluentes podem provocar doenças respiratórias em pessoas susceptíveis. Nos dias de poluição mais intensa, registram-se maior quantidade de crises de asma em serviços de emergência.
Sabe-se que os alérgicos, quando entram em contato com a poluição atmosférica, amplificam a reação alérgica, aumentam a hiperreatividade dos brônquios, ou seja, reagem com mais facilidade às infecções virais e aos alérgenos, como os ácaros.
A rinite alérgica também pode piorar com a poluição, cursando com obstrução nasal intensa e mais secreção. Ao respirar com a boca aberta, pode haver uma piora do quadro asmático pela inalação do ar seco, frio e poluído. Como exemplo seria a realização de exercícios físicos intensos (corrida, ciclismo, etc) em áreas poluídas.
Em alguns locais no Brasil, persiste o costume de atear fogo na vegetação seca de terrenos baldios, de praças não urbanizadas e nos resíduos vegetais resultantes da poda de árvores e capina. As cidades e regiões localizadas próximas à plantações de cana de açúcar sofrem com a queima da palha, o que gera uma combustão rápida de um volume enorme de matéria orgânica. Um agravante é que esta queima costuma ser feita nos períodos que coincidem com seca e temperaturas mais baixas, sabidamente prejudiciais ao sistema respiratório. Em outras palavras, às condições atmosféricas naturalmente desfavoráveis, somam-se estas queimadas em canaviais, como causa importante no desencadeamento e agravamento das doenças respiratórias.
Efeitos da poluição
- AGUDOS OU IMEDIATOS: irritação dos olhos, nariz e garganta, cefaléia, tonteira e fadiga, podendo se confundir com resfriados e dificultar o seu reconhecimento. Crises de asma nos alérgicos e piora dos sintomas de bronquite crônica nos fumantes.
Algumas vezes o tratamento se restringe a eliminar (se possível), a exposição à fonte poluidora.
- CRÔNICOS OU TARDIOS: são mais graves e se manifestam lentamente, alterando progressivamente as defesas do organismo, gerando ou agravando doenças relacionadas direta ou indiretamente, com a poluição ambiental. Pode haver uma piora progressiva das doenças respiratórias, do tipo da asma, bem como um aumento do número de pessoas com alergia respiratória (asma ou rinite) nas áreas com o ar mais poluído.
Qual seria então a solução?
O ponto principal é a prevenção: cabe às autoridades, que levem o tema a sério, instituindo leis mais atuantes e trabalhando efetivamente para combater o problema. Aos médicos, cabe orientar e informar os aspectos nocivos da poluição para a saúde de todos, mas em especial às crianças e idosos, vítimas frágeis e mais predispostas a problemas respiratórios. A todos nós, em geral, cabe participar das lutas por mudanças na legislação ambiental, fiscalização das fontes poluidoras, etc. Mas também, colocar em prática medidas ao nosso alcance, como regular melhor o motor do carro, evitar o tabagismo e outras, que vistas individualmente podem ser pequenas, mas que somadas uma a uma, poderão resultar em ganhos para todos.
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