Uma reportagem publicada num jornal local chamado The Chieftain com John Walker ilustra alguns dos problemas que nós, pacientes, enfrentamos.
Primeiro, a necessidade de trabalhar com testes mais exatos, com menos falsos positivos e falsos negativos. O PSA ainda é o melhor, acreditamos muitos, considerando tudo: margem de erro, custo, ausência de efeitos colaterais, possibilidade de acompanhamento etc. Mas permite erros, razão pela qual necessitamos de mais e de melhores testes de fácil aplicação.
Walker tinha muitos sintomas e um PSA invejável, de 0,8, baixíssimo. Com um PSA tão baixo, o risco de portar um câncer é mínimo, mas não é zero. Como os sintomas continuaram, foi feita uma biópsia que revelou um câncer agressivo, com um escore Gleason de 8. Walker era um dos raríssimos falsos negativos nesse nível tão baixo do PSA. Porém, risco mínimo não é certeza.
O segundo problema também é enfrentado por pacientes, mas, nesse caso, pela maioria. Os médicos são cegos que só enxergam através da sua especialização. Eu vivi isso: um cirurgião recomendou cirurgia; um radiólogo recomendou radiação e assim por diante. Há dados mostrando que os médicos, em gigantesca maioria (próxima a 90%) recomendam o tratamento da sua especialidade. O que isso significa? Que você, meu colega de sofrimento como paciente de câncer da próstata, não conta. Nós não existimos nesse mundo da cegueira médica. Quando o diagnóstico e o tratamento são pré-determinados, independentemente dos pacientes e de suas características, a medicina foi para a sarjeta. Walker, felizmente, teve o bom-senso de consultar diferentes especialistas e facilmente concluiu que estava terrivelmente só, em plena solidão no meio daquela multidão de cegos vestidos de branco. E procurou se informar, equilibrando os sectarismos com que se deparou. Fico pensando em quantos pobres-coitados só consultam um médico e são empurrados por um caminho que é o mesmo, independentemente das características do pacientes.
Walker se informou e tomou sua decisão. Optou por um tratamento com prótons. Oremos por ele e oremos por todos nós.
GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ