Saúde
Porque uma dieta "variada" pode minar o seu objectivo de perder peso
Um dos princípios que a maioria dos nutricionistas convencionais aplica nos seus planos alimentares é a variedade. Incluir um leque alargado de alimentos e variar as refeições ao longo do dia e da semana. Embora entenda perfeitamente o objectivo, fornecer uma ampla gama de nutrientes e evitar carências, e até concorde em princípio, considero que é contraproducente quando o objectivo é perder peso. Neste breve artigo, que prevejo bastante polémico, irei tentar explicar porque deve manter uma dieta algo restrita e até monótona para potenciar os seus resultados. Mas para compreender este conceito, é importante que leia o artigo ate ao fim!
A sociedade moderna é caracterizada pela abundância e variedade. Uma variedade enorme de paladares e alimentos que são como fogo de artifício para os nossos centros sensoriais. É já sabido que uma grande variedade de alimentos no prato aumenta a ingestão calórica, favorecendo uma série de estímulos recompensantes diferentes que atrasam a saciedade. Da mesma forma, sabe-se que indivíduos obesos são mais susceptíveis aos efeitos da variedade na ingestão calórica numa refeição e que aumentar a gama de alimentos é uma boa estratégia para quem tenta ganhar peso.
Em psicologia e ciências do comportamento existe um fenómeno conhecido como "habituação". Trata-se de uma forma de "aprendizagem" em que se verifica uma diminuição da resposta provocada pela exposição repetida ao estímulo. Já vimos que a variedade numa refeição pode atenuar o processo de "habituação" a curto prazo, mas um estudo de 2011 [link] mostrou pela primeira vez que a exposição repetida a uma mesma refeição reduz consideravelmente a ingestão calórica expontânea. O trabalho, liderado por Leonard Epstein da Universidade de Buffalo, analisou o consumo alimentar de mulheres obesas e não-obesas que receberam uma refeição de macarrão com queijo todos os dias durante 5 dias, ou uma vez por semana durante 5 semanas. As mulheres no grupo que ingeriu a mesma refeição em 5 dias consecutivos reduziu espontaneamente a quantidade de alimento, independentemente de ser obesa ou não. O grupo com maior variedade de escolha, que ingeriu a refeição teste apenas uma vez por semana, não alterou o padrão alimentar. Na verdade, até se verificou uma tendência para aumentar a ingestão.
Os resultados deste estudo mostram precisamente o fenómeno de "habituação" a um estímulo repetido num curto espaço de tempo, consecutivamente. Promover a "habituação" servindo repetidamente as mesmas refeições parece promover uma redução espontânea na ingestão calórica ao longo do tempo. Ora, isto é precisamente o contrário da prática corrente, baseada num princípio de variedade de estímulos providenciados por múltiplos alimentos. É muito comum ver planos alimentares com diferenças substanciais entre os dias da semana e até com um grande número de alimentos diferentes numa mesma refeição. No paradigma das ciências comportamentais e de alguns estudos como este, esse princípio é contraproducente para perder peso.
A variedade em escolhas alimentares apelativas parece ser importante a determinar se a "habituação" e tolerância pode ou não desenvolver-se. Mas no nosso ambiente alimentar moderno, a monotonia é rara ou inexistente. É natural que um estímulo repetido se torne cada vez menos gratificante. Comer a mesma coisa consecutivamente reduz o prazer associado à refeição e, em consequência, diminui a quantidade ingerida de forma espontânea. Quem já não teve aquela sensação de "estou farto de comer isto"? O que não é necessariamente mau...
Quem anda por dentro do mundo do fitness e culturismo sabe o quanto as dietas são monótonas. Por mais errado que isto possa parecer à corrente tradicional do "nutricionismo", é assim que tem de ser se queremos potenciar os resultados. Manter um leque de alimentos restritos e comer as mesmas refeições, ou muito parecidas, repetidamente permite um maior controlo da dieta, maior saciedade, e torna-se muito mais prático no dia-a-dia. A marmita faz parte do negócio e assim é possível cozinhar várias refeições ao mesmo tempo e ter tudo pronto de forma a não falhar na hora de comer. Sem pensar sequer mais no assunto e no que vai ser o almoço. A dieta ganha um automatismo que facilita grandemente o processo.
Certamente que alguns de vós estarão a pensar em possíveis carências nutricionais com uma dieta tão restrita. Não concordo. Isso seria certamente provável no enquadramento do uma dieta Ocidental típica ou do plano da bolacha Maria e leitinho. Ou para aqueles que sobrevivem à base de suplementos nutricionais substituindo refeições. Nunca de uma dieta constituída por alimentos "a sério", tal como aquela que deveria ter. Uma alimentação à base de peixe, carne, ovos, vegetais, oleaginosas, frutos, tubérculos, azeite, e talvez até algum arroz, é naturalmente rica em todo o espectro de nutrientes necessários ao organismo. Em alguns casos no entanto é aconselhável a suplementação com um multivitamínico, especialmente em regimes hipocalóricos para perda de gordura com um grande desgaste físico. Menos quantidade ingerida, menos nutrientes providenciados. Aqui eu opto pelos produtos da Life Extension ou Douglas Laboratories. São suplementos muito completos e que contêm doses fisiológicas (e não adequadas para elefantes) das vitaminas e minerais, em formas altamente biodisponíveis.
Concluindo, uma "dieta variada" é um conceito muito bonito e romântico, e até com sentido numa dieta pobre como a convencional, mas que na prática não funciona assim tão bem quando o objectivo é optimizar a composição corporal. Para mais quando essa variedade é de produtos altamente apelativos como a famosa bolacha maria, alimentos light com substitutos do açúcar [link], entre outras coisas que fazem da "dieta" um prazer. Nós não precisamos que os alimentos sejam "gratificantes". Para isso que se faça uma cheat meal esporádica. Precisamos sim que os alimentos sejam funcionais. É preferível manter um template, alternando apenas no tipo de vegetal, fruta, ou proteína incluída na refeição, sem nunca exagerar na variedade de alimentos presentes no prato. Isto não significa comer sempre a mesma coisa, mas limitar o número de estímulos distintos a que estamos expostos e tornar a nossa vida mais prática. Porque no final, o que conta são os resultados...
-->
loading...
-
Dicas Para Fazer Melhores Hábitos Alimentares
Ao "comer devagar" não significa que você pode esculpir uma fatia de tomate ou menos. Mas aprender a mastigar os alimentos contribui mais para se manter saudável e em forma. Tudo o que você já ouviu o velho conselho de que comer devagar nos ajuda...
-
Qual O Déficit Energético Que Devemos Criar Em Dieta?
Quando o objectivo é perder gordura e preservar massa muscular, a sabedoria convencional diz-nos para fazer cortes ligeiros no aporte calórico de forma a preservar massa magra e assegurar uma perda de peso sustentável no tempo, sem comprometer o bem-estar...
-
"estômagos Obesos" E Indução De Saciedade
Hoje tempo apenas para uma pequena notícia de um estudo recente em ratinhos sobre sobre saciedade [link]. A capacidade de uma refeição induzir saciedade varia muito de pessoa para pessoa, e os obesos têm regra geral uma resposta atenuada. Grande...
-
Dietas Restritivas Aumentam O "valor De Recompensa" Dos Alimentos
Quando falamos em dietas de restrição calórica para redução e manutenção do peso a longo prazo os estudos são claros: a eficácia é limitada, sejam elas low-carb ou low-fat. Independentemente das nossas crenças, isto é o que a ciência nos...
-
O Tédio é A Chave Do Sucesso?
Num editorial da edição de Agosto do The American Journal of Clinical Nutrition, Nicole Avena e Marc Gold sugerem que a vida moderna apresenta muitas escolhas deliciosas às refeições. Demasiadas para pessoas que respondem à comida como se fosse...
Saúde